2 - O bilhete

24 6 18
                                    


Já morri vezes demais.
O passado não pára de voltar.
Alguém tem de o parar.
Inspector Henrique Santos, lembre-se das suas motivações, do seu passado e encontre o meu assassino.

Ass.:E.L.

Henrique leu e releu o bilhete, sempre com uma expressão estupefacta e a sobrancelha erguida. Não conseguia encontrar sentido naquelas palavras. Era como se a morta estivesse a falar com ele, isso ele sabia, mas como assim?

Não parecia ser o tipo de bilhete que um assassino escreveria e deixaria nas roupas da vítima. Era como um recado, uma súplica para que parassem o assassino.

- Já temos o nome da adolescente morta - disse Lourenço, seu parceiro e melhor amigo chegando ao pé de si com alguns papéis na mão - Agora só é preciso avisar os pais e ser feito o reconhecimento do corpo.

Lourenço pousou os papéis na mesa de Henrique e se dirigiu até à máquina de cafés à sua esquerda. Uma atitude bastante razoável, no seu ponto de vista, sendo 3h da manhã. Lourenço sempre ficava perturbado quando tinha que ver um jovem morto. E Henrique sabia que o seu amigo vinha da morgue. Um lugar que Lourenço não apreciava nem um pouco. O humor negro característico do médico legista também não melhorava a situação.

- Avisas tu os pais? - perguntou Henrique. Ele tentava sempre fugir a essa tarefa. Para si era a parte mais difícil da sua profissão.

Lourenço não se sentia mais à vontade que o amigo para dar a notícia aos pais, mas sabia que Henrique parecia sempre um cubo de gelo quando dava essa notícia.

- Eu dou, mas não agora. São 3h00 da manhã. Ligar-mos agora ou bater-mos à porta agora não vai mudar a situação dela. O Jaime está procurando os contactos nos arquivos.

- O nome? - Perguntou Henrique. Lourenço o olhou inquisidor. - O nome da garota. Qual é o nome dela, afinal? Não disse que já o tinham?

- Á, sim, desculpa. Violeta Barros Sousa. É interessante...

- O nome dela? - Perguntou Henrique levantando-se e dirigindo-se ele também à máquina de cafés.

- Não, idiota. É interessante não haver nenhuma acusação de rapto ou declaração de desaparecimento. Ela está morta desde sexta-feira à noite. É uma madrugada de domingo e ninguém dá pela falta dela? Com certeza quero conhecer os senhores que lhe serviram de pais.

Henrique pensou o mesmo. Talvez por serem 3h00 da manhã o seu raciocínio não estivesse tão rápido, mas do nada, lembrou-se:

- E. L.! Não se trata da miúda morta. Não são as iniciais dela.

- Mas são as iniciais de alguém - comentou Lourenço.

- Pelo menos parece - respondeu Henrique pensativo. Pressentia um enorme mistério em torno daquele assunto - A perícia não detectou mais nada. Nem ADN na carta, nem no corpo...

- Acha que vai ser mais um caso arquivado?

Henrique olhou o colega com um trejeito duro no rosto e deu um trago em seu café.

- Isso parece-me algo em grande. É um trabalho muito limpo, em todos os sentidos. A garota não tem uma única marca no corpo, como se o assassino quisesse manter a sua beleza intacta. No entanto, não lhe fechou os olhos.

Caso Violeta (Andamento)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora