Eu nasci, vivi e morri.

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  Eu nasci, vivi, e morri. Conheci pessoas incríveis, que me ensinaram muito, e conheci pessoas terríveis, que me ensinaram ainda mais.
  Fiz, aproveitei, me arrependi, me orgulhei, e esqueci. Fiz, e simplesmente fiz.
  Eu me apaixonei, cada paixão com sua própria história, com sua própria decepção, com seus próprios momentos. De nenhuma paixão me arrependo, e de nenhuma guardo rancor ou mágoa.
  Já chorei feito uma criança, já chorei por tudo e já chorei por nada. Fiz algo pequeno parecer grande, e algo grande parecer insignificante. Já passei noites chorando e já chorei até dormir. Chorei de soluçar e chorei de alegria, chorei na frente de quem não queria e também para as paredes.
  Ri até o olho lacrimejar, gargalhei até a barriga doer. Já ri de coisas sem graça, e deixei de rir quando todos riam. Sorri por coisas bobas e também para ocultar a dor e tristeza.
  Viajei para a cidade ao lado, viajei para fora do país. Dormi em barraca, dormi na cama de alguém; passei a noite em claro, e já dormi sem ninguém. Acordei feliz, e também triste, acordei sozinha e já acordei com alguém. Já desejei não acordar, já acordei de ansiedade.
  Deitei na grama para ver as estrelas, olhei pela janela do carro para ver as nuvens. Abri a janela de casa e olhei o tempo para ver se uso shorts ou calça, regata ou blusa, se levo guarda-chuva ou não.
  Já desisti de estudar e também já estudei até meus olhos arderem e minha cabeça doer. Chorei por nota baixa, mas também já as ignorei. Tirei dez, mas também tirei zero. Conversei a aula toda e já prestei atenção demais, deixei de anotar e tirei foto da lousa, mas também já copiei tudo do pé à cabeça. Mudei de escola, e não fui para faculdade assim que sai do terceiro. Fiz intercâmbio, e depois uma faculdade, arrumei um emprego e formei uma família.
  Vivi metade de uma vida, já imaginei e sonhei com uma inteira. Já chorei, mas também sorri; me decepcionei e me surpreendi, cometi erros e também os corrigi, pedi perdão e perdoei, já abandonei coisas importantes e guardei as que me causavam mal. Pedi morrer, pedi ser feliz. Eu nasci, vivi, e morri.

Aos que viveram,
Julia Antenucci.

Minhas lágrimas em letrasWhere stories live. Discover now