Capítulo 16

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Jess nunca vira aquele lugar antes. Parecia com o cenário de um parque de São Cipriano, mas, ao mesmo tempo, continha elementos que jamais vira pela cidade, como árvores de troncos retorcidos, flores selvagens e muita água. Ela se aproximou de um lago e viu o reflexo de Babi. A amiga estava inquieta, andando de um lado para o outro do banheiro, aguardando algum sinal.

Eu estou bem. Jess tentou sinalizar a mensagem para Babi.

Folhas balançaram pelo ar e caíram na água, provocando ondulações e despertando Jess para o que importava. Ela escutou o som de crianças brincando, mas não enxergava ninguém. Era como se elas estivessem ali, mas ao mesmo tempo não estivessem. Quantos planos existem dentro de um plano?, perguntou-se Jess, pensando no namorado e como ele adorava procurar na internet respostas para perguntas que quase ninguém dava a mínima.

– Hortênsia – a voz de Jess ecoou, como se ela estivesse dentro de uma caverna.

Ela escutou o som de asas se batendo. O corpo tremeu em reflexo ao ver uma coruja pousando ao seu lado. Jess escutou a ave falando:

– Não tenha medo, querida. Onde estamos aqueles seres não podem te pegar – Os olhos de Jess se encheram de lágrimas ao reconhecer a voz da avó. Durante um longo tempo de sua vida, ela acreditou que Hortênsia era a única pessoa que a entendia e não a julgava por quem ela era, mesmo quando Jess não tinha ideia de quem realmente era.

– Aqui é o paraíso?

– Céu, inferno, além, purgatório, Valhala, Summerland, Campos Elísios, Tártaro, umbral, Aaru... Há tantos nomes, destinos e planos... Tudo o que você precisa saber é que está segura aqui – Hortênsia se transformou na imagem familiar e segurou as mãos de Jess, fazendo com que uma onda de tranquilidade subisse até o peito da garota. – Mas me diga, minha filha, o que está fazendo aqui?

– Eu não sei quanto tempo vou aguentar.

Jess levou a avó até o lago e mostrou a sua imagem dentro da banheira. Ao lado de Babi, estavam Leo e Manu. Os três estavam de mãos dadas, repetindo sem parar as seguintes palavras:

Jess é nossa boa amiga

Nós a protegeremos até o fim

Que a luz te guie e te salve

Do mal que venha a ti.

Hortênsia beijou a mão da neta.

– Seus amigos são leais. Em um mundo de relações frágeis e teatrais, fico feliz em saber que você está cercada de boas pessoas. O seu círculo é mais unido do que o meu jamais foi. Anna não foi nosso único problema... – Hortênsia voltou os olhos para dentro, como se examinasse as próprias memórias. Então, notando a inquietação da neta, ela continuou. – Mas não é por isso que estamos aqui. Vamos ao que interessa...

Jess e Hortênsia andaram pelo campo. Por onde elas pisavam, as flores se movimentavam.

– Você já sabia que aquelas coisas viriam atrás de nós? Anna foi só o início, não é? O que está acontecendo? – As perguntas escaparam pela boca de Jess, antes que ela pudesse controlar o seu tom de voz agitado.

– Paciência, querida. Eu sei que você está preocupada com o relógio, mas o tempo passa de forma diferente por aqui – Hortênsia abriu um sorriso tranquilizador e da palma de sua mão surgiu uma esfera de energia, refletindo a imagem dos amigos ao redor do corpo de Jess na banheira. – Se eu sabia que o mal iria até São Cipriano? Depois de Marianna, eu não tinha dúvidas. Do mesmo jeito que pessoas iluminadas atraem outros corações bem-intencionados, almas sombrias se atraem e nunca estão sozinhas, mesmo quando tentam se isolar. Deixamos nossos traços energéticos por onde passamos. Há coisas difíceis de se explicar e de se entender, mas quando finalmente nos deparamos com a verdade, percebemos que tudo acontece quando precisa acontecer. Estamos todos conectados.

O Livro - Os Bruxos de São Cipriano Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora