Quem é Ian Vaz

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O que as pessoas costumam fazer em dezembro?

  Dezembro: mês de festas, de ficar com a família, de dizer "eu te amo" e de fazer muitas compras. As mães sempre compram um belo peru de Natal e os pais não sabem bem o que devem comprar, mas aproveitam as refeições igual cachorrinhos famintos. Os adolescentes lamentam sua mediocridade e outros saem para beber, escondido dos pais (alguns até acompanhados deles). Os idosos viajam para lugares caros e bonitos e as crianças botam pra quebrar nas férias, sem dó.

  Mas eu não. Não faço nada disso. Pra mim, dezembro significa uma coisa: promoção. E não tô falando de liquidação de loja, meu amor, pois nesse caso eu perderia dinheiro. É época de ser promovido e só quem tem muita garra dá conta de conseguir. Neste ano, a promoção é minha.

  Ramirez é meu chefe. Ele é argentino, como eu. Na época da escola, ele era o nerd cuja vida eu meio que destruí enquanto destruía também o coração de outras meninas, então ele me detestava. Mas aí crescemos e decidimos por o passado  de lado para ganharmos dinheiro juntos. Ele tem mais diplomas do que eu poderia obter em muitas vidas, mas quem se importa? Eu sou um prodígio. Ou pelo menos é isso o que a revista Forbes diz.

  Ano passado fui eleito uma das pessoas mais influentes e ricas antes dos 30 anos na América do Sul. Eu até dei uma entrevista! Puxa... aquela jornalista era uma gata, eu peguei o telefone dela mas acabei esquecendo, em algum lugar, talvez na boate... Mas o que importa é que graças a isso o mundo inteiro voltou os seus olhos para mim. Eu não o culpo. Se você estivesse agora de frente para mim, estaria espremendo um sorrisinho, como todos fazem. Devem ser os meus olhos, meio verdes, azuis, cinzas... E a barba, que dá um trabalhão. Eu nunca achei que barba degradê faria tanto sucesso com as garotas. Quer dizer. Deixa a gente com uma cara de malvado.

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  Então. A promoção.

  Eu vou explicar atenciosamente porque é uma coisa importante.

  Ramirez sempre lança uma espécie de corrida todos os anos, em dezembro, entre os seus melhores representantes, para nomear o próximo diretor de vendas. Acontece que muita gente topa, então a corrida fica super acirrada. Ano passado, pra você ter uma ideia, de doze representantes em vários países da empresa, nove ficaram doentes ou sofreram algum acidente enquanto tentavam ganhar essa promoção. É que vale muito a pena. O salário de um representante é cinquenta mil. O salário de um diretor de vendas é... Isso mesmo. Ninguém sabe, porque deve ser tão alto que é até pecado falar. Só conheci um diretor de vendas que mora até hoje na Argentina, e ele tem a alma de um pobre então... não conta. Mas ele tinha muita, muita, muita grana, porque andava com cada mulherão. Na Argentina, mulheres são mais importantes que carros. Acredite em mim. Um homem de sucesso sem uma mulher ao lado, nem que seja só de mentirinha, é um soldado derrotado.

  O desafio que Ramirez nos dá muda muito a cada ano. Nos últimos três, ele exigiu coisas bem diferentes, como por exemplo: descobrir um podre de um sheik árabe lá. Eu acho que isso foi uma vingança pessoal, já que a ex-esposa dele o largou por um tal Rashi alguma coisa. Mas a pessoa que conseguiu o podre conseguiu a promoção. Desta vez, eu vou fazer qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, pra ser premiado. Você sabe o que acontece com os nomes que a Forbes prestigia, depois de mais ou menos seis meses? Exatamente. Vão pro limbo! E eu fico louco com essa ideia. Louco mesmo.

  Nos últimos meses, eu meio que virei um modelo. Um rapaz tão novo e já tão rico e influente faz a cabeça das pessoas, porque parece que elas esqueceram da minha profissão de representar uma marca e começaram a achar que eu poderia viver de royalties por fotos com gente famosa. Tipo, em outubro no Halloween a Shakira me convidou pra festa dela. O problema é que não foi só ela. Kanye West queria ser fotografado comigo para mostrar que ainda podia ser jovem e influente, Taylor Swift quis que eu fingisse um beijo com ela para voltar aos tabloides (desde que a rixa com os West Kardashian ficou um pouco ultrapassado, ela não sabe bem como aparecer) e Neymar daria uma festa só para jovens que ele considera "daora". Eu não fui em nenhuma porque isso daria briga.

  Eu fiz a minha própria festa. Mas você nem acreditaria se eu dissesse que a própria Donatella Versace apareceu, né? Só que isso é porque você não sabe quem eu sou. Então, meu amor, deixe eu me apresentar.

  Prazer, sou Ian Vaz (o som forte é no "i"), 26 anos de muita testosterona, charme e talento. E é claro, dinheiro. Sou representante da grife de perfumes e cosméticos La Madre, argentino nascido em Buenos Aires, e... Bem. O resto, eu te conto depois.

A Maldição dos Homens Bonitos #CPOWWhere stories live. Discover now