Nos encontramos no estúdio e já estava tudo certo pra iniciarmos a gravação: cenário, iluminação, gente por todos os lados e a Ross linda como sempre, dando uma bronca num cara que nunca tinha visto na vida.

- Não, Michael, não é isso! O diretor quer que seja daquele jeito que te mostrei. Qual a dificuldade de entender?

- Mas aquele cenário está torto! - um rapaz alto, magro, que não parecia ter mas de 20 anos, tentava argumentar com ela.

- Então deixa torto! O diretor pediu assim! - ela se virou pra sair, mas eu estava bem atrás dela – Nossa, que horas você chegou? - ela jogou os braços em volta do meu pescoço e me deu um beijo demorado.

- Chegamos agora. Mas se é pra ser recebido assim, vou chegar de novo.

Ela deu uma risada abafada e me soltou pra cumprimentar meus irmãos. Estávamos animados para começar, apesar de ser bem cedo - 5 da manhã não é hora para começar a trabalhar, mas tínhamos que seguir o cronograma deles - e termos dormido pouco.

A ideia era bem simples: uma mulher que nos seduzia em momentos diferentes e fugia antes de chegar aos finalmente, nos deixando embasbacados, partindo sempre pra outra conquista. Simples e direto, foi isso que gostamos no roteiro. Mas confesso que teria dificuldade em ver ela seduzindo meus irmãos.

O mais difícil foi o começo, não estávamos habituados a fazer isso, mas o diretor e a Ross foram muito pacientes e ajudaram a ficar tudo mais fácil, explicando como funcionava e o que fazer, como fazer. Logo pegamos o jeito. O ponto alto dos nossos dias durante as gravações era ver o Michael, o produtor novo, tentar fazer alguma coisa que parecia estar certa, mas não estava, e a Ross explicando pacientemente - às vezes - que estava errado e qual era a forma correta. Sempre riamos quando ela terminava, porque era sempre igual: ele com cara de confuso e ela bufando exasperada.

Foram 5 dias de gravação. 5 dias intensos. O mais difícil foi o último dia, o diretor quis gravar uma passagem onde nós três iríamos aparecer em momentos diferentes com a Ross quase nos beijando. Vê-la dessa forma com meus irmãos não foi tão difícil quanto eu achei que seria. Estar nessa posição com ela, em frente das câmeras, foi! Porque o diretor sugeriu que eu me deitasse e que ela ficasse por cima de mim.

Eu.

Namorado dela.

Que estou sem sexo há meses.

Em frente às câmeras.

Foi difícil disfarçar.

E meus irmãos, meus próprios irmãos, riam da minha situação!

Quando acabou a cena, eu queria arrastar ela dali e levá-la pro lugar mais escuro que conseguisse encontrar e fazer tudo o que eu quisesse com ela. A noite toda. Várias vezes.

Mas tive que me contentar com um beijo, pois ela logo levantou e foi ver a cena.

O ponto positivo dessa situação? Eu poder ficar com minhas mãos nela sem me preocupar.

Mas a calmaria logo acabou. Depois que acabou a gravação estávamos no camarim organizando as coisas e o Michael entrou dizendo pra Ross que uma pessoa estava lá e queria falar com ela. Sem entender o que estava acontecendo ela foi até a frente do estúdio. Por via das dúvidas, fui também. Chegando lá ela parou de andar e de respirar. Um homem da mesma altura que eu, cabelos escuros e encorpado se virou e abriu um grande sorriso pra ela. Como se fossem íntimos. Instintivamente eu abracei sua cintura e ela se agarrou a mim.

- Ross, você é uma pessoa difícil de se encontrar! - ele tentou dar um abraço nela, que se esquivou, me abraçando mais forte. Ele ficou claramente constrangido, mas não tirou o sorriso do rosto.

- Muito prazer, eu sou Taylor Hanson. Você quem é? - eu disse pra tentar descobrir o que estava acontecendo.

- Mark Vincent. - ele me estendeu a mão, que fiz questão de ignorar.

- Acho melhor você ir embora, não tem nada pra fazer aqui. - nunca ouvi a Ross soar tão brava e esperava nunca mais ouvir.

- A gente precisa conversar, Ross.

- Não temos NADA pra conversar, eu te disse isso quando saí de Nova York. - dava pra perceber que ela se segurava pra não gritar com ele.

- Mas eu vim aqui, atrás de você pra...

- Um pouco tarde demais! - Ross disse isso e eu a puxei um pouco mais pra perto.

- Ok... - ele disse e saiu, mas pelo olhar dele, não estava nada ok.

Quando ele passou pela porta, ela voltou a respirar. E chorar. Eu a puxei de volta pros fundos, onde meus irmãos estavam. Eles nos viram chegando e entenderam que precisávamos ficar sozinhos.

- Aquele era o Mark seu ex, mas o que ele estava fazendo aqui? - eu perguntei quando ela se acalmou.

- Não sei, não sei nem como ele me encontrou. Eu saí de Nola por causa dele, eu não queria que ele me encontrasse. - ela voltou a chorar e me abraçar - Eu não posso ficar aqui. Eu tenho que ir embora.

Ela se levantou e eu segurei a mão dela.

- Você não pode fugir pra sempre. Você vai deixar sua vida parada por causa dele?

- Eu não consigo fazer isso, não consigo encarar ele sozinha. As coisas que ele fez comigo...

Eu fiquei em pé na frente dela com um pulo.

- Se ele encostou a mão em você...

- Não, nada disso. - ela segurou minhas mãos - Acho que se ele tivesse sido violento eu teria visto antes.

Ela deu um suspiro cansado, me fez sentar no sofá, se sentou do meu lado e contou tudo. O que ele fazia, as ameaças, ligações no meio da noite, brigas quando ele achava que ela o traia. Cada coisa que ela contava minha raiva aumentava. Eu queria socar ele.

- Você não está sozinha. E não tem mais que fugir. Eu, suas amigas, minha família, nós vamos te proteger.

Dei um beijo demorado nela. Ficamos assim mais um tempo, até ela se acalmar completamente. Quando saímos meus irmãos nos esperavam para jantarmos. Apesar de não ser nem 19hs, estávamos cansados e com fome, então fomos até um pub que também servia refeições.

Quando estávamos no carro a Ross apertou minha mão e vi nos olhos dela a promessa de que ela iria ficar, que não fugiria mais.

Choices - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora