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Prendi firmemente o cinto da espada no resto da roupa.

Respirei fundo e me olhei no espelho.

Não era permitido que nós nos vissemos antes da luta, então cada uma de nós estava numa suíte da arena, se preparando.

No espelho à minha frente eu podia ver a calça justa de couro reforçado, as botas até o joelho, a blusa com mangas até a dobra do cotovelo também de couro reforçado. Cotoveleiras e ombreiras de titânio estavam posicionadas. Eu usava braceletes de titânio que protegiam metade dos meus antebraços.

Meus cabelos estavam entrelaçados numa trama complexa de fios que formavam uma trança que escorria pela minha espinha.

Um diadema de titânio estava preso na linda do meu couro cabeludo. O diadema era uma peça linda e só ela já era uma arma. Tinha três pontas que desciam e se afunilavam, como lâminas. As duas da lateral desciam até a altura da minha têmpora e a central descia pelo meu nariz. A pontas eram afiadamente finas e mortais.

Uma criada da rainha havia vindo há pouco dizer que eu tinha mais cinco minutos.

Prendi o escudo às costas e segurei a espada firmemente em minha mão.

Do espelho, assim, eu realmente parecia como a próxima rainha.

Já era noite, o pôr do sol devia ter sido há pouco mais de meia hora.

A criada retornou depois de exatos cinco minutos e me disse que era hora.

Eu poderia levar meu escudo e uma arma de minha escolha, que obviamente era a espada. Sabia que a maioria também escolheria a espada. Antracia levaria a espada, Eribeth também, assim como Deiopeia. Mas eu não tinha certeza se Colima o faria.

Havia também uma faca longa de combate presa do outro lado do meu cinto.

Andei com calma pelos corredores, um contraste gritante para com meu coração acelerado e acelerando.

O caminho foi mais longo do que eu imaginaria. Mas assim que cheguei à arena, senti o ar morno da primavera.

O chão da arena era de areia e havia uma gigantesca fogueira no centro dela, onde provavelmente era nosso ponto de convergência, já que cada uma de nós saia de um lado da arena.

O camarote da rainha era rebaixado, perto o bastante da fogueira para que nós a ouvissemos se ela falasse. A arena em si estava vazia, exceto por alguns poucos​ criados, nobres e alguns militares, que se apinhavam perto do camarote da rainha para ver a ascensão da nova governante.

Paramos ao redor da fogueira, espaçadas por cerca de dois metros e meio.

No camarote da rainha estavam quatro pessoas: Yriana, Pátracos, Kalamhos e Archer. Eu pouco havia visto o irmão da rainha desde nosso beijo no jardim.

Quando paramos para ouvir o pronunciamento real, Yriana se levantou.

"Hoje nos reunimos na arena que foi a vida de nossos antepassados, que aqui escolhiam tanto seus governantes quanto resolviam seus desentendimentos. Mostramos respeito a eles hoje, honrando sua tradição. " Sua voz ecoava facilmente pela silenciosa arena e a floresta de pinheiros que nos cercava ajudava a fazer tudo ainda mais silencioso. "Hoje escolhemos nossa rainha, minha sucessora, que reinará com sabedoria, honra e glória, mas também com amor. Sua espada nunca se abaixará, seus olhos nunca se cansarão de permanecer alerta e seu escudo defenderá nosso reino. "

Todas nós gritamos em concordância, levantando nossas armas em sua direção, não num gesto de desafio ou desonra, mas num que lhe dizia que aceitavamos o juramento.

"Sem nos prolongar ainda mais, vamos às regras desta luta. Vocês não desistirão até que eu tenha tomado minha decisão, não usarão de golpes chulos para vencer e se suas armas caírem ao chão, devem deixar o oponente partir para o próximo adversário e pegar sua arma. " Yriana disse sombriamente.

Eu seguro firmemente minha espada e levantei muito escudo. Do outro lado da fogueira estava Colima.

Seus cachos estavam ao redor de sua cabeça como a juba do leão em seu escudo e um diadema de brilhantes fazia com que ela me lembrasse uma estrela. Ela estava lindamente mortal naquela noite.

Eu pisquei para ela e em resposta ganhei um sorriso selvagem, nossa própria forma de demonstrar boa sorte.

Senti uma coisa estranha formigando em minha espinha, uma sensação que eu jamais havia sentido. Senti uma espécie de urgência para correr numa determinada direção mas ignorei esse sentimento. Era apenas o pânico e a ansiedade da luta.

"Que se inicie a luta!" Yriana gritou e uma sirene alta soou.

Era hora de pegar minha coroa.

A Ruína da RainhaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora