Metamorphose

Mudanças

Não me conheço, nem me reconheço mais.
Não sei quem sou, de onde eu vim, o que eu fiz.
Olho-me no espelho: vejo alguém que nunca vi.
Não lembro o que vivi. Eu vivi? Pois não me lembro.
E se não lembro, logo não fiz.
Sempre pensei assim.

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Mudanças em mim me tornaram alguém que eu nunca imaginaria ser algum dia.
Mudanças repentinas.
Um choque.
Mudanças que eu busquei a vida inteira. Busquei-as incansavelmente.
Estava cansado de viver aquela vida que eu vivia. Aquela vida pisada, uma bela inocência pisada.
Tive que mudar. Tive que inovar. Tive que esquecer. Tive que deixar para trás.
Tive que conquistar o que nunca tive e o que me tiraram.
Meu sossego e toda minha proteção havia sido tomada e simplesmente jogada fora.
No lixo.
Ao ar livre, rondando nas ruas.
Mas se eu tivesse ficado naquela vida que eu vivia e tivesse aguardado melhoras, teria eu visto essas tais melhoras? Melhoras que eu sempre acreditaria que ocorreriam e, até o momento que resolvi mudar tudo, não chegaram? Teriam elas chegado?
Muitas perguntas me faço ao me ver no espelho, vendo esses leves fios grisalhos que apareceram no meu cabelo. A barba e a sobrancelha por fazer, a velha preguiça matinal. A casa vazia, silenciosa, apagada pelo tempo. Tudo mudou ou eu que mudei? Deixei de viver por e pela aparência e me tornei eu mesmo? O fracasso mudou a minha vida?
Perguntas, perguntas, perguntas.
Dou o meu silêncio, assim como o tenho dado todas as vezes que alguém se refere a mim.
Sim, eu não tagarelo mais.
Não faço mais perguntas.
Tenho focado no meu trabalho, tenho focado nas minhas produções, no meu estudo. Assim como no sonho que certa vez tive, ninguém lembra de mim na dificuldade. Então, se eu não pensar em mim, quem pensará?
Foi aí que tudo começou, eu creio.
Não, acho que tem muito mais coisas que me motivaram a me tornar quem hoje eu sou. E eu até agradeço por todas elas. Sou feliz.