CAPITULO- OITO

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Mais um capitulo lindezas.

***

Sofrimento de Sara.

Percebi que esta parte da adolescência dela é muito dolorosa, teve que se tornar adulta, na marra. Ao ouvir suas palavras, senti-me agredida como ela. Deixei-me levar pela emoção, as lágrimas caiam em meu rosto assim como nos olhos dela.

Deixou de ir para a escola assim que terminou o ensino fundamental, a estas alturas, dizia a si mesma que logo retornaria, ia estudar contabilidade, prometera para Ele, seu eterno amigo.

Uma noite, após terminar todos os afazeres domésticos, foi para seu quartinho nos fundos da casa, pegou no sono lendo um livro, o único que tinha e já o lera mais de cinco vezes.

Acordou ouvindo barulhos no lado de fora, saiu para espiar, era Sérgio, filho de sua patroa com mais dois amigos, eles não estavam normais ela pode perceber, pelo tom de voz, saiu e pediu que falasse mais baixo, para não acordar os patrões.

Assim que acabou de falar, o rapaz chegou perto dela abraçou rapidamente, não teve como fugir e falou:

- Gata, hoje você vai ser minha. - Muito assustada, desvencilhou-se, e correu para o quarto, ele foi atrás dela e sendo mais rápido, não deixou que trancasse a porta além do mais estava fora de si.

Sara lutou como pode, mas ele parecia possuído, e após dominá-la chamou seus amigos, passaram se muito tempo, para que eles a deixassem em paz. Ali jogada com as roupas rasgadas, sangrando.

Eles amarraram suas mãos, e pernas, taparam sua boca, e fez com ela tudo aquilo que ela mais temia. Que já ouvia falar, que ouvia nos noticiários, jamais acreditaria que pudesse acontecer consigo.

Horas depois, desvencilhando-se das amarras com muito custo, tapou seu corpo com as mãos e chorou convulsivamente, desejando morrer, o que seria dela agora?

Ficou ali naquela posição, ate que o dia amanhecer, levantou, tomou um banho gelado, e outro quente, desejando apagar o que tinha acontecido.

Pensando estar fazendo a coisa certa e podendo ser defendida, foi contar a dona Dina. A mulher olhou encarando-a com desprezo, e como se fosse comum o que tinha acontecido disse.

- Menina, o que esperava, uma garotinha como você, altas horas da noite acordada, estava pedindo isso, pensa que não percebi como olha para meu filho! Ele é homem, e fez o que você queria. - terminando de dizer isso soltou um riso de satisfação voltou-se novamente para ela. – Agora vá, limpe este rosto e vai limpar esta bagunça que deixaram na varanda, hoje meus filhos vêm me visitar, teremos almoço especial, vamos anda logo, não seja ingrata!

Não podendo acreditar no que ouvia, colocou as mãos no rosto e correu para o quarto, enquanto juntava as poucas coisas que lhe pertenciam, lembrou-se dos últimos acontecimentos, a mulher era uma megera, fazendo dela uma escrava, sem horas de folga ou de lazer, não tinha se importado com isso, por pior que fosse era melhor do que as surras repetidas que tinha em casa.

Terminou de guardar tudo na pequena mala, estava ali a pouco mais de três meses teria um bom dinheiro pra receber. Assim que chegou à parte da frente da casa e Dona Dina percebeu sua intenção, começou a gritar como louca, acusando de roubo, de quebrar objetos:

- Eu conheço bem pessoas como vocês se fazem de inocentes e boazinhas, para nos roubar e tirar o que temos. Suma daqui, sua prostituta antes que eu chame a policia e quero ver o que esta levando neste saco, aposto que tem muita coisa meu ai.

- Não, eu seria incapaz de pegar alguma coisa que não me pertence! – Dito isso a mochila foi arrancada de suas mãos e os pertences jogados em frente ao portão.

- Vai suma daqui, e leva esses lixos de frente da minha casa, sua vagabunda!

Humilhada, juntou suas coisas e saiu, andando sem rumo, as lágrimas escorriam quentes pela sua face, e lhe tapavam a visão.

Chegou ao banco de uma praça, sentou-se ali imaginando, o que seria de sua vida agora? Para onde iria?

Andou sem rumo por algumas horas, lembrou- se da igreja, a freira um dia falou durante o culto de domingo que frequentava que o lar para meninas precisava de ajuda. E ela estava precisando do lar agora.

Chegou até a igreja, falou com o Padre local, conseguiu o endereço sem muitas explicações, ficava ali perto, teria que ir a pé, não tinha um tostão, ao abandonar o emprego, não recebeu nada.

Foi recebida por uma irmã muito simpática, contou parte de sua história pedindo abrigo por algum tempo, foi questionada quanto a seus pais, mentiu, dizendo que era órfã e que estava de casa em casa já fazia alguns anos.

Foi apresentada a 18 garotas, que estavam em uma sala muito ampla, ocupadas com afazeres de bordados e costuras.

Gostou do que viu, tinha uma pequena noção destas coisas, aprender a com sua vó. Nesta hora um nó se formou em sua garganta lembrando-se dos avós que morreram carbonizados, um incêndio no sítio, com falta de energia elétrica, acenderam velas e dormiram para nunca mais acordar, eram os pais de seu pai, o de sua mãe nunca conheceu. No abrigo seria um bom lugar, para se recuperar, e planejar o que fazer.

Os dias que passou lá foram de muita oração, afazeres domésticos. Aprendeu muito com as irmãs, as meninas também vieram de lares problemáticos, desfeitos ou das ruas.

A rotina do lar era sempre a mesma, orações, igreja, caridade em orfanatos e abrigos para idosos, acostumou-se, ate que recuperada dos maus tratos, decidiu que precisava dar um rumo para sua vida, estava para fazer 17 anos.

Teria que voltar a estudar, para concluir seu sonho, sua promessa. Porém novamente não aconteceu como desejava.

Sentindo-se aliviada, por desabafar pela primeira vez as agressões sofridas por ela, Sara baixou a cabeça entre os joelhos e chorou copiosamente, resolvi que por hoje não a faria sofrer mais.

- Bom, acho que por hoje chega, minhas emoções estão à flor da pele, terei que me recuperar para poder, transcrever estas palavras. – Falei ainda abalada.

- Ok Selha, dorme no quarto de hospedes hoje? Já se faz tarde, não gostaria de imaginar você sozinha por esta estrada, não negue, por favor, estamos muito sensíveis hoje para discutir.

Concordei, minha irmã esta fazendo companhia para mamãe, posso tirar uma noite de folga.

- Está bem, ficarei por hoje, amanha pela manha vou para o trabalho direto daqui, vou ligar e avisar minha família. – Completei – Quim, não esqueci a surpresa, heim!

- Não se preocupe na hora certa vocês receberão. Agora vamos descansar, Sara precisa de um bom banho de imersão e uma noite de sono, em meus braços. – O amor transborda em seus olhos.

Esta noite tenho muito para pensar.

&A_

O LIVRO DA NOSSA VIDAWhere stories live. Discover now