Meu trabalho

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Camille

Fim de tarde, o expediente já está acabando. Aproveito pra separar umas pastas e ordená-las nas gavetas.

Sento na minha cadeira e pego uma apostila da faculdade que trouxe na bolsa.

-Tem mais alguma entrega?-pergunta Johnnie, assim que chega na porta.

Ele já trabalha aqui há bastante tempo, é um dos poucos veteranos que ainda resta por aqui.

-Não, no momento pode descansar. - respondo e dou um leve sorrisinho.

-Ainda bem, hoje o dia foi puxado, preciso de um descanso mesmo.- Ele diz enquanto se senta no sofá ao lado da minha mesa.

Não teve muitas entregas, mas ele gosta de fazendo corpo mole.

-Sorte sua que hoje você não ficou no departamento de baixo, se não você não ia ter esse tempinho de descanso.

Aqui é divididos em dois departamentos, a microempresa faz as entregas de maneira separada, as entregas de lá de baixo são feitas assim: O cliente informa o lugar que é pra buscar o pacote e o lugar que é pra fazer a entrega. O daqui, onde sou a despachante, já recebemos o pacote do cliente e fazemos apenas a entrega. Pra sair um pouco da monotonia os motoboys trabalham em dias alternados para os dois departamentos.

Nesse momento vem entrando o Fábio.

-Não acredito que tu tá aí sentado Johnnie.-ele diz pondo a mão na cintura.

-Ah, se não tem serviço no momento.-Johnnie responde levantando de leve os ombros.

-Lá embaixo tava cheio de entrega cara e tu aqui sentado, oh homem de sorte, porque eu não fiquei aqui hoje?-dá um sorrisinho com a testa franzida.

Todos caímos na gargalhada, a expressão do Fábio era mais ou menos "cachorro que caiu da mudança".

-Foi justamente isso que acabei de dizer a ele, ele teve sorte por tá aqui, o dia de hoje foi bem calmo. -falo olhando para os dois.

-Camille!!-Fábio me chama e olho em sua direção.

-Diga!!- falo enquanto vou ao bebedouro pegar um copo d'água.

-A partir de hoje só trabalho aqui em cima.- Ele fala em tom autoritário enquanto vem andando em direção ao bebedouro, mas sua expressão é de moleque.

-Ok chefe!- respondo batendo a ponta dos dedos na cabeça, como quem presta continência.

Novamente caímos na gargalhada, o jeito de Fábio sempre foi assim, tenta fazer uma gracinha em qualquer oportunidade, é um cara jovem, da idade de Johnnie mais ou menos, porém bem mais musculoso, altura mediana, pele morena, um homem de arrancar suspiros.

-Trás um pouco de água pra mim.-diz Johnnie olhando pra Fábio e rindo, enquanto passa os dedos pela barba que está por fazer.

Ele sempre tá com a barba estilo cavanhaque e tem os cabelos escuros.

-Camille, arruma alguma coisa pra esse vagabundo fazer.-resmunga Fabio enquanto enche outro capo d'agua.

Nenhuma conversa desses dois deve ser levada a sério, aprendi isso desde que comecei a trabalhar aqui, eles são amigos de longa data e vivem se dando apelidinhos e zombando um do outro, se conheceram bem antes de começar a trabalhar aqui, pelo menos é o pouco que sei sobre eles.

-Acho que não vou poder te ajudar nessa, -digo batendo meu ombro no dele.-o expediente tá quase acabando e não tem entregas.

Johnnie estira a língua pro amigo enquanto pega o copo da sua mão

-Vocês parecem duas crianças.-digo balançando a cabeça.- E o que você tá fazendo aqui senhor Fábio? Seu trabalho é lá embaixo.-pergunto rindo

-Ah, eu também sou filho de Deus e queria descansar um pouquinho.-ele diz e bebe um gole de sua água.- Por isso disse que tinha um assunto aqui em cima, pra poder subir.

Sacudo uma bolinha de papel nele, incrédula com sua capacidade de mentir.

-Então você está matando trabalho e vem aqui reclamar que não to fazendo nada? Vê se eu aguento um negócio desse? Diz Johnnie.

-Eu tinha quase certeza que ia encontrar você aqui, por isso subi.

-Então você acha que eu não trabalho é?

-Não exatamente!-Fábio ri.-Mas sei que quando não tem entrega você prefere ficar aqui do que lá em baixo.

Os meninos podem ficar tanto aqui como lá no estacionamento, e apenas sobem quando ligo pra informar o lugar das entregas. Aqui é muito bom pra se trabalhar, apesar de termos regras pra seguir como em qualquer outro trabalho, é lugar bem aconchegante e um pouco liberal. O lugar pros motoboys ficarem não é aqui na minha sala exatamente, mas tem um escritório à minha esquerda que fica disponível para eles.

Volto pro meu lugar e sento-me na cadeira.

Eles conversam mais alguma coisa, mas não prestei atenção. Estou olhando uns papéis da faculdade.

-É, acho melhor eu descer, meus amigos devem tá sentindo minha falta.-fala Fábio enquanto caminha em direção à porta. Tchau pra vocês.

- Tchau! Respondemos juntos.

-Não sei como você ainda consegue fazer esses trabalhos da faculdade, em meio a  correria daqui.-Johnnie fala.

-Tenho é que agradecer por o chefe me deixar fazer aqui.- respondo enquanto abro uma apostila.

Estou no final do período , então sempre tenho isso ou aquilo pra fazer, sem contar o TCC, eu posso fazer algumas coisas no meu tempo livre, desde que não atrapalhe o despacho das entregas.

(...)

Chego em casa e já vou direto pro quarto, preciso me arrumar e ir pra faculdade.

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