Beleza azul

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IGNEEL YAMAGUCHI BAGUNÇOU O CABELO NOVAMENTE. Sinceramente... Qual era o problema com sua mãe e Layla? Será que tinham tirado o dia para fazê-lo de piada?

Bufou exasperado, observando estudantes com o mesmo uniforme que o seu passarem ao seu lado, conversando animados com estudantes que há muito não viam ou com quem haviam acabado de fazer amizade.

De repente sentiu medo. Muito medo.

Queria voltar para casa. Para suas roupas, as piadas de Layla e seus livros. Até mesmo para o mau humor de sua mãe.

Igneel odiava se sentir impelido a socializar. Ainda mais sendo da maneira que era: de altura mediana, magricela e nerd. Não era a combinação mais popular entre os estudantes, a não ser aqueles que viam-se na mesma condição que ele.

Lamentou mais uma vez Layla ter ido para um colégio feminino.

— Humph! Aquela grande traidora! — Acusou, fazendo seus pensamentos esvaírem por sua boca. Notou que algumas pessoas na rua o observaram por isso e não pôde evitar sentir o rosto corar, coisa que o fez abaixar a cabeça envergonhado.

Por que ela tinha que ir para um lugar diferente?, pensou em seu íntimo. Ir para um lugar sem Layla o deixava muito exposto.

— Ei! Não façam isso! — Gritou uma garota, a voz vindo de um beco próximo de onde o Yamaguchi se encontrava. Ele ouviu algumas risadas masculinas e sentiu as próprias pernas tremerem. Era melhor dar o fora dali o mais rápido possível, no entanto a frase seguinte da garota o fez cortar esses pensamentos: — Estou falando sério!

O que seus heróis pensariam se estivessem nessa situação? O que Layla faria?

Não fugir, com certeza.

Igneel respirou fundo e aproximou-se da entrada do beco. Haviam quatro adolescentes e uma garota de longos cabelos negros ali. A garota tinha o rosto escondido pela penumbra, porém dava claramente para perceber que estava a ponto de chorar. Os jovens que perturbavam-na faziam comentários nada agradáveis sobre sua aparência e remexiam nas coisas da bolsa dela.

É como as cenas dos livros de romance que li, Igneel lembrou-se. Seria exatamente nesse momento em que o herói apareceria e salvaria a donzela em perigo. O estômago do rosado chegou a tremular de antecipação por ver um resgate ao vivo. Antecipação não-válida, pois o garoto logo percebeu que ele deveria ser o herói naquela situação.

— Merda. — Gemeu. — É isso que acontece quando sua melhor amiga e namorada não vai para a mesma escola que você! — Praguejou.

Yamaguchi inspirou profundamente e, em um ato de coragem, entrou no beco fazendo o máximo de barulho que conseguia — o que não era muito, mas fora o bastante para chamar a atenção dos yankees.

— Vocês deveriam tomar vergonha na cara! — Exclamou, e sentiu-se orgulhoso por sua voz não ter saído tremida.

Os quatro garotos viraram-se para ele.

Em menos de dois minutos, Igneel encontrava-se no chão totalmente surrado e machucado.

— Você está bem? — Indagou preocupada a garota, aproximando-se e revelando seu belo rosto que era ainda mais encantador pelos olhos azulados que pareciam jorrar preocupação nele. Diferente do que Igneel imaginara, não haviam resquícios de qualquer vontade de chorar ali.

Ele sentiu o amargo gosto de sangue em sua boca, então optou por apenas fazer um sinal com o polegar.

— Você... — Murmurou, observando-o fixamente. — É realmente fracote, hein?

Os olhos mel azulados dele foram de encontro aos dela, que agora pareciam cheios de sinceridade.

— O quê? — Perguntou, a boca doendo e um filete de sangue escorrendo do lado da boca.

— Wah! Eles lhe machucaram bastante. — Comentou. — Espere um pouco. — Levantou-se. — Vou resolver isso.

Quê?, pensou o rosado, observando-a se aproximar do grupo de garotos e chamar-lhes a atenção.

— Não apenas me irritaram — começou ela —, como também feriram alguém gentil. Merecem uma boa surra.

O mais alto do grupo riu, aproximando-se dela.

— E o que vai fazer? Nos esmurrar com esses seus punhos pequenos? — Aproximou sua mão da cabeça dela. — É melhor você ficar...

A garota pegou o braço estendido do jovem e o virou, torcendo-o. Em seguida, forçou a cabeça dele para baixo e acertou uma joelhada no plexo solar, usando tanta força que ele desmaiou instantaneamente.

— Zutto! — Exclamaram os comparsas dele, olhando irritados para a mulher.

— Sua...! — Sibilou um baixo e gordo, correndo até ela. Utilizando-se do mesmo principio ela pegou o braço dele, começando a torcê-lo, mas mudando de última hora e jogando-o por cima de seu ombro.

Os outros dois tentaram emboscá-la vindo um de cada lado, porém com destreza ela acertou-os com um chute. No primeiro direto no pescoço e o segundo nas costelas.

Igneel piscou os olhos, desacreditando no que havia acabado de presenciar.

A garota caminhou até onde sua bolsa e os óculos dele estavam jogados e os pegou.

— Aqui. — Devolveu a armação. — Ainda bem que não quebraram. — Sorriu, e o rosado jurou que foi como olhar diretamente para o Sol. — Espere um pouco... — Remexeu na bolsa à procura de algo. Por fim tirou um lenço branco com bordas rendadas dali. — Use para se limpar. — O sinal da escola tocou e ela virou a cabeça para ouvi-lo melhor. — Bem, tenho que ir. Obrigada pela sua ajuda... ou quase isso.

Acenou para ele e desapareceu logo em seguida.

Igneel levantou-se, sentindo todo seu corpo doer.

... O que fora isso? Ele devia ganhar o prêmio de resgate mais falho! Primeiro apanhou sem ter chance de revidar, depois foi salvo por quem deveria ter salvo!

Pegou o lenço dela e o observou, notando que havia um nome bordado ali.

Honoka Dragneel.

Era o nome dela?

O Yamaguchi franziu o cenho. Era um nome difícil demais para se lembrar. Ainda bem que está costurado no lenço, agradeceu mentalmente.

Lembrou-se que o sinal que tocara um tempo atrás era o de sua escola, o que significava que estava atrasado.

— Merda! — Voltou a praguejar, saindo correndo do beco e pisando nos delinquentes de antes sem se importar.

Ajeitou os óculos no rosto e enfiou o lenço no bolso traseiro da calça escolar. Teria que pensar na bela garota que possuía uma beleza azul e expressiva em seus olhos em outro momento. Afinal, não era como se fosse alguém importante em sua vida.



~~~N/A~~~

"... Mas ia ser."
Esse capítulo é sobre como o Igneel conheceu Honoka. Claramente dá para ver que ele não chegou a considerá-la nada mais do que uma garota parcialmente assustadora...   

Todos são estranhos, afinalWhere stories live. Discover now