Capítulo 5

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De acordo com que a Sra. Vera nos falou, hoje haverá um baile de máscaras no salão do castelo, então não só as damas como também os cavalheiros estarão mascarados, ou seja: Nem o Príncipe vai saber quem nós somos e nem nós vamos saber quais dos homens ali presentes serão ele.

Para um Príncipe, ele é um tanto peculiar, pois, nos livros que li os príncipes sempre são educados e pontuais. Se ele é educado eu não sei (ainda) mais que ele não é pontual isso eu tenho certeza. Estou dentro desse vestido por exatos cinquenta minutos esperando a "vossa excelência" aparecer.

Eu sempre tento ouvir as conversas dos outros a minha volta, na esperança de encontrar alguém que possa me ajudar a fugir, mas nenhuma das garotas parece se interessar nisso. Em fato, elas se tornaram obcecadas com a possibilidade de conseguir o título de rainha. Há todo o tipo de mulher aqui, algumas são da nobreza e foram mandadas por suas próprias famílias, outras são camponesas que foram capturadas na noite do meu aniversário. Apenas eu não me encaixo por aqui, mas aproveito para aprender tudo o que não pude durante os anos passados.

Na verdade, são tantas coisas novas que eu não conhecia, mas que todos parecem saber exatamente o que são: Invenções novas, até máquinas fotográficas. Urbe é mesmo um império a frente de seu tempo e eu não posso deixar de pensar em como teria sido minha vida se tivesse sido criada normalmente na vila. Quem sabe o quanto eu poderia adquirir de conhecimento, quantas pessoas eu conheceria, e papai...

Ó, meu pai...como é que o senhor está agora? Meus olhos marejam só de pensar. Tento afastar estes pensamentos pra evitar o início de um choro.

Eu e Diane não nos arrumamos juntas, por isso não sei qual das meninas ela é, só sei que todas elas, inclusive eu, estavam usando trajes de gala: Vestido longos e volumosos, joias, sapatos brilhantes, etc. Estou quase me sentindo dentro de um conto de fada. Isso é tão surreal. Seria lindo me imaginar aqui se não pelo fato de que fui trazida a força por um tirano maníaco.

Eu estava vestindo um vestido que ia até meus pés, tomara-que-caia, da cintura para baixo ele ganhava volume, nos meus pés estavam um par de saltos da cor branca, que ornavam com meu vestido que era composto por vários tons de roxo. Meus cabelos devidamente penteados em um coque com uma simples tiara em cima. Deu trabalho para que me arrumassem, queriam me encher de brilho, com penteados extravagantes. Neguei tudo, e posso dizer que estou satisfeita com o resultado. Talvez hoje eu possa viver o que eu sempre li nos livros que papai me trazia. Talvez, só talvez, eu deva esquecer. Só hoje, só talvez mesmo.

Entra pela porta do salão - que estava todo decorado e iluminado por um candelabro feito de ouro e diamantes - aquele mesmo homem velho de cabelos pretos, que dias antes veio anunciar a entrada do Príncipe André, perguntando um pouco para as empregadas eu consegui descobrir que ele é apenas um "tutor" do príncipe.

- Boa noite damas de Urbe - O silêncio paira sobre o ambiente, toda a atenção é direcionada a ele - Os cavalheiros chegaram, por favor, desfrutem da noite, não tentem fazer nenhuma bobagem, por que se fizerem, o vosso destino não será um dos melhores...

Com certeza vou conseguir aproveitar muito bem essa noite depois dessa ameaça. Bufo enquanto vejo a enorme porta do salão se abrir e dela saírem vários garotos, que aparentavam ter o nosso tamanho, todos mascarados. Os trajes variavam, dos mais extravagantes aos mais simples, no design, é claro, porque na costura todos eram de primeira linha. Outra coisa que notei, é que todos são loiros, exceto alguns, em que a máscara cobria os fios de cabelo, isso tornava mais dificil saber quais eram os impostores.

Eles foram se dispersando pelo salão, a maioria escolhendo as belas damas com que eles passariam a noite. Eu, que não sou boba nem nada, me retirei daquele lugar o mais rápido possível. Não à toa, esse baile é uma ótima distração pra uma fuga, só preciso encontrar Diane e....pera, aquilo é uma mesa cheia de comida?

Está bem, Safira, se concentre e ache um jeito de sair daqui. Bingo! Vejo uma porta e não tem ninguém por perto dela. Ando em direção a mesma e aproveito que estou passando do lado da mesa de doces e pego um, eu nunca tinha comido esse aqui. Chegando perto da porta, dou uma disfarçada, olho para um lado, para o outro, minhas mãos tocam o ferro gelado da maçaneta e eu giro-a. Trancada. Era óbvio Safira, uma porta sem ninguém guardando só poderia estar fechada. Tento abrir mais uma vez, um pouco frustrada. Sem pensar, agacho e tento olhar pela fresta abaixo da porta, pra ver onde ela dava. De repente, alguém fala:

- Perdão madame, está tudo bem? - é uma voz masculina.

Droga! Fui pega!

- Está sim - Digo sorrindo nervosa.

Levanto, pronta para encarar meu destino. Dou de cara com um homem, sua máscara de leão era preta e combinava perfeitamente com o tecido confortável de algodão branco. Nós dois nos encaramos por um instante.

- O que estava fazendo agachada? - ele resolve perguntar.

- Ah! É que... eu deixei meu brinco cair! - Isso! Eu sou uma gênia.

- Mais a senhorita não está usando brincos.

Ops.

- É que eu deixei cair os dois - sorrio nervosa.

- Estou vendo - ele desconfia, mas acaba ignorando - Qual seu nome?

- Safira. E o seu?

- Andr.... - Começa a falar, mais depois se assusta com não sei o que e corrige - Quer dizer, Antônio, pode me chamar de Antônio.

Ele sorri e tira de seu bolso uma chave, a qual ele leva até a fechadura da porta, encaixa e a gira, abrindo-a. Tento disfarçar a surpresa. O local estava escuro e eu não conseguia ver muita coisa, exceto pelo pedaço de chão mais próximo, que estava visível devido à luz do salão que entrava pela abertura.

- Talvez seus brincos tenham caído pra baixo da porta, vamos procurar - sorri gentilmente.

Ai meu Deus! E agora o que eu faço? Pensa Safira, pensa....

Já sei! Finjo que estou procurando meu brinco pelo chão atrás da porta, passando as mãos pela saia do meu vestido sentindo dois brincos brilhantes. Vera obrigou-me a usá-los, mas assim que tive a oportunidade eu os tirei e enfiei em algum lugar do meu vestido pois eram muito grandes e pesados pra mim.

- Encontrei! - Digo levantando e chacoalhando os brincos, mostrando pra ele.

Nós então saímos e ele tranca a porta atrás de nós. Hum, interessante, então a chave fica com ele. Eu poderia dar um jeito de vir aqui mais tarde, talvez tentar pegar a chave escondida ou inventar outra desculpa, explorar aquela sala pode me trazer algumas respostas e quem sabe uma maneira de escapar desse lugar.

- Deixa que eu ajudo - Diz ele, tirando os brincos da minha mão e se posicionando atrás de mim.

Ele coloca os brincos em mim e eu coro levemente sentindo sua respiração no meu pescoço.

- Vamos dançar - Antônio segura minha mão e me leva para a "pista de dança" onde havia outros casais dançando. Um grupo de músicos tocava alguma música lenta que eu nunca tinha ouvido. Quando chegamos lá no meio, eu o olho e digo:

- Eu não sei dançar - fico meio sem graça.

- Não tem problema, é só me acompanhar.

Ele pega e coloca minhas mãos em volta do seu pescoço e posiciona as suas na minha cintura, nós começamos a nos movimentar de um lado pro outro.

- Viu, eu disse que não sabia.

- Você está indo bem - Diz ele rindo.

- Você está rindo por que?

- Você está pisando no meu pé - Diz ele rindo mais ainda.

- Por que você não disse antes? Você disse que eu estava indo bem! - Eu disse corando, só não sei se é de vergonha ou raiva.

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