6. O Provador

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Era sábado, o que significava que era meu dia de trabalhar na loja da minha mãe

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Era sábado, o que significava que era meu dia de trabalhar na loja da minha mãe. Ela trabalhava lá durante a semana, alternando turnos com seu funcionário, que era uns 5 anos mais velho que eu, e no sábado os dois folgavam, ficando para mim a responsabilidade de abrir a loja e ficar lá como único atendente. Ao menos aos sábados a loja só abria pela manhã. Meus amigos, os que não estavam trabalhando na loja dos pais, como eu, iam para a praia naquela hora, e, no caminho, passavam lá para me cumprimentar, ou só me fazer raiva mesmo, tentando despertar inveja. E eu tinha inveja. Nem Rebeca me poupava dessa humilhação.

Estava sozinho na loja, com a cabeça baixa, encarando o meu celular e vendo as fotos que meus amigos publicavam na internet em tempo real, da praia, quando o sininho da porta soou. Levantei os olhos para receber o cliente. Para a minha surpresa e completo choque, era Arnaud.

Puta que pariu, pensei. Toda vez que eu via Arnaud era como se fosse a primeira vez. Seu sorriso galanteador, os dentes brancos e alinhados, as marcas de expressão que lhe davam um charme, o cabelo perfeitamente bagunçado que me tirava o fôlego. Arnaud era como uma sereia, ou tritão, saindo do mar seminu, coberto por algas, com seu feitiço que me hipnotizava e me atraía para o fundo do oceano.

- Bonjour - exclamou, tirando os óculos escuros e revelando seus olhos verde-amarronzados. - Não te vi hoje no café da manhã.

- Bom dia - respondi. E então expliquei: - Nos sábados eu saio cedo, para abrir a loja.

- Ah, bom - falou, começando a caminhar pela loja, observando os cabides.

Vestia o mesmo short branco. Ele não tinha outra roupa? Pelo menos era outra camisa que vestia. Uma rosa claro, quase branca, também folgada e também de botões. Só o primeiro estava aberto. A camisa estava ensacada no short, então eu podia ver sua bunda. O short branco, esticado pela curva de seu traseiro, ficava um pouco transparente, e eu podia ver a costura de sua cueca, por baixo. Suspirei ali sentado atrás do balcão.

- Procura alguma coisa em específico? - perguntei, tentando distrair a mente.

A loja vendia roupas de praia, sungas, biquínis, shorts, regatas, vestidos leves, cangas, bolsas de palha, óculos de mergulho, de sol, bonés e assim ia. Tantas coisas que ele poderia estar procurando...

- Uma sunga - respondeu.

Trinquei os dentes. Não podia ser outra coisa?

Levantei-me da cadeira e fui mostrar a ele onde ficavam as sungas.

- Você deve entender de moda praia melhor que eu - falou, sorrindo. - Qual você indica?

Só pode estar de brincadeira. Visualizei em minha cabeça aquela sunga laranja horrorosa com a qual ele havia chegado na ilha, aquela escrito Dortnellas na bunda. Não era a cor certa para ele. Visualizei seu corpo, branco, avermelhado, beijado pelo sol, suas curvas, músculos, pelos e sinais. Seu cabelo liso, levemente ondulado, permanentemente emaranhado pelo vento, volumoso. Sua sobrancelha despenteada - que vontade eu tinha de lamber meu dedo e passar nela, para ajeitá-la! - sua barba mal feita. Visualizei seus olhos, imensos, do tamanho de todos os oceanos juntos, do tamanho do Pantalassa, o oceano que banhava a Pangeia, os tons terrosos, verde e castanho, juntando-se e formando um mar de estação chuvosa. Sabia qual era a sunga perfeita para ele, a sunga que eu queria vê-lo usar. Escolhi um tom verde escuro da cor exata de seus olhos. Obviamente, apontei despretensiosamente, fingindo não dar a mínima, fingindo não ter pensando no assunto, como um vendedor que quer se livrar do cliente logo, apontando para uma roupa qualquer.

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⏰ Last updated: Dec 27, 2017 ⏰

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Ilhados - [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now