4. O Toque

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Havia passado o ano inteiro ajudando meu pai com a construção de sua pequena pousada

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Havia passado o ano inteiro ajudando meu pai com a construção de sua pequena pousada. Faltava um dia para ela ser oficialmente aberta, mas havia alguns pequenos ajustes a serem feitos. Retoques na pintura, lâmpadas, tomadas e interruptores a serem instalados. Passei aquela manhã com meu pai, ajudando-o. Rebeca, uma garota da minha idade, estava na beira da piscina, balançando os pés na água, observando-nos. Ela era minha melhor amiga, mas eu só a via naquela época do ano. Morava no continente e apenas passava as férias de verão ali na ilha, enviada pelos pais, que queriam um tempo só para eles, e ficava na casa da avó, nossa vizinha. Conheci-a quando éramos duas crianças entediadas e sem amigos. Meus pais conheciam sua avó e logo nos juntaram, trazendo ela para brincar em nossa piscina. E assim, eu esperava todo ano pela melhor de todas as estações, o verão, trazendo o Sol e Rebeca. Ela era descendente de japoneses e suas bochechas, claras, estavam avermelhadas por causa do calor. Ali no sol, seus cabelos pareciam ainda mais pretos.

– Você deveria nos ajudar em vez de ficar aí só observando – resmunguei, enquanto ela bebericava o chá gelado que minha mãe havia servido. Rebeca estava de maiô, frequentemente vinha até a nossa casa tomar banho de piscina, já que na casa de sua avó não tinha. Muitas vezes ela chegava sem avisar.

– Eu não – sentenciou, então colocou o copo de lado, sob a sombra de um guarda-sol, e mergulhou na piscina.

Apressei-me, queria me jogar na água com ela. O sol estava escaldante e o ar extremamente quente e abafado. Havia começado o trabalho vestido, mas, àquela altura, encharcado de suor, já havia tirado a camisa e trabalhava apenas de short. Por baixo do short, porém, vestia uma sunga, pronto para me jogar na água.

– Tome banho antes de mergulhar, tá todo sujo de tinta – observou meu pai, quando terminei de instalar os interruptores e verifiquei que todos funcionavam.

Na borda da piscina, mármore fervente, tirei meu short, joguei-o em uma cadeira espreguiçadeira que ficava ali ao lado e corri até o chuveiro. Aquela água fresca e gelada correndo sobre minha cabeça quente era a melhor sensação do mundo. O choque térmico.

Pulei na piscina, recebi uma reprimenda de meu pai por ter molhado tudo ao redor, e me aproximei de Rebeca, que tinha na cara o seu risinho desconfiado.

– O que foi? – perguntei. Achava que ela tinha feito algo errado. – Você não acabou de fazer xixi na piscina não, né? – Ela já havia feito isso antes.

– Quem é aquele moço lá em cima? Não olhe! – disse, apontando com o polegar para trás de si, onde estava a varanda do quarto do meu irmão, ou o quarto de Arnaud.

– É um hóspede novo, chegou antes do previsto. Vai ficar lá na casa enquanto não terminamos aqui – expliquei.

– Ele estava te olhando enquanto você tomava banho. Acho que é veado – ela falou, ainda com o risinho sapeca.

Ilhados - [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now