Dois - Camila

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Camila Velay

Sinto algo duro cair sobre minha cabeça. Abro os olhos, assustada e com a respiração irregular, ainda na mesma posição, inclino minha cabeça para olhar o chão.

Meus livros que deviam estar enfileirados na prateleira de cima, estão todos esparramados pelo chão do quarto. Um vento familiar forte e frio bate contra minha pele me fazendo ter calafrios, abraço meu corpo e noto que deixei a janela aberta a noite toda. Argh! Por conta disso, devo ter pego um resfriado.

Minhas costas doem por ter ficado acordada tentando terminar o trabalho quase a noite inteira, não consigo nem mexer direito meu pescoço. Suspiro e coso meus olhos levemente com as costas dos dedos. Esqueci completamente do prazo de entrega do trabalho de história, espero que ele aceite hoje. Venho me esforçando muito por causa da faculdade. E agora como uma veterana é bom tomar cuidado.

Meu quarto é bem simples. Só a uma cama, de solteiro próximo a porta. Meu armário ao lado da única janela. E de frente pra cama, há duas prateleiras de borda reta da mesma cor. A de cima uso para guardar alguns objetos e livros, a de baixo, uso como uma mesa temporária, para estudar e em frente a ela a uma cadeira.

Entro no pequeno banheiro no meio do corredor, tomo um banho quente e escovo os dentes rapidamente. Volto para o quarto enrolada em uma toalha e abro meu armário. Pego uma camisa lisa branca e uma calça jeans de cós baixo, que tenho a alguns anos. Ela esta apertada e desgasta de tanto ter usado. Depois de me vestir, sento na cama e calço meu único par de tênis, um da vans preto. Por último visto meu enorme casaco de frio preto que pega até às minhas coxas.

Desço as escadas depressa enquanto amarro meu cabelo em um rabo de cavalo e já sinto o cheiro de café sendo preparado. Fecho os olhos e conto até três, tentando me preparar para entrar de bom humor.

— Bom dia, tia Lilian — quebro o silêncio.

Vivo com ela desde que nasci, meu pai morreu antes mesmo de saber da minha existência e minha mãe morreu depois de dar a luz. Não conheço mais nenhuma parente, além dela. Somos apenas eu e ela.

Tia Lilian mal me olha e continua preparando seu café.

Lilian é muito parecida comigo. Seus cabelos são ondulados e armados como os meus, a cor diferencia um pouco, por o dela ser muito avermelhado e o meu ser natural. A palidez das nossas peles são idêntica. Temos sardas nos mesmos lugares do rosto, o formato retangular é quase semelhante com o meu se eu não tivesse muita bochecha e seus olhos também são verdes. Contudo, se alguém nos visse juntas, diria que ela é minha mãe.

— Hoje não voltarei para casa — avisa com a voz fria.

Sento-me na banqueta da ilha da cozinha. Pego uma das panquecas e jogo mel em cima.

— Seu chefe ligou reclamando do seu desempenho no trabalho, disse ainda que você quase desmaiou — comenta, quase engasgo com a panqueca — Já sabe se ficar doente vou deixá-la morrer — alerta pela quinta vez, se virando para me encarar.

— Desculpe. É que sexta, eu não almocei direito e a minha pressão deve ter caído — minha voz sai quase um sussurro.

Depois do colégio trabalho como garçonete. Minha tia ajuda em casa e diz que trabalha, mas seu dinheiro mal da pra pagar as contas direito.

— Queria saber como você ainda não conseguiu um namorado naquela escola com tantos ricos... — murmura cruzando os braços, parecendo estar indignada.

Estudo em uma das melhores escola do estado e já faz algum tempo, um colégio cheio de riquinhos metidos a besta. Entretanto, meus colegas de turma não simpatizam comigo e esse é um dos motivos para não ter arrumado um namorado.

Meu Destino #1Where stories live. Discover now