Capítulo 18

369 65 0
                                    

Gael

Acompanhando os passos de Danny Olton, eu me apresentei quando a vi parada, próxima a uma das caixas de som. Ela, por sua vez, desculpou-se pelo atraso, falou sobre uma urgência familiar, que precisou ir a um interior próximo a São João do Sóter, onde seu celular costumava ficar fora de aérea. De qualquer forma, não adentrei naquele assunto. Por causa do horário, foi um contato rápido. Entretanto, antes que ela se dirigisse ao palco, o Sr. Otávio veio até nós e a agradeceu por estar ali.

Minutos depois, assim que Danny finalizou o teste dos equipamentos de som e tocou a primeira música, senti-me aliviado por ter conseguido firmar com o meu compromisso. Enquanto a maioria das pessoas permaneciam em suas cadeiras, eu estava de pé, em frente ao palco, com os braços cruzados — encantado por fazer parte daquele evento. Com um sorriso no rosto, às vezes eu olhava para as luzes coloridas; outras, para a decoração das paredes e mesas.

— Pronto, Gael! — disse o Sr. Otávio. — Você já fez sua parte! Agora pode se divertir um pouco, até porque aqui ninguém é de ferro.

— Isso tá bem melhor do que imaginei!

Por alguns minutos, não tive nada do que reclamar, mas logo notei o quão desconfortáveis eram os tênis que eu usava. De uma hora para outra, eles pareciam ter encolhido; sentia como se, aos poucos, os meus dedos tivessem sendo esmagados. Fiquei tão chateado com isso que até cogitei ir em casa trocá-los, mas desisti da ideia porque achei que perderia a melhor parte da festa.

— Só uma coisa — o Sr. Otávio voltou a falar —, não deixa a Beatriz te ver sem esse negócio aí na cabeça, por tudo o que é mais sagrado! — referiu-se à bandana que eu segurava.

Seguindo a recomendação dele, eu ergui o pedaço de pano e o envolvi contra a minha cabeça. Depois de alguns minutos, afastei-me e, a alguns metros de distância, revi alguém que eu não via há tempos. Sentado ao redor de uma mesa vazia, Leonardo, um aluno da época em que eu era voluntário do Centro Comunitário ergueu a mão, acenando para mim.

Sem demora, aproximei-me dele e o cumprimentei:

— Leonardo, quanto tempo! Tu tá quase do meu tamanho, moleque. Já tem até chances de jogar pela seleção municipal de vôlei.

— Pois é, nem eu acredito que cresci tanto. Vôlei? Que nada! Faz muito tempo que não jogo uma partida — levantou-se por um instante e arrastou uma cadeira para perto de mim. — Senta aí, professor!

Ao me acomodar na cadeira de madeira, abaixei a mão e folguei os cadarços dos tênis. Após isso, falei:

— Oxe, e tu não tem mais ido ao Centro Comunitário, não?

— Eu não vou lá desde o ano passado — sacudiu os ombros. — A minha vida virou de cabeça pra baixo nos últimos meses.

— E o que aconteceu? Quer dizer... Se não se incomodar em me contar, é claro.

— Então... — disse, entre pausas. — O meu pai é daquele tipo bem preconceituoso, sabe? Pra ele, homem só pode jogar bola com o pé, não pode ter roupas cor de rosa ou lilás, tem que entender de carro, entre outras coisas. E, meio que, os meus gostos sempre contrariaram os dele. Então, teve um dia em que ele me confrontou e me perguntou se eu era gay. E quando dei a resposta que queria ouvir, ele me botou pra fora de casa.

— O quê? E... — gaguejei. — Mas isso é errado! Antes de tudo, tu é um ser humano como qualquer outro. E, o pior, é apenas um adolescente!

— Engraçado, a minha irmã reagiu quase da mesma forma... Agora, sobre o meu pai, é complicado porque, na cabeça dele, eu já sou capaz de me virar sozinho.

Entre Bodes e Flores Onde as histórias ganham vida. Descobre agora