Enfim... Te amo

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Camille

Baixei o fogo mais um pouco, a canjica estava quase pronta.
Assim que cheguei aqui e encontrei Dona Helena, me ofereci a ajudá-la em algo, mas só depois de muito insistir ela deixou ser ajudada. Segundo ela "Visitas não trabalham".

Eu gosto de me sentir útil quando posso ajudar, em casa até tento ser, mas Dora e eu no mesmo lugar nunca dá certo. Eu faço algo, ela vem e reclama; eu ponho, ela tira; se eu varro, ela vê sujeira; se ela faz uma coisa e vejo que tá errado, eu falo. Então a gente termina sempre reclamando uma da outra. Eu assumo, quase não faço as coisas em casa, eu sei que o certo seria ajudar, mas gente, ela procura pêlo em ovo para ter o reclamar.

Ouço passos vindo em minha direção, assim que me viro, do de cara com Johnnie. Ainda não tinha os visto, eles demoraram bastante para subir.

- Olá! - falo e desliguei o fogo, o cheirinho estava maravilhoso.

- Humm! O cheiro aí está bom. Vim para te ajudar! - falou e piscou um olho.

- Não precisa, obrigada, já estou acabando. Mas como você sabia que eu tava aqui? - pergunto.

- Dona Helena! - respondeu e se aproximou, me ajudando a pegar as cumbucas para colocar a canjica. - Ela fez questão de me dizer onde você estava, mesmo sem eu ter perguntado, então aqui estou. Posso provar? - ele apontou para uma colher de pau que estava em cima da mesa.

- Ah, pode sim! - respondi - Só olha antes se já esfriou, estava de queimar a língua, quando coloquei aí.

Foi até a mesa e pegou a colher. Passou o dedo e levou à boca.

- Está tão gostoso! Quer provar?

- Não, obrigada. Já provei bastante, te garanto. - ri.

- Mas é sério, tá bom mesmo. Como dizia meu pai: "Está de lamber os beiços".

Notei que seu rosto adotou uma expressão divertida, diria até que estava divertida demais. E foi aí que senti o meu rosto melecado com algo morno.
Ele me sujou, mas eu não ia deixar barato, então peguei outra colher, melei meus dedos também e tentei passar nele, mas ele desviou e foi para o outro lado da mesa, me apressei e consegui alcançá-lo. Ali foi uma verdadeira disputa, nós tentamos de todas as formas deixar um ao outro mais sujo. Difícil era saber qual rosto estava mais limpo. Me senti vingada.
Fui até a pia e me encostei, rindo, estávamos fazendo bagunça na cozinha. Parecendo crianças.

- Tá bom, eu parei. - ele falou e levantou as mãos para o alto, como rendição. - Só vou lavar minhas mãos.

Assim que está passando por mim, ele pressionou seu corpo contra o meu, e aquele dedinho que estava todo lambuzado, pousou exatamente na ponta do meu nariz. Droga! Não sei porque eu acreditei nele.

- Isso foi jogo sujo. - comentei.

- Literalmente foi um jogo sujo! - falamos em uníssono e voltamos a rir.

Depois, o riso foi substituído por um olhar intenso, permanecemos na mesma posição, e mesmo o silêncio parecia confortável.
O único som que ouvíamos, era da nossa respiração. E nosso encanto quebrou, ao ouvirmos meu nome sendo chamado.

Fábio entrou na cozinha. E o meu porquinho finalmente foi lavar as mãos.

- Camille! - chamou - Ah, está aqui! - confirmou ao me ver - Liza tava te procurando, disse que não tinha te visto ainda.

- Achei que ela nem lembrasse mais de você, Camille. - cochichou Johnnie, rindo - o primo desse aí, - apontou para Fábio - é rápido no gatilho! Já roubou a atenção dela.

EscolhasWhere stories live. Discover now