Gratidão

90.4K 7.1K 2.4K
                                    

ISABELLE ORSINI

O silêncio se tornou constrangedor assim que entramos em seu apartamento. Eu não sabia como agir mesmo depois dele ter me defendido como prometera. Minhas mãos suavam ao apertar uma contra a outra.

Desde que entramos, não movi um centímetro. Permaneci parada próxima a porta mesmo escutando os passos dele no interior do apartamento.

— Vai ficar ai a noite toda? – Perguntou ao me encarar inexpressivo. Ele segurava um lençol e um travesseiro – Eu disse que ficaria com o sofá. Pode trancar a porta se isso a fizer se sentir mais segura.

— Eu ficarei com o sofá – Murmurei inquieta ao vê-lo retirar o paletó, jogando-o no chão. A blusa branca parecida com regata que vestia evidenciava seus músculos mais do eu gostaria. – Além do mais, estamos em sua casa.

— Não me importo com isso – Resmungou ao se deitar no sofá, cobrindo-se com o lençol. Fiquei parada como se tentasse compreender as suas ações e cheguei a conclusão que nunca entenderia o homem a minha frente.

Eu deveria agradecer a ele por tudo que havia feito, mas seria o correto?

Eu deveria odiá-lo por pertencer aquela família, mas me vi dependente dele para me defender deles. O que eu estava fazendo?

— Eu acho que devo lhe agradecer – Disse ao abaixar a cabeça, já que não queria ver o seu olhar. – Por me defender deles.

— O que eu deveria fazer? – Sua voz estava excessivamente baixa se comparado ao usual – Eu a levei até lá era minha obrigação lhe proteger.

Engoli em seco ao assentir, inquieta. Dimitri Petrovis era realmente estranho. Dei-me conta ao lhe dar as costas seguindo para o seu quarto, onde tranquei a porta assim que entrei. Na cama havia um lençol extra que ele deveria ter colocado.

— Ele é muito estranho – Repeti ao evitar que um sorriso brotasse em meu rosto.

***
DIMITRI PETROVIS

Minhas costas doíam como se estivessem sido esmagadas e esmurradas durante horas seguidas por uma gangue. Eu não fazia ideia de que dormir naquela sofá velho seria tão ruim.

Provavelmente vou acabar comprando um colchão.

Um colchão com mola? Um com água?

Talvez ortopédico.

Levantei tentando não emitir algum som de dor, contudo ao olhar para a cozinha não consegui evitar que meu olhar permanecesse na figura esguia que movia-se com graciosidade pelo pequeno cômodo. Isabelle estava de costas para mim, cozinhando algo. Conseguia sentir o cheiro de ovo fritando no óleo e de pão quente.

O aroma me impregnou ao mesmo tempo em que a cena se tornara acolhedora. Aquela era a primeira vez que via alguém relaxada daquela forma.

Minha mãe jamais agiria dessa forma.

Meneei a cabeça para espantar as recordações ao me levantar, sem evitar um grunhido de dor ao permanecer em pé. Minhas costas tinha estalado.

Eu estava realmente velho.

— Bom dia – Sua voz era incrivelmente macia e manhosa pela manhã – Estou preparando o café, espero que não se importe.

Como eu poderia me importar? Estava habituado a comer restos de pizza e tomar café puro.

— Não se preocupe com isso, sinta-se em casa – Falei tentando não parecer cansado pela péssima noite – Vou tomar banho e ir para a delegacia.

Império [Degustação]Where stories live. Discover now