Um Amor Inesperado.

Capítulo 15

Eu tento disfarçar por tempo demais a minha surpresa. Meus olhos pousam na figura feminina a minha frente. Ninguém mais, ninguém menos, que a rainha, estava diante de mim. Uma mulher relativamente jovem, alta e extremamente bela. Seus olhos e lábios são exatamente iguais aos de André, construindo uma feição que quase implora por simpatia, sua aura envolve a sala numa mistura de cores alegres e fortes, algo me diz que essa pessoa é muito fácil de se gostar. Contudo, não consigo abandonar um discreto pingo de suspeita que paira em minha mente, afinal, por mais que a mulher pareça ser bondosa, ela ainda é casa com o Rei Stephan, que á provou ser absolutamente imprevisível e temperamental.

Ainda sim, não consigo deixar de perguntar-me: o que diabos a Rainha está fazendo no meu quarto? E ainda me chamando pelo nome? O que diabos está acontecendo? Se eu já estava confusa antes, essa visita repentina me deixou mais confusa ainda.

- Eu preciso conversar com você, minha querida - ela fala se aproximando toda sorridente e sentando na cama ao meu lado. Você só pode estar de brincadeira - É sobre o príncipe André.

- Sim, majestade, o que gostaria de saber sobre o André? - eu falo por fim, fechando minha boca que estava aberta pela tamanha surpresa.

- Ora! Você já o chama pelo primeiro nome! Vejo que as coisas estão indo melhores do que eu imaginava! - ela exclama cheia de empolgação - E não precisa me chamar de realeza nenhuma, gostaria que me chamasse apenas de Daisy.

- Como quiser, Daisy - respondo ainda sem acreditar. É como se a imagem a minha frente não fosse nem mesmo real.

- Já posso ver o futuro de vocês dois! O amor é mesmo muito belo e impressionante! - eu olho para ela ser entender nada - Safira, como eu disse antes, vim conversar sobre o meu filho.

- Sim, estou ouvindo.

- Peço por favor, de uma chance á ele - ela diz e meus olhos se arregalam em surpresa - Eu posso ver claramente que ele gosta de você, você deve ser mesmo uma menina especial!

- E-Eu, não tenho certeza ainda do que sinto por ele, estou muito confusa - eu digo soltando um longo suspiro por não saber o que fazer e também por não saber ao certo o motivo da minha repentina confissão.

- Deixe me ajudar então - a rainha fala - Primeiramente, está claro que você sente algo por ele, eu vi que você cuidou dele o dia inteiro - eu concordo com a cabeça - Eu já estive na mesma situação que você antes, quando o pai de André pediu minha mão, eu era apenas uma camponesa normal, não tinha nada de especial, mas resolvi arriscar, e confiar no que eu sentia dentro de mim.

Eu escuto atentamente as suas palavras, então ela também era uma camponesa quando o Rei Stephen pediu ela em casamento. Começo, incapaz de deter-me, a imaginar a minha vida como uma Rainha. As joias, roupas e riquezas não me seduzem de maneira alguma, mas, o poder, a chance de tornar a vida das pessoas um pouco melhor, chamam minha integral atenção. Imagino encontros, viajens e acordos com diferentes nações, reinos e chefes de Estado. Me vejo de pé, com a coroa à cabeça, discursando em frente a milhões de pessoas, sobre proeminentes e entusiasmantes descobertas que possam ser interessantes à Urbe.

Um frio na barriga começa a tomar meu corpo. Começo a pensar que talvez não seja capaz de alcançar tudo isso, que talvez me falte muito. Mas não, afasto isso rapidamente de meu coração. Há tantas coisas ainda para serem conhecidas, e sei que a pessoa que estará ao meu lado jamais me julgará. Ao contrário, André me ajudaria, estariamos juntos no trono, e sei que dessa forma seriamos capazes de trazer mudanças positivas para o mundo. Ao lado dele...

Ao lado dele... sei que vou conseguir.

- Hoje em dia, posso dizer a você com toda certeza, que não voltaria a trás por nada. Eu me tornei rainha, e aos poucos, fui aprendendo como as coisas funcionavam na realeza, tive um filho, e vivo feliz ao lado dele e do meu marido, que está sempre ao meu lado. Eu sei que esta decisão deve estar sendo difícil para você, mas saiba que se precisar de mim, para aprender sobre coisas de rainha, eu estarei aqui. Mas por favor, dê uma chance ao meu filho, eu não tenho dúvidas que ele é uma pessoa boa, e você o ama de verdade.

Ao lado dele... sei que serei amada.

Ao lado dele... 

É isso, simplesmente, isso.

- O-Obrigada, você esclareceu muitas coisas para mim agora, acho que já tomei minha decisão - falo com agradecimento para ela, é bom saber que ela também passou por isso e que posso contar com ela se precisar.

- Estou contando com você, Safira - ela diz e me da um beijo de despedida - E não conte para o André que eu vim aqui.

Eu rio e faço que sim com a cabeça, ficando sozinha no quarto assim que ela sai. Eu que já me decidi, eu já descobri o que é essa sensação estranha que eu sinto todas as vezes que estou perto dele, ou que ele fala alguma coisa sobre mim, isso tudo é amor, só pode ser.

Essa forte necessidade de estar ao lado dele, e de cuidar dele sempre que ele precisar, esse sentimento que eu não sei quando e nem quando surgiram, talvez seja no dia do baile, quando eu achava que ele fosse outra pessoa, ou então quando fomos passar o dia na praia atrás do castelo juntos, eu realmente não sei quando aconteceu, mas isso só pode ser amor.

Todas as vezes que eu lembro dos nossos momentos juntos, das nossas risadas, das coisas que ele disse ou que eu disse, sempre me vem uma sensação tão boa, será que isso é que é estar apaixonada por alguém? Só pode ser, repito, só pode ser amor, não há mais explicação.

Não há, de fato, nenhuma explicação para isso, só sei que meu instinto me diz para apostar todas as minhas fichas no pensamento de que tudo isso vai sim dar certo. Eu vou arriscar, não tenho certeza se isso vai dar certo mesmo, mas pelo menos eu viverei no futuro com a consciência limpa, de que eu tentei.

Antes de toda essa minha história começar, minha vida, meu coração, minha alma, estavam presos em um inverno, as oportunidades de viver, estavam todas cobertas neve. Quanto tempo eu terei que esperar? Quantas noites mais eu terei que ficar acordada? Até que eu possa ser livre e pensar em mim mesma de vez em quando? Mas agora não, agora as cerejeiras estão florescendo e esse inverno está indo embora, e assim que eu me casar com André, o homem cujo eu sim amo, seus raios de sol irão me ajudar a florescer ainda mais, e quando o dia de primavera finalmente chegar, depois desse inverno todo passar, eu finalmente serei livre para ser quem eu sou.

Amanhã, quando eu passar a tarde com o Príncipe André, eu não vou mais me controlar, eu irei parar de pensar no que os outros vão achar, e começar a pensar em mim mesma, pensar menos e agir mais. Meu olhos finalmente se abriram, não vou mais hesitar, por que não há motivos pra isso. Ele me ama, e eu agora entendi que o amo, então, por que hesitar?

Eu tomei minha decisão, e não vou nunca mais voltar atrás, de volta aquela vidinha presa em casa.

Não vou voltar atrás, para aqueles dias de inverno, por que tudo isso acabou.

Agora!