Dia 1 (pt. 2)

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HEY!

Tem alguém vivo? hahahahahahahahahahah desculpa, não teve graça

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Os olhos de um Jacob à beira da loucura e de um Connor destruído se cruzaram, e os dois sustentaram o olhar por um longo tempo, mais de dez metros de distância um do outro

Nenhuma palavra foi dita. Nenhuma. Nenhum passo foi dado, em direção nenhuma. Nada. Não havia nada a ser dito. Ruthie Lindsey colocou a mão nas costas de um Jacob desolado, olhando para Connor Franta, do outro lado da sala de espera. Jedidiah Jenkins colocou o braço ao redor da melhor amiga, e Connor não tinha ninguém. Ele continuou em pé, assistindo Jacob Bixenman ser consolado por dois dos melhores amigos.

Não havia mais ninguém ali. A sala 2 de espera do Centro de Emergência estava vazia, a não ser pelas quatro pessoas dividindo o mesmo luto.

Inimaginável. Era a palavra no cérebro de Connor naquele momento. Troye Sivan morto era uma coisa inimaginável. Por um breve segundo, vendo Jacob virar de costas para ele e soluçar, aos prantos, Connor imaginou um Troye loiro, um Troye que ele não conhecia mais entrando por aquela porta, abraçando o rapaz de um metro e oitenta e oito de costas para si. E Connor quis aquilo. Ele desejou, do fundo da alma, que Troye Sivan entrasse naquele cômodo e abraçasse o homem que ele amava.

Jacob não sentiu que merecia encarar Connor Franta de frente. Por que ele sentiria? Troye Sivan, o homem que ele mais amou na vida não ia mais voltar, e a culpa era do rapaz de Minnesota.

Connor virou as costas, deixando a sala dois e sentou na frente da parede, como se guardasse a porta, como se esperasse qualquer um que tentasse entrar por ela. Ele só esperava que qualquer um não significasse os amigos de Tracob.

O que acontece agora? Quem manda o primeiro tweet? Quem acena com a cabeça para o primeiro repórter? Quem...

A mulher bonita que consolava Jacob, Ruthie, saiu da sala dois e olhou para Connor, lhe estendendo a mão. Connor levantou com a ajuda dela e recebeu um abraço.

- Você pode subir. - Connor respirou fundo e se separou dela, a deixando no corredor, enquanto ele fazia o caminho até o elevador. O mais velho encostou na parede do elevador, na esperança que ela suportasse o seu peso, porque as suas pernas pareciam não suportar. Cada segundo a mais que ele passava naquela caixa de metal o destruíam por dentro.

Connor estava sozinho no elevador.

Por que os corredores dos hospitais são tão grandes?

A última vez que ele e Troye estiveram sozinhos em um cômodo fora naquela noite de fevereiro, em 2016. Os dois se encaravam, na sala da casa antiga do mais velho, e naquele momento não havia mais nada a ser dito. Na época não havia mais nada a ser dito.

Antes de abrir a porta do quarto trezentos e vinte e sete Connor respirou fundo. Agora havia muito a ser dito. Tanto que ele nem saberia por onde começar.

Ninguém tocou no quarto. Foram ordens de Jacob. Ninguém mexeria no namorado, tiraria ele das máquinas, ou do quarto enquanto Laurelle Mellet não se despedisse do filho.

Foi por isso que quando Connor abriu a porta, Troye estava de olhos fechados, deitado na cama do hospital, o monitor desligado, mas todos os tubos e eletrodos ainda estavam conectados ao seu corpo.

Um Troye pálido. Branco como ninguém conseguiria imaginar, os lábios brancos e sem cor, os olhos azuis, tão azuis quanto o oceano Índico estavam fechados. As mãos estavam delicadamente posicionadas fora do lençol, o corpo estava coberto apenas por uma daquelas camisolas descartáveis de hospital.

Por dois anos Connor Franta desejara não ver mais Troye na sua frente. Ele desejara seguir em frente, sem ter que lidar com a ideia de ver Troye novamente. Era o que ele pensou em fazer. Seguir a vida apenas para frente, deixar Troye no seu passado, uma parte do seu passado que o machucara profundamente. Por um breve segundo, um longo, porém breve segundo, Connor Franta sentiu vontade de se matar. Ele não entendeu o porquê, mas aquilo era demais. E durante aquele breve segundo morrer era uma ideia boa, porque naquele momento, se ele não se matasse a culpa o mataria. Ela o mataria aos poucos, todos os dias da sua vida, porque Connor desejou não ver Troye novamente. Ele desejou que Troye fosse parte do seu passado, e apenas do seu passado, e não só por isso. Connor não respondera de volta. Ele não confirmara a Troye que ele estaria esperando por ele no Alchemist também, então talvez Troye tenha sentido a necessidade de mandar outra mensagem, de perguntar, ou de dizer que estava chegando. Connor podia ter mandado. Por que ele não mandara, então? Aquilo também era culpa. E ia matá-lo todos os dias, pelo resto de sua vida.

Connor soltou uma risada pelo nariz, incrédulo. Ele estava vivo. Qual era o objetivo? Por que as pessoas vivem ou morrem?

Ele estendeu o braço e a mão direita pousou em cima da mão direita de Troye e Connor começou a chorar. O toque frio como uma almofadinha que acabara de sair do congelador o assustara. A mão de Troye parecia muito mais inchada debaixo da sua.

Connor ajoelhou no chão, ainda segurando a sua mão, chorando.

- Por favor, não faz isso comigo. - Ele implorou, na esperança que milagrosamente, Troye voltasse. Que Troye apertasse a sua mão, ou abrisse os olhos e olhasse para ele sorrindo. Aquele sorriso maravilhoso que só Troye tinha, que acordara o mais velho durante dois anos. - Por favor.

A resposta não veio. Não havia nada que ele pudesse fazer.

- Eu sinto muito, meu amor. Eu sinto muito. Eu sinto muito. Por favor, me perdoa. - Connor não entendia o que ele estava fazendo, mas ele estava. Ele estava ali, sem Troye, definitivamente sem Troye, e qualquer coisa no mundo seria menos ruim do que o que ele estava sentindo no momento.

Grief is a freight train

No, what's a little pain

When you have so much to love?

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Eu literalmente não tenho palavras

EU. NÃO. TENHO. PALAVRAS. ADEUS.

Freight Train | Troye SivanOnde as histórias ganham vida. Descobre agora