21 💙 Voar sem Asas

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Primeiro dia de aula do ano

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Primeiro dia de aula do ano. Era estranho ter que voltar depois de tudo que havia acontecido. Parecia ter passado muito tempo. Aquela escola, aqueles corredores, tudo estava completamente diferente. Era possível sentir o clima frio e melancólico que emanava naquele lugar, até mesmo nos rostos das pessoas que nem ao menos sabiam direito sobre o trágico acidente.

Ela quis fugir da realidade.

Era angustiante voltar aquela sala novamente e ver tantas cadeiras vazias e outras, sendo ocupadas por novos estudantes. Júlia não gostava da ideia de pessoas ocupar o lugar umas das outras, mas é o que acaba acontecendo. Por mais que não conhecesse muitos dos colegas que foram vítimas do acidente, sentia a ausência de rostos que costumava ver diariamente.

Uma garota estava sentada na cadeira de Mari, Júlia não a conhecia, deveria ser aluna nova, isso a incomodou.

— Eu sento aqui — falou. Em seguida, observou a garota de cima a baixo. Tinha cabelos pretos e longos, os olhos marcados por lápis de olho. Coturnos pretos, calça jeans colada e a farda da escola, rasgada de lado propositalmente.

— Não estou vendo lugar marcado aqui, que eu saiba, é de quem pegar primeiro — disse a garota, com desdém.

A resposta prepotente da garota convenceu Júlia de que o que estava fazendo era uma bobagem.

— Eu sei, desculpa. É que minha amiga sentava aí.

A garota franziu o cenho e pensou por um minuto.
— Você era amiga de alguns dos alunos que morreu no acidente?

— Sim.

— Ah. — falou. — A morte é imprevisível, mas não é de todo ruim.

— Discordo — disse Júlia, sentando ao lado da garota.

— Mharessa — disse a garota, estendo a mão para Júlia. — Pense bem, não acha que seria extremamente chato se fôssemos imortais?

— Talvez sim, mas acho que não deveria existir mortes tão prematuras. — disse Júlia, estendendo a mão para a menina. — Júlia. 

— Acho que não teria graça nenhuma se soubéssemos como seria o nosso fim — disse.

Júlia pensou por alguns segundos, talvez a garota ao seu lado tivesse razão. Mas ela não conseguia se acostumar ao fato de que tinha perdido sua melhor amiga, e de que Mari, sentia algo por ela.

O professor entrou na sala e antes de começar a aula, pediu para fizessem uma oração pelas famílias das vítimas do acidente. Algumas pessoas que conheciam os alunos choravam, enquanto outros apenas estavam de olhos fechados ou abaixavam a cabeça para fingir que estavam fazendo o que ele pediu. Quando terminou, o professor iniciou a aula de Português, — uma de suas matérias favoritas —, mas que estava sem a mínima vontade de assistir.

Ao final da aula, sentada nos fundos da condução escolar, Júlia fitava a foto do WhatsApp da amiga, no celular. Rolava para cima as conversas, rindo  algumas vezes e tentando encontrar resquícios de seus sentimentos secretos. Não imaginava que Mari podesse gostar dela de uma forma diferente, entendia o porquê de nunca ter lhe contado, pois não sabia como reagiria a situação.

Mais Perto do Que se Imagina (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora