Capítulo 5

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A PROVAÇÃO DAQUELE DIA DE TRABALHO JÁ TINHA SIDO apavorante como um

pesadelo, desde ficar preso sem rosquinhas a manhã inteira até chegar ao aterrorizante encontro

com o que sobrou do sargento Doakes, agora na versão com voz eletrônica. Ainda assim, nada

disso me preparou para o choque que tive ao chegar em casa.

Estava esperando por uma refeição acolhedora e deliciosa e uma boa diversão com Cody

e Astor – talvez uma partida de Chute à Lata no quintal antes do jantar. Mas, assim que estacionei

na frente da casa de Rita – agora Minha Casa também, o que levou um tempo para que eu me

acostumasse –, fiquei surpreso ao ver duas pequenas cabeças com os cabelos despenteados

sentadas no gramado e aparentemente esperando por mim. Como eu sabia que Bob Esponja

estava passando exatamente àquela hora, não consegui imaginar o que os faria ficar sentados

aqui fora em vez de na frente da TV. Por isso, foi com um sentimento de alarme crescente que

saí do carro e me aproximei deles.

– Saudações, cidadãos – falei. Eles me encararam com olhares pesarosos, mas não

falaram nada. Isso era algo que eu esperaria de Cody, que nunca falou mais do que quatro

palavras de uma vez. Mas em Astor isso era alarmante, pois ela tinha herdado da mãe o talento

da respiração circular, o que permitia que as duas falassem sem ter que pausar para respirar. E

vê-la sentada ali sem falar nada era algo quase sem precedentes. Então troquei de língua e tentei

de novo. – E aí, galera? – perguntei.

– Cocô van

1 – Cody falou. Ou, pelo menos, foi o que pensei ter entendido. Mas como meu

treinamento não me preparou para responder algo nem remotamente parecido com isso, olhei

para Astor esperando alguma dica de como reagir.

– A mamãe falou que nós vamos comer pizza, mas pra você será a cocô van, e não

queremos que você vá embora, por isso ficamos aqui fora para avisar. Você não vai embora, né,

Dexter?

Foi um pequeno alívio saber que tinha ouvido certo o que Cody disse, apesar de agora eu

estar tentando entender o que aquilo queria dizer. Será que Rita tinha mesmo dito aquilo? Será que

significava que eu tinha feito algo de errado e nem sabia? Aquilo não me pareceu justo – gosto de

me lembrar e me divirto sabendo que fiz algo errado. E, um dia depois da lua-de-mel, aquilo era

meio repentino, não?

– Até onde sei, não vou a lugar nenhum. Vocês têm certeza de que sua mãe disse isso

mesmo?

Os dois fizeram que sim com a cabeça ao mesmo tempo, e Astor falou: – Rã, rã. Ela disse

que você ficaria surpreso.

– Ela tinha razão – falei, e aquilo definitivamente não era justo. Estava totalmente perdido.

– Vamos – falei. – Vamos dizer a ela que não vou a lugar nenhum. – Cada um pegou em uma

das minhas mãos e entramos na casa.

Dexter - O Design de Um AssassinoWhere stories live. Discover now