Harry saltou do carro, esquecendo as flores no banco do passageiro, nuances multicoloridos lhe contornavam a face, e Louis sorriu ao pegar na mão dele para que se aproximassem juntos da entrada do local, onde uma placa vermelha gritava em letras informais dizeres de bem vindo.

–– Parece bem cheio. –– Louis comentou ao analisar alguns vendedores com fantasias vergonhosas que faziam até mesmo as crianças, recuarem desconfiadas e curiosas sobre o que aquele amontoado de roupas pretendiam representar, talvez um gato velho e enrugado. Louis torceu o nariz, desviando o olhar ao irem adentrando o parque gradualmente.

–– Aqui sempre estará cheiro. É maravilhoso. Todos os dias. Está nesse ritmo desde minha infância, minha mãe adorava me levar para a roda gigante, ver tudo de cima e... ver. –– soprou a última palavra, sentindo a melancolia lhe embalar na paisagem cinza apresentada para si, inversa a alegria de todos. E o sorriso estava esticando seus lábios, porque Harry era experiente em ser inverso ao esperado. Ele era a personificação do contraposto, se a tristeza o forçasse para suas profundezas sombrias, a luz da gratidão orientaria-o a flutuar e emergir acima mais uma vez. –– Você irá gostar, temos um bonito céu, a paisagem deve continuar incrível.

–– Então, nossa primeira parada, roda gigante.

E Louis marchou até a alta e azulada roda gigante, de um tamanho descomunal, tinha dois bancos por vez, em seus ferros bailavam a maior concentração de luzes brilhantes, revezando e mudando sua coloração em curtos espaços de tempo, embora seguisse um ritmo repetitivo. As cores urravam animação desmedida que contagiava aos poucos, Louis se deixou vivificar-se, ele precisava estar empolgado, se divertir, sentir a espiritualidade levar para longe suas preocupações. Então, ele realmente estava quase saltitando quando compraram os bilhetes, para duas voltas de cinco minutos. Harry observava os entrelaçados de sorrisos desconhecidos e murmúrios que vinham das extremidades, pois era isso que surtia efeito em seu interior do sentir, as reações eufóricas e contentes dos arredores, isso lhe inflama alegria, a felicidade estampada em faces que sumiam dentre as pessoas que também estavam felizes.

Porque, na verdade, sem nem ao menos percebermos, a atmosfera que nos circunda inflinge, provoca, suscita nosso humor.

E eles localizavam-se sofrendo dessa decorrência, mesmo que recebessem a energia que os orlavam, de maneiras unânimes e individuais.

Ambos se acomodaram na cabine do brinquedo quando abriram-na para que entrassem.

Era incrível, honestamente.

Nos primeiros metros acima, numa velocidade vagarosa que escorregava delicadamente para os ares, Louis já estava encantado. Era possível ver tudo dali, desde a movimentação de pequenos seres nas ruas mal divididas do parque, até o longínquo, onde as luzes fracas de Bibury exceliam, árvores embelezavam com seu toque de natureza e o céu findava o panorama, em insinuações explícitas que o vangloriaram por ser igualmente belo se comparado com a superficialidade dos pontos reluzentes dispersos ao chão. O conjunto, admirável. E quando pararam a dois assentos abaixo do topo, provavelmente para mais alguém entrar, Louis aguçou a visão para com algo borrado que lhe prendeu a atenção.

–– Um lago? –– questionou atraindo o olhar confuso de Harry para si. –– Ali, um lago? –– apontou para o que parecia ser água, numa parte esquerda e distante, alguns metros ao que assemelhava-se ao término do local, pois um muro improvisado dividia-os das águas que ondeavam serenamente.

–– Oh, sim. Um lago, fazia parte do parque. Eventualmente, foi esquecido, as pessoas não vinham até aqui para estragarem roupas e penteados com água fria, então, concordaram em fecha-lo, após uma mulher reclamar por ter sido jogada nele e borrado sua maquiagem. –– Harry revirou os olhos, lembrando do quanto a voz dela era irritante e do escândalo desnecessário que ela fez questão de armar. –– É um lago raso, não passa da cintura. Era minha diversão, naquela época.

Cinquenta tons de Cinza (l.s)Onde histórias criam vida. Descubra agora