Viagem e presente inesperados

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Camille

Encostada na minha mesa, levei a xícara de café mais uma vez até a boca. Já não estava mais tão quente. Droga. Devolvi a xícara ao pires.

Descruzei as pernas e desencostei da mesa, contornondo-a para voltar a cadeira. Sentada, observei o celular pela centésima vez. Nenhuma notícia de Johnnie, desde ontem a tarde que ele estava "sumido". O celular não chamava; ele não respondia as mensagens e não veio trabalhar hoje. E para piorar, até meu celular começava a dar problema. Sintia como se ele estivesse longe de mim!

- Troco uma bala pelo seus pensamentos!

Desviando o olhar daquele projeto de celular, levantei a cabeça e avistei Fábio bem na minha frente.

- É só isso aqui, - mostrei o aparelho - que está me fazendo raiva. Acredita que está desligando sozinho?!

- Deve ser problema de Junta.

Fiz uma cara confusa, sem entender!

- Junta tudo e joga fora. - concluiu com um ar risonho.

- Confesso que é tentadora essa proposta. Mas não posso, só tenho esse. Agora eu quero minha bala. - pisquei o olho - Adoraria um chocolate nesse momento, mas aceito de bom grado qualquer doce.

Ele pôs a mão no bolso da calça jeans, e retirando uma bala de hortelã, sacudiu em minha direção. Consegui agarrar com as duas mãos.
Retirou outra para si.

Comecei desembalar a minha, e parei com a bala à caminho da boca quando ele começa a falar.

- Soube de Johnnie?

- Não, o que houve com ele? - tentei não parecer muito aflita, só não tinha certeza se obtive sucesso.

- Eu encontrei Marta, agora a pouco, na volta para cá... - foi até o bebedouro, em passos mais lentos que tartaruga com sono. Uma parte maldosa de mim, torceu para não ter água, só para que ele não demorasse muito. Mas eu mesma tinha pedido para trocar o galão mais cedo. - e ela me disse que ele foi trabalhar, longe, pelo que parece. Surgiu essa oportunidade de último instante e ele aceitou. O safado nem me avisou. - balançou a cabeça, rindo.

Como assim, foi embora? Sem nem ao menos dizer um "tchau". Quão longe teria sido?

- Ah, então foi por isso que ele não apareceu hoje? Para onde ele foi, você sabe?

Tomou um gole d'água antes de começar a falar. Será que ele estava no deserto, para estar com tanta sede?

- Deve ter sido por isso, sim! Eu tentei falar com ele hoje e nem consegui. Se não fosse por ter visto Marta, não teria sabido. O trabalho é com entregas, algo assim, de uma rede de alimentos.

Pouco mais de um mês atrás, quando nos vimos, enquanto me ninava em seu colo, Johnnie começou a falar sobre precisar ter outro emprego em vista, para o caso de entrar na roda de demissão. Só que pensei ser na cidade mesmo.

O chão parecia querer se abrir sob meus pés. O coração estava pequenino, apertado, - com saudades - querendo ter ele por perto. Ah, eu tinha tantas perguntas. Mas ele nem ao menos se deu ao trabalho de me dizer. Não que ele tenha que me dar satisfações, longe de mim querer isso dele. Mas custava só dizer: oi, tô indo embora. Tchau!? Confesso que fiquei um pouco decepcionada.

Conversamos por uns 10 minutos e depois ele foi embora.

O final da tarde foi arrastado. A todo instante lembrava dele, e queria saber onde e como estava. Pensei em ligar, mas não queria ficar incomodando. Então, não liguei.
Porém a noite foi melhor, e me deixou super feliz.

EscolhasWhere stories live. Discover now