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Passamos o dia seguinte descansando, esperando pela recuperação de Heyden.

Mas eu sabia que o tempo era curto. Logo, Antracia nos acharia e eu não colocaria meus pais em risco. Eu precisava falar com ela.

Estava com Collen no quintal, colhendo os ovos que minha mãe pediu, quando ele simplesmente riu.

Olhei para ele com uma interrogação no rosto e ele me deu um sorrisinho.

"Todos de casal e eu sozinho. Eu não costumava ser a vela. "

Eu ri com ele mas parei quando percebi o restante das informação. "O que quer dizer com 'todos de casal'?"

Ele levantou uma sobrancelha. "Me diga que notou que Thierry está completamente apaixonado pela Brea. Ele não para de falar no quão bonita ela é e como os olhos são lindos, o sorriso, o cabelo... É bonitinho mas chega a ser irritante. "

Eu ri com ele. "Pare de ser rabugento. Não percebi nenhum interesse da parte de Brea mas vou falar com ela. Quem sabe ela lhe dê uma chance. "

Ele assentiu. "Ele é um bom garoto. É quem nos salva com seus planos. Cada um de nós tem uma função: eu e você somos a espada, Heyden é o caçador, Brea é a voz da razão e Thierry é nosso cérebro. Temos harmonia e lealdade. "

Uma lembrança me gelou o coração. "Não se esqueça que essa harmonia vai acabar quando uma de nossas cabeças estiver rolando. Um de nós é o traidor, embora ainda falte um. "

Collen se sentou na cerca de madeira. Eu pousei a cesta de ovos na grama e me sentei ao seu lado.

"Precisamos que Brea treine. Eu não a vi usar quase nenhuma magia. Precisamos conhecer nossos limites. Brea é a matéria mas até onde isso nos leva?"

Eu dei de ombros. "Há a mente. Se o cara conseguir controlar mentes alheias, teremos uma boa vantagem na batalha. "

"E se ele for o traidor?"

"Então teremos o nosso pior pesadelo na linha de frente inimiga. "

                               ⚔⚔⚔

Comemos e ajudamos nas tarefas da fazenda, todos agradecendo por um pouco de normalidade.

Heyden foi posto numa velha cadeira de rodas e tomava analgésicos a cada duas horas. Era um milagre que ele não dormisse o tempo todo.

Falamos com Brea e ela concordou em treinar.

Estávamos no jardim, o mais longe possível da casa para evitar acidentes e ainda sim não sermos vistos.

Brea conseguia facilmente mover pessoas e objetos mas era o talento descoberto depois de algumas horas que nos dava esperança de alguma vantagem: ela conseguia conjurar os objetos.

Descobrimos que o objeto não precisava estar próximo mas deveria existir. Ela não poderia simplesmente criar um dragão ou um dinossauro. O objeto deveria vir de algum lugar.

Descobrimos que ela conseguia nos transportar para o outro lado do campo, mas quanto maior o objeto e maior a distância, mais ela se exauria.

Todos nós praticamos, até mesmo Heyden, que parou quando sentiu dor.

Sentados na grama, com um banquete sobre uma toalha de piquenique,conversavamos sobre tudo.

Thierry nos refrescava com uma brisa seca e Collen enchia nossos copos assim que eles esvaziavam.

Descobrimos que Collen manipulava qualquer líquido, não só a água.

Lembrei-me do que Collen havia me dito sobre Thierry e Brea.

Heyden estava em sua cadeira de rodas e minha cabeça estava encostada em seu joelho, de onde eu tinha uma ótima visão.

Notei que era bem pior do que eu pensava. Thierry sempre ajeitava os óculos e corava quando Brea falava com ele, que por sua vez corava quando Collen falava com ela. Era uma péssima ideia ter um triângulo amoroso, visto que ainda não sabíamos quem era o traidor.

Mas eles pareciam tão felizes e inocentes que achei melhor deixar eles resolverem a situação.

"Ei, Brea, nos conte sobre sua vida antes daqui. " Heyden pediu num ponto da conversa.

Ela cobrou e olhou para suas mãos sobre o colo. "Bom, não é bem uma história feliz. Minha mãe era filha de um marinheiro que a teve com uma prostituta do outro lado do continente. A mãe dela morreu no parto e o pai a carregou até Trenity, onde a deixou no bordel. Minha mãe se fez prostituta e me teve, com um homem do qual ela sequer se lembra. Meu nome é Breanna mas Brea era melhor para trabalhar. Mais curto e memorável. Quando eu tinha treze anos, minha mãe fugiu com um ladrão procurado e me deixou sozinha, para cuidar de mim mesma. Fui criada bem mais esperta que as outras mas ainda no meio de toda aquela luxúria. A única maneira de eu ascender foi virando cortesã, onde tivr que me manter durante os anos seguintes. Até vocês me acharem. "

Meu coração se apertou por ela. Minha vida não tinha sido fácil mas eu nunca tive que vender meu corpo. Nunca tive que fazer qualquer outra coisa além de treinar mas não era uma coisa ruim. Eu sempre tive tudo.

Thierry segurou a mão dela. "Sinto muito por sua mãe."

Brea riu. "Está tudo bem. Eu quase não me lembro mais dela. "Mas eu vi a mentira em seus olhos. A dor e a saudade. Eu conhecia aquele sentimento e me sentia empática para com ela.

"Estamos aqui agora. Você nunca mais vai precisar fazer isso de novo. Eu prometo. "Eu disse e Heyden apertou meu ombro em apoio.

Os olhos dela marejaram. "Amo vocês. Tem pouco tempo desde que os conheço mas eu amo. Obrigada por estarem aqui agora. "

"Somos leais a você e somos leais um ao outro. Não importa o que a profecia disse, eu não acredito que vá haver um traidor. Pelo menos não um de nós. "

A Ruína da RainhaWhere stories live. Discover now