1 - O corpo

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3.12.2017

Passava da meia noite, chuviscava discretamente por a cidade de Viseu e arredores e para uma noite de dezembro, não havia muita circulação nas estradas que davam acesso à cidade. Porém, dentro da cidade era evidente a vida nocturna movimentada: as saídas dos jovens estudantes, as idas ao cinema no último horário da noite... As luzes de natal que já preenchiam a cidade. A cidade já era bonita todo o ano, mas em dezembro, algo mágico acontecia. Toda aquela iluminação por todo lado, o cheiro festivo que pairava no ar, a alegria no rosto das pessoas fazia toda a gente se esquecer dos desastres que aconteciam de vez em quando naquela cidade cheia de rotundas e de carros de todas as classes sociais.

Era estranho pensar naquilo que acontecia a poucos metros daquela linda cidade. Era estranho pensar que um corpo de uma garota bonita jazia algures perto de uma rodoviária na direção a Viseu, mas era a verdade.

O corpo permanecia conservado de certa forma, não fossem os dois graus negativos que se faziam sentir e a brisa gelada que passava a cada dez minutos. Os lábios da garota estavam completamente roxos, mostrando que não havia nenhum pingo de vida ali, os seus olhos grandes e incrivelmente azuis estavam abertos da maneira mais aterradora possível. A sua incrível pele branca tinha perdido totalmente qualquer brilho natural e os seus cabelos estavam em volta da sua cabeça de uma maneira quase propositadamente perfeita.

Era elegante e teria toda a vida pela frente, se um psicopata não tivesse aparecido na sua vida. Um psicopata que ela conhecia melhor que aquilo que desejaria. Um homem calculista, detalhista, perfeccionista e sobretudo e pior de tudo, discreto. A pior qualidade de um psicopata. Aquilo que faz com que seja tão difícil descobrir o que a pessoa é na realidade.

Se seu espírito pairasse sobre o seu corpo, provavelmente se arrependeria da maneira como rejeitava Camila, a companheira doce de seu pai. Agora estava ali, morta. O que acontecera de errado?

...

Por estranho que pareça, embora vários carros tivessem passado por o seu corpo sem vida, nenhum deles parara. Os condutores íam demasiado ocupados preocupando-se com as banalidades da vida, até que um casal de recém-casados entrou pela A25, falando sobre a lua de mel que tinham acabado de passar em Punta Cana.

Alexandra era uma mulher extremamente observadora, capaz de ver uma nota presa num galho a uma velocidade de 70km/h. Era algo que tinha aprendido com o seu pai desde pequena e depois de seis anos de namoro, Filipe já se acostumara aos incríveis achados que a sua mulher fazia. No entanto surpreendera-se quando de repente ela diz "pára". Não que não tivesse habituado a essa atitude por parte de Alexandra, mas passava da meia-noite, como é que ela conseguira ver alguma coisa na penumbra da noite? E algo não estava bem. O seu tom de voz não era o de alguém que encontrou dinheiro. Preocupado e apesar de saber que não devia estar a fazer aquilo, reduziu a velocidade no mesmo momento em que a esposa pediu, começou a tirar o cinto e entrou rapidamente na faixa de urgência à sua direita para parar. Ligou os quatro piscas e ouviu a sua esposa abrir a porta sem ter sequer a preocupação de a fechar e correr para trás.

Foi com horror que Alexandra chegou perto do corpo que almejava sem vida no chão da estrada. Teve vontade de lhe tocar, mas o candeeiro mais perto proporcionava luminosidade o bastante para que pudesse ver os olhos azuis da garota, completamente abertos. Gritou de horror e olhou para o seu marido já ao pé dela, completamente paralisado com a imagem à sua frente. Enquanto Filipe estava em transe, fazendo um ataque de pânico extremamente preocupante, Alexandra liga para o 113 e é atendida por uma voz impessoal. Fôra uma boa ideia meter o celular em alto-falante. Pedia-lhe para clicar em teclas, algo bastante desprezível de se fazer, se estivesse sendo perseguida por alguém que lhe quisesse dar o mesmo fim que à garota que estava à sua frente.

...

A guarda-civil aparecera acompanhada de mais policiais. O jovem casal não saberia dizer quantos carros ali apareceram.
Tinham sido praticamente obrigados a prestar declarações ali bem perto do corpo e Filipe continuava sofrendo de paralisias causadas pelo pânico. Era óbvio que ía ter que marcar consulta no psicólogo depois de ver uma pessoa morta. Esperava não ter que ver mais nenhuma em toda a sua vida.

Não obstante o facto de ser quase uma da manhã, o infeliz casal tivera que se dirigir ao posto da polícia de Viseu, para prestar novas declarações. Filipe estava melhor dos ataques de pânico estando finalmente longe da garota morta, mas Alexandra sentia que tinha levado uma carga de porrada. O seu corpo começava a pesar-lhe. Nunca havia pensado encontrar-se num posto policial à 1h20 de uma madrugada de domingo. Quando chegaram ao posto, acompanhados da escolta que seguia à sua frente e atrás de si, só viram uma única pessoa naquele posto da polícia.

Pensaram que seria como nos filmes, mas não viram o quarto dos interrogatórios ou foram mal tratados. Não tiraram as suas impressões digitais... Enfim, os policiais estavam sendo pessoas normais, cansadas pelas horas e solidárias com o horrível momento que o casal acabara de passar. Não pareciam desconfiados de uma possível participação na morte da garota. "Talvez não estejam fazendo bem o seu trabalho" pensou Alexandra. A polícia de Portugal não era como a NCIS de Los Angeles ou coisa que se pareça. Eles eram conhecidos por a preguiça e o desmazelo total.

...

O celular de Henrique tocou às 2h00 da madrugada. A sua chefe de departamento estava a ligar. Há um tempo que as chamadas na madrugada não aconteciam. A hipótese de não atender não lhe passava sequer pela cabeça. Ele sentia que era importante.

- Sim? É preciso acordar alguém a estas horas? - Perguntou com um resquício de ironia na voz.

- Quando uma garota adolescente é encontrada morta na A25, é - respondeu a mulher mais autoritária que existia na sua vida.

Tereza Ribas era uma mulher de fibra. Soubera há dois dias que estava grávida, mas ainda assim exercia a sua autoridade como mais ninguém poderia exercer. Era ela quem mantia o Departamento de Investigação Criminal (DIC) na ordem. Foi com grande espanto que ouvira da equipa de perícia: "A garota tinha um bilhete no bolso do casaco. O bilhete tem o nome do inspetor Henrique Santos".

Oi, custou, mas após algumas correções, mudanças na história e reavaliações, finalmente este primeiro capítulo está aqui sem mais modificações a fazer

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Oi, custou, mas após algumas correções, mudanças na história e reavaliações, finalmente este primeiro capítulo está aqui sem mais modificações a fazer. Mas se virem erros, agradeço se corrigirem. Estejam à vontade. Não me vou sentir ofendida.

Espero que tenham gostado. Se for o caso, dêem like, por favor. Comentem e façam este livro chegar mais longe. É um grande projeto.

Boa leitura e acreditem, o melhor ainda está por vir.

Caso Violeta (Andamento)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora