Ended

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-Então acabou mesmo?. -Bleta perguntou e eu abracei o travesseiro com força.

-Acabou. -Respondi com a voz trêmula.

-Nem uma chance?. -Ela perguntou e eu olhei para ela.

-Bebe, por favor, eu não quero falar sobre a Camila. -Senti meus olhos começarem à marejar.

-Você está muito magoada com ela?. -Assenti sentindo as lágrimas descerem por meu rosto. -Me dá um abraço, vai ficar tudo bem, eu sei que vai. -Afundei meu rosto em seu peito e chorei, chorei como uma criança.

Eu amava as minhas amigas, ainda mais quando elas sabiam me respeitar, entendiam o meu momento, e sempre me davam conselhos que ajudavam com isso.

-Eu acho que nada que eu diga agora, vá mudar algo, mas tenho certeza que se ela gostar realmente de você, ela vai tentar de uma forma conversar contigo, é tudo que ela precisa não é?De uma chance para se explicar, você deve dar essa chance. -Disse afagando minhas costas.

-Quero dar uma chance à mim mesma Bebe, uma chance para esquece-lá. -Ela suspirou fazendo carinhos em meu cabelo e eu apenas afundei o rosto em seu peito.

~~~~~•~~~~~

Eu encarava a chuva cair lá fora, com firmeza, enquanto eu abraçava a almofada com força, encarando a janela, os relâmpagos me faziam tremer, mas nada me tirava daquela sala.

Mamãe estava no andar de cima dormindo com Taylor, e eu estava aqui, fingindo assistir à um filme.

A campainha tocou, e eu sorri, sorri porque eu sabia que eram as meninas com potes de sorvetes e várias pipocas para passar a noite comigo, elas sempre faziam isso quando sabiam que eu estava triste.

Corri para a porta e à abri rapidamente, mas meu sorriso sumiu no mesmo instante em que vi Camila na porta feito um pinto molhado, tremendo por conta do frio e com um buquê enorme nas mãos, não disse nada, apenas à encarei.

-Paixão cruel, desenfreada, te trago mil rosas roubadas, para desculpar minhas mentiras, minhas mancadas. -Citou e eu comecei à chorar, eu comecei à chorar de verdade. -Me perdoa, me perdoa por tudo Lauren, eu não...Não foi a minha intenção. -Disse se agachando, deixando o buquê no chão e se levantou. -Não vai me perdoar?. -Mordi o lábio e neguei devagar.

-Eu não tenho, capacidade de te perdoar. -Falei aos soluços e ela suspirou.

-Ouça, eu vim sozinha até sua casa, porque eu não me sinto em casa, na minha própria casa, e eu tentei e tentei, dizer o que penso, você devia saber. -Disse jogando os cabelos para trás.

-Devia saber o que?. -Rosnei.

-O meu real sentimento. -Sussurrou.

-Agora eu estou farta de tentar acreditar em você. -Resmunguei.

-Você não sabe o que eu sinto, eu sou mais do que você fez de mim, eu segui a voz que me diz para te ver, mas agora eu tenho que encontrar a minha própria voz. -Neguei com um riso.

-Você deveria ter escutado a minha voz. -Ela negou freneticamente.

-Há alguém aqui dentro, alguém que eu pensei que tinha morrido há muito tempo. -Apontou para o peito.

-Quem?. -Perguntei e ela bateu as mãos ao lado do corpo.

-O amor. -Suspirei audivelmente e comecei novamente uma crise de choro.

-Eu odeio você. -Falei sentindo meus ombros tremerem e ela riu.

-Você já me disse isso. -Olhei para cima.

-E eu só te beijei uma vez. -Rosnei. -Você mora na minha mente, no meu corpo, você mora em mim Camila, sai de mim. -À empurrei.

-Eu não posso, eu...Lauren eu não posso. -Segurei sua camisa com força puxando-à para perto. -Por favor por favor, me perdoa, me perdoa e eu te farei a mulher mais feliz desse mundo. -Implorou.

-Você está sendo clichê, eu não acredito em nenhuma das suas palavras, você mancou comigo Camila, e não tem volta, você me conquistou para depois me pisar, e não é assim que as coisas funcionam. -À soltei.

-Lauren, me escuta. -Pediu agachando e pegando o buquê. -Mil rosas. -Disse me estendendo. -Você lembra não lembra?. -Neguei. -O amor, é como as rosas, cada pétala uma ilusão, cada espinho uma realidade. -Citou a frase que uma vez ela tinha dito e eu voltei à chorar.

-Você me deu rosas, para depois me lançar espinhos Camila. -Falei com a voz esganiçada.

-Sim, eu errei, mas eu sou uma humana, te peço perdão Lauren, te peço perdão, por favor, me perdoa, perdoa essa idiota aqui. -Apontou para si mesma.

Peguei o buquê em suas mãos e apertei contra meu corpo, as lágrimas desciam com força, fazendo meus olhos arderem.

-Obrigada pelas rosas. -Agradeci e ela negou balançando a mão em desdém. -Vai embora Camila. -Pedi e um relâmpago rasgou o céu me fazendo começar à chorar novamente.

-Lauren eu...

-Me deixa pensar. -Pedi chorando desesperada, ela tentou se aproximar e eu me afastei negando freneticamente e fechei a porta em sua cara.

Me encostei na mesma e escorreguei até estar no chão. Abracei aquele buquê, sentindo o cheiro das rosas inundarem o meu nariz.

Senti a ponta do cartão em minha cabeça e ergui rapidamente pegando o mesmo, que tinha de cor azul.

"Aquele dia, que te pedi para tomar um café comigo, lembra que atendi a minha "mãe", na verdade não era a minha mãe, eu te contei que minha mãe morreu no parto, sim, ela morreu no meu parto, a mãe que você ouviu eu atender, é a de criação...Todos os anos, quando chega o mês de Agosto, eu passo um momento longe, distante de tudo, porque é o mês em que eu nasci, o mês que a minha mãe morreu Lauren, e o mês de Setembro o que meu irmão, filho da Valentina minha mãe de criação, morreu também, então eu não consigo me recuperar, eu não consigo me estabelecer nesses meses, você foi a melhor coisa que me aconteceu, e eu não me arrependo disso..."

Comecei à chorar ainda mais, sentindo meu peito querendo explodir. Um pouco mais à baixo, tinha "vire" então virei o cartão imediatamente.

"Estou perdidamente apaixonada por você Lauren, e sinto que isso é perigoso, mas eu não quero arriscar se não for valer à pena, e olha, está valendo muito."

Levei o cartão até a testa e comecei à negar, neguei e neguei e neguei, até que ouvi sua voz atrás da porta.

-Eu vou te esperar Lauren, nem que eu tenha que morrer para isso. -Então ouvi seus passos se afastando e neguei voltando à chorar.

Naquela noite, tive pesadelos horríveis e acabei por não conseguir dormir, meu celular vibrava incansavelmente, eu sabia que era Camila, mas mesmo assim peguei e me surpreendi ao ver mensagens de Lucy.

Lucy: Você está caindo de um abismo.
Lucy: Mas tem uma mão que quer te ajudar.
Lucy: Segure-à Lauren.
Lucy: Antes que seja tarde.

Suspirei desligando meu celular e voltei à chorar encarando o buquê e mordi o lábio negando, não iria me dar esse luxo.

A Better Life - Camila IntersexualWhere stories live. Discover now