E ENTÃO ALEX DONCEVIC ESTAVA NAS RUAS MUITO ANTES DE Deborah acordar. Na
verdade, ele saiu da cadeia às 17h17 daquele mesmo dia, uma hora e vinte e quatro minutos
antes de Debs abrir os olhos pela primeira vez.
Fiquei sabendo de Deborah porque Chutsky me ligou em seguida, animado como se ela
tivesse acabado de atravessar o canal da Mancha carregando um piano. – Ela vai ficar bem,
Dex. Ela abriu os olhos e olhou diretamente para mim.
– Ela falou alguma coisa?
– Não. Mas apertou a minha mão. Ela vai sair dessa.
Eu ainda não estava convencido de que uma piscada e um aperto de mão eram sinais
precisos de que ela se recuperaria completamente, mas era bom saber que estava fazendo
progresso. Especialmente porque precisaria estar totalmente consciente para encarar Israel
Salguero e seus "Assuntos Internos".
E fiquei sabendo que Doncevic tinha sido solto porque, no tempo entre a reunião e a
ligação de Chutsky, eu tinha tomado uma decisão.
Dexter não é um cara de ilusões, ele sabe melhor do que a maioria das pessoas que a vida
não é justa. Os humanos inventaram a ideia de justiça para tentar equilibrar o jogo e tornar as
coisas um pouco mais desafiadoras para os predadores. E tudo bem. Eu, pessoalmente, acho os
desafios bem-vindos.
Mas apesar de a Vida não ser justa, a Lei e a Ordem deveriam ser. A ideia de Doncevic
ficar livre enquanto Deborah estava debilitada no hospital cheia de tubos entrando e saindo de seu
corpo me parecia tão, muito... Tá bom, eu vou dizer: não era justo. Quer dizer, sei que há outras
palavras que poderiam ser usadas aqui, mas Dexter não vai fugir apenas porque essa verdade,
como a maioria das outras, é relativamente ruim. Senti um senso afiado de injustiça nesse caso
todo, e aquilo me fez pensar no que eu poderia fazer para colocar as coisas de volta no lugar.
Fiquei pensando nisso durante horas de trabalho com a papelada do meu setor e três
xícaras de um café horrível. E continuei pensando durante um almoço abaixo da média em um
lugarzinho que dizia servir comida mediterrânea, que só era verdade se aceitássemos pão velho,
maionese rançosa e frios gordurosos como comida mediterrânea. E depois continuei pensando
por alguns minutos enquanto empurrava coisas na mesa em meu cubículo.
E, finalmente, em algum lugar enevoado e pequeno do cérebro de Dexter, um gongo
baixo e quase mudo soou uma nota bem curta. Bong, ele fez suavemente e as sombras
vagarosamente preencheram a Cabeça Escura de Dexter.
Eu tinha sido acusado de não ter ajudado muito, e acredito que fiquei sentindo a verdade
daquela acusação. Dexter, de fato, não tinha ajudado muito; ele tinha ficado enfurnado no carro
quando Debs foi ferida, e tinha falhado de novo em protegê-la do ataque do advogado da careca