Confissão Sombria

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SOPHIA CASTILHO

Andar pela cidade em busca de alguma testemunha do crime que ocorreu em um parque – especificamente em uma trilha – não era a tarefa mais agradável ou instigante, entretanto era necessário. Eu iria pegar o estuprador e mostrar ao delegado que eu era útil. Continuei caminhando pela cidade até parar próxima a trilha.

— Com licença – Sorri para um homem que estava sentado em um dos bancos. Naquele horário, poucas pessoas estavam no parque. O sol era forte contribuindo para uma sensação extremamente quente. – Hoje esta quente, hein? – Perguntei sem mostrar o meu distintivo, o qual estava escondido no bolso de minha calça jeans. A minha blusa branca justa estava molhada de suor. – Posso me sentar? – O homem deu de ombros ao olhar para o espaço vazio ao seu lado. Ele não parecia ter mais do que quarenta anos, seus olhos estavam fixos no inicio da trilha. Suas roupas eram simples e não havia nada nele que me fizesse acha-lo suspeito. Sentei ao seu lado sorrindo. – A vista é realmente bonita. Já fez essa trilha?

—Não – Respondeu friamente sem me encarar.

— Sente vontade? Quero dizer, está olhando fixamente para a trilha.

O homem se levantou abruptamente, voltou sua atenção para mim e em seguida suspirou.

— Minha mulher foi morta nessa trilha. Venho aqui todos os dias tentando achar o assassino, policial – Revelou ao esboçar um frio olhar.

— Policial? – Eu não havia dado pistas e muito menos falado alguma coisa.

— Sua arma nas costas lhe denunciou tanto quanto suas perguntas – Disse antes de se afastar rapidamente.

O que estava acontecendo com todos naquela cidade? Todo mundo estava sendo assassinado.

Eu deveria ser mais discreta.

Pensei ao passar a mão pelos meus cabelos.

***
ISABELLE ORSINI

O cheiro sufocante de limpeza do quarto era o mesmo que embalava minhas recordações em meio aos inúmeros pesadelos que eu possuía desde que havia fugido. Respirei fundo ao olhar para a porta mais uma vez como se estivesse a espera de sua presença. Como se esperasse que Dimitri abrisse a porta e me abraçasse novamente.

O que havia de errado comigo? Eu não sabia.

— Isabelle – A voz dele fez com que eu desse um passo para atrás, sentindo a parede atrás de mim. – Precisamos conversar – Eu sabia que ele tinha razão, contudo continuei em silencio. Temia que Dimitri novamente enxergasse a verdade através de mim. Enxergasse o meu medo, meus pesadelos e minha impureza. Continuei em silencio esperando que ele fosse embora até ver a maçaneta girar. Nenhuma porta naquela vila possuía trancas. – Isso não é o correto, mas podemos estar sendo vigiados – A forma racional com que eu falava cada uma de suas frases fazia com que eu me sentisse uma tola.

Passei a maior parte do tempo fugindo dele. Fugindo daquela religião, então por qual motivo Dimitri conseguia sempre estar um passo a frente de mim? O que havia feito de errado para continuar sendo lenta?

— Sei que deseja ficar sozinha – Ele começou falando ao permanecer parado em frente a porta. De alguma forma, sabia que estava segura com ele ao meu lado. Isso era algo irracional de se pensar quando recordava de seu nome. De sua família. – Estava me abraçando um segundo atrás.

— Me desculpe – Murmurei ao abaixar a cabeça.

— Não deve se desculpar por algo assim. Jamais – Escutei seus passos em minha direção e não me movi. Meu corpo continuou parado esperando algo. Esperando que ele fizesse alguma coisa ou dissesse algo. – Provavelmente vai acabar me odiando – Dimitri falou ao segurar em meu braço, puxando-me em direção ao seu próprio corpo. Senti o seu calor e o seu cheiro. Não demorou para seus braços rodearam o meu corpo.

Império [Degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora