Capítulo 6

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Depois de receber uma pequena "aula" do Antônio sobre como dançar que nem uma pessoa normal, nós continuamos nos divertindo no centro do salão. Evitando fazer contato visual com ele, dou uma espiada à minha volta. Todas as damas estão acompanhadas por cavalheiros mascarados, alguns casais estão sentados em mesas conversando, outros dançavam a nossa volta. Era como se eu estivesse em um baile normal, pessoas aproveitando a noite, rindo e paquerando, mas no fundo eu sabia que não era bem assim.

A maioria das garotas aqui presentes devem estar tão encantadas com os vestidos e joias raras que se esqueceram que nós fomos sequestradas e que talvez, nunca mais vejamos nossas famílias. Ou talvez elas só não sejam tão paranoicas quanto eu, que tentei me divertir - e até acho que consegui - mas não consegui tirar esse pensamento de dentro da minha cabeça.

- No que está pensando? - Diz ele me tirando dos meus devaneios.

- Estava pensando em como as outras garotas são estúpidas - falo e ele ri.

- Estúpidas? Explique, por favor - seus olhos claros pousam sobre mim, interessados.

- São estúpidas porque se distraem com coisas bobas e esquecem sobre a situação em que nos encontramos - resolvo ser sincera, mesmo que exista a possibilidade de ele ser o príncipe, sinto que não tenho nada a esconder agora.

- A situação de vocês não é tão ruim assim - Ele fala - Vocês possuem abrigo, alimento, criadas, vestidos. Não é disso que as mulheres gostam?

- Eu preferiria estar sem abrigo e sem comida se isso significasse estar fora daqui - respondo.

- Além disso, uma de vocês terá a chance de se casar com o futuro Rei de Urbe, não consegue se imaginar governando um império com o título de rainha?

- Eu não vejo nada de bom em viver o resto da minha vida infeliz com alguém que eu não amo - Ele ri e eu franzo minhas sobrancelhas. Mas parece que ele gosta de rir das coisas que eu digo em, mesmo que eu esteja falando sério - E governar ao lado de um bobo não me atrai atenção igualmente.

- Mas é difícil não se apaixonar pelo príncipe André, não acha? Todos dizem que ele é um Deus.

- Não, não é - eu reviro meus olhos - Além do mais, as pessoas devem se casar por amor e não pela beleza ou riqueza, do contrário todos serão infelizes.

Eu tentava captar alguma expressão em seu rosto, todavia a máscara tapava muito e atrapalhava minha visão. Imagino que por baixo disso tudo está uma feição surpresa por ouvir tudo o que eu disse, acho que ninguém espera um pensamento racional como o meu, até porque era perceptível que todas as outras mulheres pareciam enfeitiçadas, presas numa ilusão, com seus olhos brilhando na esperança de estarem passando a noite com alguém da realeza.

- Vem, vamos comer alguma coisa. - Diz ele, me puxando para a mesa de doces.

"Ah, agora você não me escapa!" Penso, pegando três docinhos e colocando todos na boca de uma vez. Uma mistura de sabores de chocolate, caramelo e canela invade meu paladar. Sinto eles derreterem em minha boca e fecho os olhos, degustando da nova combinação.

- Safira, cuidado para não engasgar - Antônio comenta, rindo da minha reação.

- Eu não sabia que era tão engraçada. - Respondo, pegando mais cinco docinhos e comendo os cinco.

- Agora você sabe - ele fala - E também é muito inteligente, sem mencionar como sua beleza é radiante - Eu fico instantaneamente vermelha, Antônio coloca um doce em minha boca - Prove.

Tinha um gosto de chocolate e amendoim.

- Isso aqui tem amendoim? - Pergunto olhando para ele.

- Tem - o homem sorri.

- Eu sou alérgica a amendoim! - Digo já com dificuldades de respirar, seu sorriso se esvai.

Antônio arregala os olhos e olha a sua volta desesperadamente. Eu rio da cara dele.

