Eu fiquei tensa. Julie tinha razão, mais uma vez. Eu não podia ser a responsável pelo sofrimento dele, não conseguiria viver comigo mesma sabendo que tinha feito algo ruim a ele.

A última vez em que pensei tanto em alguém do sexo masculino foi quando eu achava que era apaixonada pelo Luke. Felizmente, eu descobri a tempo que era nada além de frescura. Amorosamente falando, não se pode esperar muito de uma garota de dez anos. Dois anos depois, eu dei o meu primeiro beijo. Foi tão divertido que eu não via motivo algum para ficar fazendo aquilo com o mesmo garoto quando podia experimentar outras bocas e suas variedades. Soava ridículo até para mim, mas nesse pouco tempo de experiência, eu não era boa com relacionamentos sérios e sentimentos em geral. Para ser mais literal, eu não era boa beijando a mesma boca por muito tempo.

Mas eu olhava para o Tommy e tudo era diferente. Eu poderia passar horas, dias, até semanas, conversando com ele sobre o tempo feliz da vida. Quando ele passou algumas semanas na casa de uma tia no Kansas, cerca de um ano atrás, nós passávamos horas conversando pelo telefone diariamente. Batemos o nosso recorde de oito em um dia. A coisa desandou quando a conta do telefone chegou, mas nós sobrevivemos. Com ele, tudo era diferente, tudo era melhor, tudo era certo. Eu podia não ter muitas certezas em relação a coisas emocionais, mas ele não era uma delas.

— Eu gosto muito dele, Julie. – eu disse e, em um segundo, ela estava sorrindo e no outro já pulava em cima de mim para me abraçar.

— Eu sabia! Eu sabia! – ri com a sua reação. Tínhamos ali a nossa primeira shipper. De repente, ela voltou a sua posição inicial, me encarando mais séria do que nunca. – Você tem três dias.

Arregalei os olhos, assustada com o real significado daquela frase.

— O que?

— Você tem três dias para contar para o Tommy ou eu conto. – repetiu, me deixando ainda mais indignada.

— Você não pode fazer isso! – reclamei, me arrependendo amargamente do dia em que decidi contar à ela.

— Se eu não fazer, você vai guardar isso para sempre! E Jessica Corinne, se eu tiver 60 anos e ter que ouvir você reclamar sobre como devia ter se declarado para o Tommy quando teve a oportunidade, eu te mato!

E agora eu estava ali, prestes a fazer o que poderia vir a ser a maior burrada da minha vida e estragar completamente as lembranças que eu tinha daquela casa da árvore.

Meu coração pareceu tentar pular direto para fora do meu peito quando eu ouvi o barulho da escada rangendo, indicando que ele estava subindo. Poucos segundo depois, sua cabeça brotou pela porta ao chão, que eu havia deixado aberta. Ele sorriu ao ver que eu já me encontrava ali.

— Aí está você! – disse, terminando de entrar na casinha.

— Aqui estou eu. – falei, nervosa, com o sorriso mais forçado do mundo nos lábios.

Se eu já tinha certa dificuldade me locomovendo ali, Tommy mal conseguia se mover sem bater a cabeça no teto ou em alguma parede. Ainda assim, ele foi doce o suficiente para me dar um beijo na bochecha antes de se aconchegar a minha frente.

— Interessante esse lugar que você escolheu para conversar. Nós não viemos aqui há meses. – comentou, olhando ao redor. As madeiras usadas eram resistentes, então tudo se mantinha muito bem conservado. Com exceção de toda a sujeira, é claro.

— É... – foi tudo o que consegui dizer. Meu cérebro não estava funcionando muito bem naquele momento.

— Então, o que você tem para me contar? – ele foi direto ao ponto e eu tive que disfarçar meu desespero. Não era para ser rápido assim!

VERSUSWhere stories live. Discover now