chapter three

1.1K 224 120
                                    

Honestamente, à medida que colidimos com adversidades, algumas pessoas inclinam-se em direção ao álcool para esquecer, conversam para se distrair ou preenchem o tempo com qualquer outra atividade que não retenha laços com o que incomoda.

E se, porventura, não houvesse essa opção? E se o seu problema estivesse sempre ali, sendo esfregado na sua cara e não houvesse nada para se fazer quanto a isso. Complicado, certo?

Harry desperta sem cores, passa o dia sem elas, frente a frente, perpetuamente. A falha acabou por tornar-se algo menos relevante, justamente pela obrigação de ter de acostumar-se. Não é por ser positivo ou otimista, é agarrar-se aos pilares da vida e ser sábio para se ajustar a eles, independentemente de julgar dificultoso.

De acordo com que parou de se lamentar, essas nuanças transfiguraram-se para benigno, em vez de aglomerar ódio e decepção, unificavam o bom que restou à sua força de vontade de apreciar este bom.

Lhe foi possível enxergar o universo de uma forma muito mais complexa, sem ofuscar-se pelo tingimento superficial das propriedades, respeitando a real essência visual do mundo: luminosidade, textura, profundidade.

Nem tudo são lados negros, a clareza da vida é delineada por nós.

Já sendo parte de seus hábitos empenhar-se na lúdica adivinhação, entretendo-se ao tentar decifrar quais seriam as verdadeiras cores que enfeitavam aquele quadro, que o convertiam ao belo e especial, que despertavam o encantamento de todos. Assim, cedia vez para a brincadeira mental de análise e comparação de graduações cinzentas com cores que talvez se encaixassem e, em alguns casos, perguntaria a sua mãe se acertou.

Todas as vezes, sim era a resposta.

E quando a questão era dirigida à Desmond, desvendava-se a verdade, ele errou e estava tudo bem, todos erram, não é? Qual a razão de falsear algo tão banal? Talvez Anne só queria o proteger do insucesso, entretanto deveria saber que demonstrar pena e mentir para pacificar sua deficiência, doía ainda mais.

Mas Harry a entende e a admira.

O rapaz nutria fielmente a mania de avivar o mundo, reparar numa árvore, por exemplo, com o acertamento de que seu tronco incorporava do marrom, tornava um tanto mais divertido brincar de colorir. Inclusive, era isto o que fazia naquele exato momento, assistindo Louis escorregar o pincel levemente pelo que julgou ser o céu daquela paisagem. Deveria suster de um azul vigoroso, deduzindo pelo notório realce do líquido que envolvia a ponta do objeto.

Os dois estavam na sombra duma grande árvore, Harry havia ido entregar o casaco da noite anterior e não quis atrapalhar sua nítida concentração, tão evidente que nem mesmo houvera atentado-se na remansada presença, afora de seus pincéis e sua arte.

Styles tirou o óculos escuro de seus olhos, aquela manhã e a sombra o garantiam à ausência de problemas futuros envolvendo luz solar. Tossiu ligeiramente para conseguir atenção, erguendo o casaco quando Louis deu um solavanco e rapidamente o encarou alarmado.

–– Desculpe. –– pediu risonho, Louis puxou a respiração, ajeitando o óculos com vidros transparentes em seu rosto. –– Não quis assustar você.

–– Não foi bem por sua causa, é que há alguns minutos atrás um esquilo quase me mata do coração, e estava meio desconfiado dele voltar. Até tentei uma interação, mas animais não são doces e gentis.

–– Esquilos são tão bonitinhos.

–– Quando ele não confundi suas coisas com comida e tenta te atacar. Aquele bicho estava possuído.

–– Ouch, deve ter sido assustador para alguém do seu tamanho. –– zombou, dando dois passos à frente e delineando um amplo sorriso ao imaginar a cena, no mesmo tempo em que Louis o assassinava com os olhos.

Cinquenta tons de Cinza (l.s)Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang