UMA DAS GRANDES COISAS A RESPEITO DE MIAMI SEMPRE FOI a total boa vontade de
seus residentes em pavimentar tudo. Nossa cidade começou como um grande jardim subtropical
fervilhando com vidas selvagens, tanto animais quanto vegetais, e depois de apenas alguns poucos
anos de trabalho duro, todas as plantas tinham desaparecido e os animais tinham morrido. É claro
que a memória deles permanece preservada nos muitos condomínios que os substituíram. Existe
uma lei não escrita para que cada novo empreendimento receba o nome do que quer que tenha
sido morto para a sua construção. Matamos águias? Condomínio Ninho da Águia. Todas as
panteras foram mortas? Vida Planejada A Corrida da Pantera. Simples, elegante e normalmente
muito lucrativo.
Não estou sugerindo com isso que o parque Fairchild Gardens era o estacionamento onde
todos os fairchilds e suas tulipas foram mortos. Longe disso. Na verdade ele representava a
vingança das plantas. É claro que no caminho para lá você passava por algumas Baías das
Orquídeas e Vales dos Ciprestes, mas, quando chegava lá, era recebido por um visual de natureza
selvagem formado por árvores e orquídeas quase privado do estrago da humanidade. A não ser
pelos ônibus lotados de turistas, claro. Ainda assim, havia um ou dois lugares onde se podia ver
uma palmeira genuína sem nenhuma luz de néon ao fundo, e em geral eu sempre me sinto
aliviado ao andar por entre as árvores e a vegetação e longe do burburinho das pessoas.
Mas, nesta manhã, o estacionamento estava lotado quando chegamos, pois o parque estava
fechado com a descoberta de Algo Terrível, e a multidão de pessoas que tinham agendado uma
visita estava na entrada, esperando poder entrar e riscar aquele passeio de seus itinerários, e
talvez até ver algo terrível; assim poderiam fingir que estavam chocados. Uma visita perfeita a
Miami: orquídeas e cadáveres.
Havia até dois jovens circulando com suas câmeras de vídeo e filmando as pessoas
paradas e esperando. E enquanto se moviam, gritavam: – Assassinato no Gardens! – e outras
frases encorajadoras. Talvez eles tivessem estacionado em lugares muito bons e não quisessem
perder as vagas, pois não havia mais nem sombra de lugar no estacionamento, a não ser que
você andasse de monociclo.
Deborah, sendo nativa de Miami e policial, dirigiu seu Ford por entre a multidão e
estacionou bem na frente da entrada principal do parque, onde muitos outros carros oficiais já
estavam estacionados, e pulou rapidamente para fora. Quando consegui sair do carro, ela já
estava conversando com o oficial de uniforme ali parado, um baixinho carnudo chamado
Meltzer, que eu conhecia um pouco. Ele apontou um dos caminhos mais distantes da entrada e,
antes que terminasse, Deborah já partira naquela direção.
Eu a segui o mais rápido que pude. Já estava acostumado a andar atrás de Deborah e