Capítulo 4 - Eu Sou Meu Irmão

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Peço desculpas por qualquer erro.

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Já era a hora do almoço quando resolvi conversar com meu irmão. Esperei ele comer direitinho até puxar o assunto.

Ele estava tão pálido, sem vida, tão diferente daquele Xiumin que sempre sorria e brincava, mesmo que de seu jeito tímido e doce.

"Eu queria lhe apresentar alguém." eu comecei, depois da enfermeira levar sua bandeja embora.

Ele olhou para mim um pouco confuso, e percebi que tentou seu melhor para dar um sorriso levemente malicioso.

"Então alguém está de namorico e quer me apresentar a pessoa da qual terei de ter uma séria conversa?" disse, com uma voz ainda fraca.

Confesso que fiquei feliz de vê-lo ao menos tentando se descontrair um pouco.

"Irmão ciumento não combina com você e você sabe!" eu ri, dando um empurrãozinho bem de leve em seu braço.

"Não é ciúmes, é ter certeza que minha irmãzinha está em boas mãos." ele se defendeu.

Balancei a cabeça ainda rindo daquela tentativa de parecer um irmão super protetor. Xiumin era bem cuidadoso, mas não creio que seria um problema para mim naquele aspecto. Ele sempre me pareceu aquele tipo de pessoa que ficará feliz contanto que você estivesse feliz, e que trataria bem qualquer um, mesmo que fosse a pessoa que sua "irmãzinha" estivesse namorando.

"Não é isso." comecei, tentando encontrar em meus pés uma maneira razoável de explicar toda aquela minha ideia maluca, o que não seria fácil, eu mesma não estava acreditando que eu iria tentar aquela loucura.

Em um suspiro, me levantei e peguei minha bolsa.

"Eu já volto." avisei antes de sair do quarto, não dando tempo para meu irmão perguntar para onde eu ia.

Fui até o banheiro e troquei de roupa. Esperei o banheiro ficar vazio para que não houvesse nenhum outro incidente. A última coisa que eu queria era alimentar a minha fama de pervertido. Saí de fininho para não ser notada por ninguém saindo do banheiro feminino.

Cheguei no quarto de meu irmão e fechei a porta com cuidado.

"Posso ajudá-lo?" meu irmão disse num tom educado.

Olhei para ele me observando levemente confuso. Parece que aquele disfarce de fato estava funcionando, e olha que eu nem havia posto a maquiagem que Eunha me ensinou direito.

Me aproximei um pouco de sua cama.

"Não está me reconhecendo?" perguntei, dando uma volta.

Ximiun (o verdadeiro) cerrou um pouco os olhos, visivelmente tentando puxar aquela imagem do fundo de sua memória, sem sucesso, obviamente.

"Sou eu! Moonbyul!" eu disse.

Ainda não entendia como meus próprios irmãos não me reconheciam pela voz, algo que eu ainda teria de tentar engrossar na universidade. Aparentemente aquela minha versão masculina era de fato convincente.

Ele me observou confuso por mais alguns instantes até eu decidir tirar minha peruca.

"Melhor agora?"

Meu irmão me arregalou os olhos e deixou seu queixo cair. Parecia que ele queria dizer algo, mas nada saia de sua boca. Depois de alguns instantes sem reação, ele me estendeu sua mão, seus olhos marejados e um olhar doce. Me aproximei e aceitei sua mão, a qual ele puxou me dando um abraço.

Será que ele havia entendido o plano assim tão rápido? Eu achava isso bem pouco provável, mas então, por que ele estava reagindo daquela maneira?

"Eu tô contigo, tá? Não importa o que aconteça." ele disse entre soluços, ainda me abraçando apertado.

Fiquei um pouco confusa com o que ele disse, então quebrei o abraço para olhar para seu rosto choroso.

"Você sempre será minha irmãzinha, ou irmãozinho, ou qualquer coisa que você seja!"

Agora eu estava perdida de vez. Pera, será que ele...?

"Min, eu não sou trans." eu disse dando uma leve gargalhada.

Apesar de não ser o caso, era muito bom saber que meu irmão estaria do meu lado não importasse o que acontecesse. Eu de fato tinha o melhor irmão do mundo, e talvez o mais chorão também.

"Não é?" ele franziu o cenho.

"Não!" respondi ainda rindo, "Mas me aquece o coração saber que você me apoiaria tanto se eu fosse."

Sequei as lágrimas do chorão, não conseguindo parar de rir.

"Então por que toda essa transformação?" ele perguntou.

"É porque..." comecei, me levantando e pondo de volta minha peruca, "Para a Universidade de Artes de Seul, eu serei Kim Min-seok!"

O queixo do meu irmão agora estava quase no chão. Seus olhos ainda mais arregalados e sua expressão, entorpecida.

"Eu sei que parece insano, mas ninguém te conhece por lá! Além disso, se eu conseguir a vaga para a Universidade de Stanford, ninguém te conhecerá por lá também, o que quer dizer ninguém notará a diferença entre nós! Sem contar que o fato de eu ser sua irmã gêmea facilita muita coisa..."

Meu irmão estava paralisado, parecia ter visto um fantasma. Somente depois de uns dois minutos, olhos colados nos lençóis de sua cama, ele finalmente disse algo, ou melhor, fez algo: chorar.

Sentei ao seu lado lhe dando um forte abraço.

"Isso é loucura!" ele disse entre soluços, "Obrigado! Obrigado!"

Ele me abraçava forte, suas lágrimas molhando todo o terno e camisa do irmão de Eunha. Quando o Chorão finalmente me soltou, ajudei a secar suas lágrimas enquanto ele analisava meu rosto.

"Você parece uma mistura minha com o Minhyuk!" ele comentou.

Eu ri. Todos diziam que eu parecia com nosso primo Minhyuk, que eu poderia ser muito bem ser irmã gêmea dele também. Na verdade, todos sempre disseram que eu parecia com muita gente.

"Eu sei que é uma ideia maluca, mas acho que pode funcionar." eu disse, "Não custa ao menos tentar."

Min Oppa demorou um pouco para dizer algo, uma expressão séria, porém doce em seu rosto.

"Quem mais sabe disso?" ele perguntou.

"Por enquanto, só Yuju e suas amigas. Eunha que fez toda essa produção em mim, na verdade."

Ele sorriu.

"Obrigado, Byul. Muito obrigado."

Ela é o CaraOù les histoires vivent. Découvrez maintenant