Keep Breathing, Naruto

Start from the beginning
                                    

Seus amigos, em especial Kiba e Sakura, fecharam-se ao seu redor como um casulo. Afastavam os colegas inconvenientes, tentavam distraí-lo com conversas e se disponibilizaram para conversar. Naruto ia na onda deles, tentando não os preocupar demais, porém era visível o quanto estava abatido.

Numa tarde, um pouco sufocado pela falsa animação de Ino e Sakura, escorregou para longe delas. Queria só fechar os olhos, caminhar pelo pátio e sentir saudade de Sasuke. Estava distraído, pensando no modo como suas provocações faziam aquele sorriso de canto aparecer no rosto dele, quando entreouviu alguns alunos de outra turma.

Falavam do garoto que se matara, e faziam piada ("toda aquela pose de macho escondia um veadinho louco pra abrir as pernas", "decepcionar o pai dessa forma? Por isso se matou, até ele sabia que ninguém deve ser uma bicha de merda", "ele se matou porque descobriu que estava com AIDS e não aguentou viver com a doença").

Tentou se manter quieto, sabendo que era melhor continuar caminhando. Não aguentou. Naruto simplesmente xingou todos e partiu para a briga. Saiu machucado, conseguiu fugir para uma sala de aula e quebrou meia dúzia de cadeiras (quando na verdade queria quebrar a cara de todos eles). Pegou suspensão de três dias.

Sabia que estava preocupando seus pais. Sentia o olhar de Kushina em sua nuca, sempre por perto; ela entrava em seu quarto pelo menos de duas em duas horas, e quando Naruto passou mais do que meia hora no banheiro, ela faltou derrubar a porta. Minato não era tão invasivo; compreendia a dor do filho (por também a sentir) e o deixava à vontade para desabafar quando quisesse.

O caos caiu naquela casa quando Naruto apareceu todo roxo e com a suspensão. Precisou ouvir sua mãe reclamar que ele não parecia o mesmo, e ela começou a chorar. Isso o quebrou. Ver Kushina chorando lhe doía na alma, e precisou abraçá-la com força e prometer que daria seu melhor para seguir em frente, mas que era difícil.

— Eu não posso perder você também, Naruto.

E isso fez o choro aumentar, porque Naruto estava começando a ter bastante certeza de que já tinha se perdido. Quem é Uzumaki Naruto sem Uchiha Sasuke? Ele não faz a menor ideia e não tem vontade de descobrir.

Quase dois meses depois do velório, Naruto estava apagado. Ia à escola, respondia seus amigos de forma monossilábica e recusava todos os convites de Kiba para sair. Ao chegar em casa, comia o suficiente para que seus pais não reclamassem e depois ficava na cama até o dia recomeçar.

Sua mãe não era a pessoa mais paciente do mundo e não demorou para que ela surgisse no seu quarto, limpando tudo, enquanto brigava por Naruto estar dormindo em um chiqueiro. Não prestava atenção de verdade ao que ela dizia; parecia ver e escutar Kushina de outra dimensão, como se apenas seu corpo estivesse presente. O monólogo irritado parou pela metade. A mãe o olhava indecisa, em sua mão uma blusa escura.

O mundo parou de girar. Naruto se lembrou da primeira vez que pôde tocar o corpo pálido do namorado: ele usava aquela blusa. Naruto o convencera a levar uma camiseta sua e a deixar aquela na sua casa (assim você pode dormir comigo mesmo que eu não esteja aí).

Levantou de uma vez da cama e pegou a blusa. Suas mãos tremiam quando a levou ao seu rosto. Respirou fundo, o cheiro de Sasuke ainda ali, fraco demais para ser marcante, mas o suficiente para lhe fazer perder o fôlego.

Engasgou, perdendo as forças e caindo de joelhos no chão.

Kushina piscou, lágrimas quentes e grossas descendo por seu rosto. Mais do que depressa se ajoelhou ao lado do filho, abraçando-o com todas as suas forças.

— Vai ficar tudo bem, meu menino — murmurou, tentando desesperadamente acreditar nas próprias palavras.

Naruto se lembrou do enterro de Itachi, quando disse as mesmas palavras a Sasuke. Mas nada ficaria bem, nunca ficaria bem. Não o teria mais ao seu lado, não sentiria mais os lábios nos seus, não poderia mais abraçá-lo apertado... não trocariam mais olhares intensos (azuis nos negros, negros nos azuis).

You without meWhere stories live. Discover now