Capítulo 11

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[Episódio narrado pela perspectiva do Príncipe André]

Eu acordo com o canto dos passarinhos. Abrindo os olhos, a primeira coisa que vejo são nuvens brancas passeando em câmera lenta pelo céu da manhã. Esfrego o rosto, levantando do local onde estava deitado. Um belo campo de girassóis se estende diante de mim. As flores, belíssimas, continuavam a enfeitar a planície até o fim do horizonte. Vejo que todas elas apontavam para a mesma direção, provavelmente encarando os primeiros raios de sol do dia. Tento fazer o mesmo, procurando a fonte que atrai a atenção de todas estas plantas.

É aí que eu entendo. Um sorriso brota em meus lábios quando encontro ela ao meu lado. Essa mulher é a origem de toda esta comoção, a luz irradiava de seu próprio corpo, ela é o imã que puxa todos os rostos para contemplá-la, enfeitiçados, sem nenhuma escolha a não ser dar a importância que ela exige. Seus cabelos balançando ao vento, acompanhados pelo tecido leve de seu vestido. Os braços abertos, lançando seu feitiço, aceitando toda a cortesia que recebia do mundo. Ela, Safira, simplesmente.

Simplesmente. Não consigo parar de sorrir, de sentir todo o seu calor clamando meu coração. É algo indescritível, como sinto-me confortável quando estou perto dela. Como esqueço tudo, os problemas, os deveres, as tristezas, tudo desaparece apenas com um resquício deixado por seu cheiro. Preciso dela, incessantemente. Das risadas, das verdades, das brincadeiras e conversas estranhas, do seu entendimento, sua empatia, preciso disso. Conto os minutos para que alguma competição comece, apenas para ter seus olhares, as duas safiras deslumbrantes em sua íris, hipnotizam-me. Se fosse por mim, decretava o fim da disputa e pedia a mão dela em casamento agora mesmo, mas eu tenho que continuar essa competição até o fim, não por vontade própria, mas meu pai....

Espere! Meu pai?

É, meu pai! Eu quase me esqueci. Aos poucos minhas memórias vão retornando. Flashes da nossa briga se passam pela minha cabeça, quase como se eu revivesse tudo de novo. Meu coração se dispara com o terror e a dor, o mundo perfeito se desfaz bem na minha frente e eu acordo. Sim, infelizmente isso foi só um sonho, mas significou muita coisa. Meus olhos se abrem lentamente, mostrando o cenário a minha frente. Eu estava no meu quarto, deitado na cama. Passo a mão nos meus cabelos e rosto, soltando um suspiro. Sinto um curativo.

Olho para o meu corpo, examinando. Agora eu estava sem minha camisa e meu abdômen se cobria apenas de curativos habilmente instalados nos lugares onde havia sofrido golpes. Eu já não sentia dor alguma pelo corpo, com exceção de minha cabeça que estava doendo um pouquinho. Finalmente sento na cama, vendo que a poltrona vermelha ao meu lado estava ocupada por alguém. Safira, ela estava sentada lá, com o cotovelo esquerdo apoiado no estofado, a mão sustentando seu rosto sereno enquanto dormia pacificamente.

Contemplo-a por alguns minutos, ela estava tão radiante, não há um dia em que eu olhe para ela sem me encantar, eu me pergunto onde uma joia dessas esteve esse tempo todo. Por um momento, chego até a beliscar-me, duvidando de que estava realmente consciente, talvez ainda estivesse preso naquele sonho e minha visão criava ilusões prazerosas para reanimar minha alma. Mas junto com a dor e a marca roxa em meu braço, veio a realização de que a paisagem é real, bem como o entendimento de tudo o que sentia dentro de meu coração.

O vento lá fora se agita, um raio alaranjado do sol invade o cômodo devido ao movimento do tecido das cortinas vermelhas rebeldes, indo parar justamente na face da bela dama. Como ousa perturbar seu sono? Como é capaz de intervir em tão deslumbrante sono? A resposta que obtenho são o abrir de seus olhos, calmos e cansados. Sua pupila se ajusta a claridade, a azul safira brilha ao perceber minha presença, encarando-me.

É a minha perdição. Afundo meu olhar naqueles dois mares iluminados pela lua prateada. Fico petrificado. É difícil respirar, perco todo meu fôlego apenas por uma troca de olhares. Observo, sentindo meus pulmões aprenderem seu ofício novamente, como se fosse a primeira vez que funcionassem, num renascimento inesperado. Suas sobrancelhas se franzem, causando uma enrugação na testa branca acima. Eu sorrio, enfeitiçado.

Um Amor Inesperado.حيث تعيش القصص. اكتشف الآن