4 - O depoimento da mãe

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Quando Filomena Barros viu o inspector arrogante entrar acompanhado de uma mulher elegante, pensou que talvez agora tivesse mais sorte.

Ela já vira esse tipo de quarto/sala em séries policiais. Eles podiam vê-la na parte de trás do espelho e com certeza estavam a olhar para ela, enquanto ela se esvaía em lágrimas sozinha do lado de dentro da sala de interrogatórios. Talvez o facto de tê-la visto chorar e estar acompanhado de uma mulher, que devia ser inspectora, o fizesse ser menos arrogante ou mau. Ainda não sabia bem que adjetivo atribuir ao homem que a ameaçara com dois estalos, depois de já lhe ter dado dois. Era a primeira vez que eram tão brutos com ela após ela desmaiar. Algo que acontecia com demasiada frequência, embora a mulher não tivesse perfeita noção disso.

O inspector que se tinha apresentado com o nome Henrique Santos quando batera à sua porta, sentara-se à sua frente na única cadeira desocupada, com um ar rígido e um copo de café em sua mão, enquanto a jovem mulher bonita se prostrara ao lado, de pé, encostada à parede da sala, atenta a cada gesto, palavra e aspecto facial da mãe da jovem morta.

Núria Manhoso era assim: observadora. Era uma das melhores inspectoras de todo o DIC (Departamento de Inspeção Criminal). Apercebia-se de coisas, que mais ninguém se apercebia. Era extremamente detalhista, o que lhe valera sucesso em muitos casos de homicídio premeditado e defensivo. Tinha um repertório cheio de casos bem resolvidos, porém era emocional e um pouco parcial quando via mulheres que tinham perdido os filhos. Para si, era inconcebível que uma mãe fosse culpada ou tivesse envolvimento na morte de um filho. Não que ela fosse mãe, apesar de ser o maior desejo da sua vida, mas sabia que quando tivesse um filho ela o protegeria de tudo quanto pudesse.

A mulher à sua frente parecia realmente triste. Já tinha os olhos inchados de tanto chorar.

Henrique aproximara o copo de café que tinha tirado antes de entrar à mulher, mas a mulher negou.

- Você não tomou o pequeno-almoço. Devia aceitar. - Disse Henrique parecendo demasiado autoritário para a situação.

- Não tomei não, mas mesmo que eu conseguisse tomar, eu não gosto de café, senhor inspector.

Henrique pareceu ficar um pouco envergonhado, visto que era óbvio, agora que pensava nisso, que Filomena Barros não gostava de café. Por isso é que apesar de ter preparado café para si e Lourenço, se servira a si mesma de chá. Núria nunca deixaria esse detalhe escapar. Por vezes tinha inveja dos dotes perfeccionistas da colega.

- Desculpe - proferiu Henrique, engolindo um pouco do seu amargo orgulho - Núria pode trazer um chá para si - propôs.

- Aceito - concordou a mulher muito séria.

Núria saiu da sala de interrogatórios e dirigiu-se à máquina de cafés mais próxima. Não estava familiarizada com aquela delegacia.

Na verdade, era muito chato ter que sair do DIC situado na Guarda (cidade*) para fazer o seu dever civil nas delegacias mais próximas ao crime. Neste caso, Viseu.

A delegacia de Viseu era muito mais pequena e não oferecia as mesmas condições que o DIC.

Ao aproximar-se da máquina de cafés, foi presenteada com a entrada pomposa do promotor público que ela conhecera a meio de uma conferência há uns anos.

Pensou em como era incrível que o homem estivesse ainda mais charmoso do que antes. Diniz transpirava charme e poder por todos os poros. Os seus olhos azulados, pudera notar, eram iguais aos da filha morta por asfixia e nesse momento pareciam tão mortos e expressivos quantos os da filha.

Vira apenas o homem sentar-se atrás de uma secretária vazia, com Lourenço do outro lado e Jaime ao lado e pegara no copo de plástico ainda a ferver. Meteu um saquinho de açúcar e voltou a passos largos para a sala de interrogatórios. Ela queria perder o mínimo possível daquele depoimento/interrogatório.

Caso Violeta (Andamento)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora