Reza após o jantar

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Isabelle Orsini

O oxigênio não parecia existir ao olhar para a mansão a minha frente. O corpete do vestido longo na cor azul me deixava com dificuldade em respirar. A forma como apertava os meus seios me fazia ter vontade de gritar ao sentir os olhares dos homens.

O vestido escolhido por Dimitri não era vulgar, contudo evidenciava o meu corpo de forma repulsiva ao afinar a minha cintura destacando os seios. Eu estava como a maioria das mulheres.

— Basta ficar calma – Dimitri falou ao segurar em minha cintura, ao me guiar em direção a entrada da mansão. O convite se encontrava em sua outra mão. De soslaio, reparei na forma como o a calça escura de linho moldava suas pernas, o smoking escuro não diminuía os braços fortes. Seus cabelos estavam presos em algum tipo de coque e mesmo sabendo a importância da aparência, não fez a barba. – Estamos quase lá – Garantiu ao sorrir para um dos seguranças ao mostrar o convite. Percebi a forma como todos olhavam para Dimitri. Olhares repletos de inveja e escarnio.

Talvez ele esconda mais do que imaginei.

Mas o que seria?

Estou pensativa ao ponto de não perceber a aproximação de um casal, dou conta somente ao sentir um aperto em minha cintura. Dimitri parecia estar atento a tudo ao nosso redor.

— Dimitri Petrovis, é sempre bom vê-lo – A voz do homem era alto o suficiente para que algumas pessoas nos encarasse. – Vejo que finalmente a encontrou – Passou a língua pelos seus próprios lábios ao me encarar – Maria L. – Olhei para a mulher em pé ao seu lado afim de tentar esquecer a forma como ele havia me chamado. A mulher mantinha a cabeça baixa e as mãos em frente ao seu corpo. O vestido dela era lindíssimo, longo com pedrarias por todo o corpete e cumprimento, contudo eu sabia que não importava o quão belo fosse o vestido, ela se sentia inferior aos homens a sua volta. Como eu me senti um dia – Ela realmente foi bem adestrada – Falou gargalhando. Talvez não tenha escutado alguma pergunta, mas não me importei.

— Ela não é um animal para ser adestrado – Estou sendo defendida por um Petrovis. A situação era de tamanho absurdo que até o homem a minha frente o olhou intrigado. – E nunca mais se refira a ela desta forma.

— Dimitri, já olhou onde estamos? – O homem perguntou ao sorrir como se tivesse ganhado a guerra. – Todos aqui pensam como eu, deveria medir suas palavras.

—Não preciso disso – Sorriu convencido. A mesmo postura que vi na delegacia, retornou – Sou um Petrovis. Sou o herdeiro de uma das quatro famílias. Deveria me respeitar.

Consegui evitar que gargalhasse diante do olhar de desprezo do homem, o qual se afastou levando a mulher consigo.

Sentia pena por ela.

Sabia o que ela deveria estar passando.

— Eu disse que iria protege-la – Sussurrou em meu ouvido segurando em minha cintura para evitar que eu me afastasse – Agora vem a parte do jantar. Ficará sentada ao meu lado e tente não se incomodar com os olhares.

—Olhares? Por que iriam me olhar?

— As mulheres devem sentar em um lado da mesa ficando de frente para seus maridos.

—Supostamente deveria fazer o mesmo então.

— Não – Negou firmemente – Sentará ao meu lado.

—Eles vão estranhar.

— Sou a ovelha negra, não se importe com isso.

O que Dimitri queria com aquilo tudo? Perguntar a ele não traria resultados. Em meio a minha insensatez, me deixei ser guiada até a sala de jantar, onde a enorme mesa de jantar preenchia o ambiente, e a frente de cada cadeira havia um arranjo de flores simples. Uma flor na cor branca. Na mente doentia deles deveria representar pureza. Eles eram nojentos. Permanecemos parados na entrada, observando. As mulheres se dirigiram para o lado esquerdo espontaneamente, separando-se de seus maridos, eu já estava prestes a fazer a mesma coisa quando percebi que Dimitri segurava o meu braço. O olhei, indagando em silencio o que ele estava fazendo, mas o delegado sorriu para mim, como se tudo estivesse prestes a explodir.

Império [Degustação]Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu