Meus anjos

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Johnnie

Na vida passamos por diferentes tipos de dores. Leves e intensas. Umas rápidas, outras bem lenta. Aquela que dói na carne, ou então a que machuca o coração. Não o coração que bombeia sangue, mas sim, o coração que guarda os sentimentos, que se conecta com a alma.

Ontem durante o acidente, eu não estava sofrendo com a dor física. Ela doeu, sim. Mas a angústia no peito era mais letal.

À todo momento eu só lembrava de Raquel. Da minha Raquel. O que tinha acontecido pra Marta ter ido buscá-la? Será que ela falou sério ao dizer que um dia eu poderia chegar em casa e não encontrá-las?

Em meio a angústia, senti um alívio quando vi Camille se aproximando. Sei que ela me ajudaria a encontrar minha menina, ela me trás uma paz inexplicável.

Já no hospital, após estar com o pé imobilizado devido a luxação que sofri no tornozelo, pedi a ela que continuasse ligando pra Marta, e o resultado era o mesmo: ela não atendia as ligações. Então decidi tentar ligar para minha sogra, talvez ela tivesse alguma notícia da filha. Após falar com ela, soube que Marta e Raquel estavam lá, e como já era tarde da noite e estavam dormindo, no dia seguinte avisaria a ela que eu liguei. Fiquei mais sossegado.

Fábio chegou no hospital e me ajudou a voltar para casa, e Camille finalmente pôde ir para casa também.

Se Dona Encrenca queria me amedrontar, infelizmente ela conseguiu. Ela sabe muito bem em quem tocar, para me ver perder a linha. Ela sabe meu ponto fraco e usa a seu favor.

- Olha só a idiotice que você fez! - Infelizmente era a voz dela entrando no quarto. Tão certo diz o ditado: Falou no Diabo, aparece o rabo!

- Ai, nem vem! Você acabou com meu estoque de paciência ontem. - Ela não tinha noção do quanto eu estava furioso com ela.

- Que mal tem eu ir visitar meus pais? - Deu um sorrisinho sínico. - Se você estava apressado e caiu, o problema é seu! Ouviu bem? O problema é seu!

- Cadê minha filha? - Na certa ela teria vindo aqui no quarto, mas ainda não apareceu.

- Nossa filha chega daqui a pouco. Vem com a avó. - chegou mais perto de mim - E antes que eu me esqueça, ela ficou bem triste porque você não lembrou que combinamos de ir visitar meus pais e nem apareceu lá.

- Então foi essa a sua mentira? Sínica!

Nesse exato momento, Fábio entra no quarto. E ela teve o descaramento de se aproximar da cama e ajeitar o travesseiro em que eu estava com as costas apoiada.

- E aí cara, tá melhor? - fiz que sim com a cabeça - E desculpa por ter entrado, pensei que você ainda estivesse sozinho e como vi a porta aberta, entrei.

- Sem problemas.

- Fábio! É esse seu nome, não é? - ele confirmou - Seu amigo quase me matou de susto. Meu coração queria sair pela boca quando recebi o recado hoje. Mas ainda bem que não foi muito grave, não é, meu amor?! - me deu um selinho e saiu, dizendo que qualquer coisa que eu precisa-se era só chamar.

Em escola de falsidade ela deveria ser professora.
Algo me diz que ele não acreditou muito nessa versão de Esposa Preocupada. Tenho uma leve impressão que ele não deve gostar dela, sei lá. Ele nunca me falou nada, mas se bem que ela não causa boa impressão a ninguém, porque pense numa mulher mal humorada. Ela não é mais aquela mulher de sorriso fácil, divertida e comunicativa de quando conheci. Aos poucos está se tornando amarga, e insuportável tá incluído no pacote.

- E esse pé, acha que demora muito para ficar 100%?

- Espero que não! - e eu realmente torcia por isso - Pouco mais de um mês e já estou pronta para outra. O chato só é ter que usar a bota. Mas não vou reclamar, poderia ter sido pior.

EscolhasWhere stories live. Discover now