– Eu precisava falar com você – Jess disse em um tom tão sério para Sylvanus que os joelhos dele vacilaram um pouco.

– Se quiser podemos dar uma volta... – anunciou Manu.

Mesmo sem dizer uma palavra, Petrus se contorcia com receio do que a garota pudesse falar. Ele tentou limpar a própria mente para não deixar escapar o nome maldito. Aquele não era o momento. Para ser sincero, ele não sabia quando teria coragem de admitir em voz alta a burrice que tinha feito. Era como se, para conseguir o que eu queria, precisasse pagar adiantado, pensou Petrus. Ninguém pode fugir da lei do retorno.

– Não. Está tudo bem. Não quero esconder nada de vocês – Jess se virou para Sylvanus. – Eu preciso saber como foi para você voltar? O que você sentiu? Onde estava?

– Estar morto pode ser mais entendiante do que você imagina – lamentou Sylvanus. – Não sei até que ponto somos influenciados por nossas crenças ou quando os mistérios do universo se revelam para nós.

– Será que você pode ser direto, por favor? Não é tão difícil. Não me faça ter que entrar em sua mente ou algo do tipo.

Petrus abriu a boca, mas antes que ele pudesse fala qualquer coisa, Sylvanus se adiantou.

– Vamos lá... É isso que você quer? Faça! – Sylvanus elevou o tom da voz e apontou para a própria cabeça. – Você me faz sentir como se eu tivesse que desejar a minha própria morte. Eu não pedi para ser trazido de volta. O que mais eu poderia fazer? Desistir?

– Ah, Sylvanus. Não me faça parecer malvada aqui. Você sabe que nem sempre é fácil confiar nos outros quando quebramos a cara várias vezes.

Sylvanus segurou a mão de Jess e foi como se ela tivesse sido transportada para outro plano. Ela se perguntou onde estava Hortênsia e o pai, parecia um lugar parecido com o que a garota havia visitado uma vez, mas cinzento. Para onde tinham ido as cores? Não havia nenhuma outra pessoa ali com ele. O lago estava seco, as árvores estavam sem folhas. Ela viu Sylvanus andando para diferentes lugares, só para descobrir que era a única alma ali. Era como se ainda precisasse passar por alguma provação e precisasse daquele tempo para digerir. "Do silêncio viria a sabedoria", Sylvanus repetia para si mesmo, tentando se consolar. É difícil medir o tempo quando não temos referenciais. Sylvanus não sentia fome, não sentia sono. Tudo o que ele sentia era a vastidão, o vazio.

– Está satisfeita? Logo as pessoas estarão aqui para a reinauguração da Céu de Estrelas. E eu ainda nem terminei de revisar o meu discurso sobre o eclipse. Algumas pessoas vão vir só pela curiosidade de como a lua pode influenciar suas vidas.

Petrus balançou as pernas. A inquietação subiu cada parte do seu corpo até estacionar na garganta. Queria falar, mas não podia, como se os lábios estivessem selados. Seu rosto começou a ficar vermelho.

– Petrus, você está bem? – Manu se aproximou dele, mas o homem não conseguia responder.

– Parece que ele está engasgado – respondeu Amanda. Ela foi atrás de Petrus e apertou seu diafragma com força. Uma aranha peluda saltou para fora da boca dele.

Os olhos de Jess ficaram abertos de surpresa e a curiosidade a paralisou. Sylvanus pensou em como era possível uma aranha que ele nunca havia visto no Brasil aparecer ali. Alguém estava tentando atingir Petrus. Antes que a aranha tivesse tempo de fugir, Manu correu até ela e pisou com vontade, agradecendo mentalmente por estar com um sapato resistente. O líquido azul-esverdeado se espalhou pelo chão.

– Que nojo! – Amanda sentiu um medo tão forte que ela sentiu a bile subindo pela garganta. Ela passou a mão na boca, tentando se concentrar em sua respiração, para fazer o enjoo passar. – Eu estou com um péssimo pressentimento.

O Livro - Os Bruxos de São Cipriano Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora