Ian leva um bolo e um McLaren

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Me encontro com a Mia às dezoito horas, quando o sol começa a se pôr, no mesmo lugar onde nos vimos mais cedo

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Me encontro com a Mia às dezoito horas, quando o sol começa a se pôr, no mesmo lugar onde nos vimos mais cedo. Tô aliviado de ter tomado um banho digno e arrumado o cabelo, pois se algum papparazzi estiver à espreita, pelo menos não vou passar vergonha. Fui à drogaria que ela me indicou e comprei uns remédios lá, então a dor de cabeça passou, mas ainda sinto vontade de vomitar toda vez que me lembro do almoço.

Eu não preciso descrevê-la, preciso? Quer dizer, é óbvio que ela está com um vestido que realça a cor dos olhos e que seus fios estão daquele jeito, bagunçados, mas que ela arrumou pra ficar assim. Isso era óbvio. E também é óbvio que eu já conheço muitos dos truques das mulheres.

Decidimos ir andando pela cidade, ainda que ela seja grande. À bem da verdade, São Vicente não é exatamente grande, como a capital do estado, por exemplo, mas é considerada assim pelo fato de que grandes empresas estão sediadas aqui. É o caso da Vitta, a empresa em que a Mia é diretora de vendas. Fiquei até meio admirado de ela saber o que um representante faz, porque a Vitta não tem isso. O marketing deles é feito por modelos, atores, enfim, gente famosa. Já o nosso, não. É por isso que a La Madre tem representantes em cada país. Somos como os embaixadores da nossa empresa, responsáveis por fazer com que lojas queiram vender nossos produtos, artistas queiram usá-los, novelas queiram mostrá-los. Ser um representante é pegar um atalho pra calçada da fama, mas essa é a parte boa do serviço; quase ninguém sabe que muitas vezes cumprimos também o papel do diretor de vendas — analisar como andam as vendas da empresa e solucionar problemas relacionados — e até mesmo do advogado da companhia, pois quando estamos negociando com as lojas, elas adoram cláusulas concessivas.

São Vicente é uma cidade muito bonita. Me lembra um pouco Chicago pelas áreas verdes acompanhando os prédios, e pelos monumentos de metal que mostram o dim dim rolando pelos bancos. É tipicamente paulista. Urbanizada, mas cheia de árvores e de caminhos para pedestres. Mia vai me contando a história do lugar, e acho interessante de verdade. Ela é uma boa contadora de histórias.

— Você já quer jantar? — pergunto, começando a pensar que aquela era uma boa chance para iniciar o meu plano. Ou você acha que esqueci a corrida?

Mia parece surpresa. Ah, que ótimo. Ela não imaginava que eu a convidaria. Porque assim fica parecendo um encontro.

— É que eu não sei o que devo comer aqui — eu argumento. Com certeza ela vai cair. Mulheres são assim: caem na nossa lábia como pássaros, e nossos braços são o seu ninho. — Não vai me deixar na mão depois de um passeio desses, vai?

Ela dá apenas uma risada e desvia o olhar para a direita.

Você sabe o que isso significa, né? Olhar para a direita é o indício de que uma mentira está por vir!

— Sinto muito, mesmo, Ian — ela coloca as mãos ao lado do corpo, rente ao vestido — mas eu tenho um jantar com uma pessoa agora.

Interessante... Então ela tem um encontro? Isso é novidade.

Frustrado, mas desconfiado, entendo a situação e me despeço dela. Vejo Mia ir embora por entre as árvores altas do parque onde estamos. Logo ela some de vista.

Somente quando estou no hotel, pedindo qualquer hambúrguer que eles tenham, é que descubro o que a Mia realmente tinha para fazer.

Veja bem: hoje é sábado à noite, um momento ideal para um encontro, certo? Acontece que o baile de gala do maior banco da cidade é exatamente daqui a uma hora. Eu li na internet que o banco organizará uma festa com todos os empresários mais importantes de São Paulo. É claro que isso é uma forma de atrair clientes, e o que as empresas querem muito no final de ano é dinheiro para poder alargar as fronteiras.

Mas então por que a Mia mentiu para mim? Se ela não quer sair comigo, tudo bem! Falasse que tem um baile para ir! Não é novidade que ela é uma workaholic.

A não ser que...

A não ser que a Mia já tenha sacado que eu tô tentando fisgá-la.

Parece que a srta.Santinha acaba de dar um bolo no cobiçado Ian Vaz. E isso feriu o meu orgulho.

 E isso feriu o meu orgulho

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Nada é mais deprimente que a noite de domingo pra quem passa o período assistindo Netflix. No caso, você, porque eu fui à inauguração de um restaurante à beira-mar de São Vicente. Assim que cheguei à cidade, um blogueiro conhecido postou que Ian Vaz pisava em território brasileiro. Acredito que seja por isso que me convidaram para o evento.

Não vou mentir - domingos realmente são melancólicos, então é claro que eu não pensei duas vezes quando o convite apareceu. E o melhor de tudo é que vou poder usar bermuda; eu não aguento mais vestir ternos pesados e alfaiatarias. Eu sei que as garotas amam. Mas essas roupas sufocam!

O dia foi calmo hoje. Fui à praia de manhã e joguei vôlei na areia com uma galera que nunca havia visto. Até peguei o telefone de uma menina. Pela pele queimada e pelo sotaque, aposto que ela mora por perto. Quem sabe eu ligue pra ela depois da inauguração?

Estar no Brasil é incrível. Embora eu seja argentino, passei boa parte da vida aqui, em São Vicente. Mas eu era criança na época, curti pouco do que esse lugar tinha a oferecer... Minha mãe me deu à luz em Buenos Aires e moramos lá até eu completar cinco anos de idade. Depois, viemos para cá, quando ela conheceu um homem rico, dono de agências de turismo, e enfim realizou o sonho de ser madame por méritos não próprios. Ainda assim, foi graças à ele que recebi a melhor educação possível e tive a chance de conhecer a alta sociedade de São Paulo. Isso porque nem morávamos na capital!

Ficamos aqui até eu realizar doze anos. Nesse tempo, conheci o Marcelo Mendes, que só queria saber de surfar. Minha mãe se irritou com a nossa amizade e as aprontações que fazíamos e decidiu regressar a Buenos Aires. Bem, isso é o que ela diz. Mas eu sei que ela havia se irritado, na verdade, com o marido da temporada. Ele era extremamente ocupado e, embora ela adorasse os resultados disso, começara a se sentir sozinha. Eu não a culpo. É lógico que ele passava muito mais tempo com garotas de programa da linha Sato que com a esposa. Depois do divórcio, nunca mais vim ao Brasil, e também falei com o Marcelo umas poucas vezes, mas a verdade é que éramos grandes amigos.

Aluguei um McLaren para ir ao evento, porque é claro que eu não podia estacionar numa praia com uma limusine. O preço foi até em conta pra um carrão desses - espero chamar a atenção quando chegar. Aliás, foi pra isso que me convidaram, não foi? 


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Oiii genteeee! Agradeço a cada visualização que tenho recebido nesse livro, aos comentários e aos votos, muuuito obrigada! Eu não sabia que podia dar recados na própria história, por isso não falei nada antes kkkk. Queria lembrar que as postagens serão às terças e às sextas, ok? Por favor deixem um comentário sobre a história, nem que seja "continua", eu ficaria muito grata! 

Alice <3 

A Maldição dos Homens Bonitos #CPOWOnde histórias criam vida. Descubra agora