Sou munição, sou explosão, sou a morte

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  Estou morando em um cinema mudo, onde prezam pela expressão, mas os atores são cegos e o público é infantil. Eu estou dentro do filme, tentando conseguir um papel, mas minhas expressões são verdadeiras demais para enganar um público frágil, e eles dizem que irei acabar com o espetáculo.
  Eu amei, e eu chorei, e foi quando tudo perdeu a cor que eu reconheci a dor. Eu sou a munição de uma arma específica, e sou a voz de um mudo que quer aprender uma nova língua; sou uma agulha que não fura, e também um doce que azedou; fui a que amou e nunca foi amada, e também a que matou sem tocar.
  De mil granadas, apenas uma pode explodir, e nessa explosão apenas eu morrerei, mas deixará um estrago no peito de cada um. Vou morrer sem saber o gosto do puro amor sincero, vou morrer sem saber como é ter alguém em casa esperando por mim, vou morrer sem ter sentido o que é ser amada. Morrerei até antes mesmo da morte encostar em mim.

Ao meu último dia de amor,
Julia Antenucci.

Minhas lágrimas em letrasWhere stories live. Discover now