- Ah não, você não fez isso - Diz ele, rindo ao perceber que era só uma brincadeira.

- Está vendo como é bom rir das outras pessoas agora? - Digo dando risada dele e pela primeira vez desde que saí de casa, esqueço de todas as minhas preocupações. Esqueço da minha casa, da saudade de meu pai, do sequestro, das lágrimas molhando a fronha do travesseiro na madrugada, dos planos para escapar, do constante medo de não saber o que pode acontecer daqui pra frente, tudo vai embora. Eu sinto um peso enorme sair de minhas costas, ficando tão leve que poderia flutuar por todo esse lugar.

- A noite de hoje acabou. Cavalheiros, retirem-se do salão e troquem de roupa. Damas, após os cavalheiros saírem tirem as máscaras e aguardem. Logo após, quando os senhores voltarem, eles escolherão junto com o príncipe quem fica e quem sai - diz o tutor real, assim que o relógio bate às doze horas.

De repente todo o desespero volta e eu lembro o motivo de estar aqui. O peso das preocupações volta como um metal atraído por um imã em minhas costas, tenho que disfarçar, olhando para o chão, pois minha expressão com certeza não estava nada boa. Me despeço de Antônio, relutantemente, com um beijo na bochecha e faço como o homem pediu anteriormente. Depois de um tempo esperando que os garotos voltassem, escuto a voz de Diane ao meu lado.

- Se divertiu essa noite? - Ela pergunta, um sorriso anormal estampado em seu rosto.

- Sim, mas me divertiria muito mais se não estivesse aqui mantida em cárcere privado. E você? - me queixo, acho que pela milésima vez hoje.

- Digo o mesmo - ela responde, mas sua expressão continua animada.

A porta é aberta, o Príncipe André entra e por trás dele os outros cavalheiros também. Não reconheço nenhum dos rostos, nada que me desse uma dica sobre quem era quem. Qual deles será Antônio? Eles se juntam e começam a conversar sobre quem ia ficar e quem ia sair, eu imagino. Depois, os cavalheiros se retiram do lugar, ficando apenas o príncipe André e seu tutor conosco na sala. Segurando uma caneta em sua mão, ele se aproxima, passando de garota em garota e marcando alguma coisa em suas palmas. Quando passa por mim, olha para meus brincos e sorri, eu viro a cara imediatamente, não quero papo com esse magnata idiota. Ele marca um pequeno número "2" na minha mão. O mesmo número é marcado na mão de Diane.

- Todas aquelas que foram marcadas com o número dois deem um passo à frente - O príncipe fala e eu quase sinto como se já conhecesse se essa voz de algum lugar.

Eu e Diane nos entreolhamos e damos um passo à frente junto com algumas outras garotas. Pelas minhas contas pelo menos umas trinta e cinco garotas foram marcadas com o numeral dois, contando comigo e minha parceira. Meu coração palpita, será que é hoje que eu saio? Se a resposta for sim, isso vai ser bom ou ruim? Não sei mais como lidar com isso.

- Aquelas que deram um passo a frente estão salvas, as outras estão fora - Diz ele, simplesmente dando uma última olhada e indo embora.

Uma sensação conhecida por muitos como alívio veio a tona, olhei para Diane agradecendo aos céus por ter pelo menos uma aliada comigo.

- Parece que não se livrarão da gente tão facilmente - ela encara a palma de sua mão.

- Tem razão - Digo ignorando os gritos e choros das eliminadas e seguindo Vera até nosso "quarto".

Nocaminho vou pensando. Se aquele tal de Antônio tem a chave daquela porta, istojá é um começo e tanto, ainda bem que eu fiz amizade com ele, talvez isso possanos ajudar. Não, acho que não, ele tentou defender o príncipe André a todomomento em que estávamos juntos. Talvez Diane tenha tido mais sorte, amanhãdefinitivamente conversarei com ela.


Um Amor Inesperado.Where stories live. Discover now