"Ainda é herói.

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Sarah Casten

O cheiro do xixi estava mais forte e o médico para de andar. Fico com medo. Ele vai voltar para machucar a Sarah porque fui ruim! Fui má e bati nele. Bati e fiz xixi na cama!

– Não. Eu te devo desculpas. – Ele mente. Mente e vem para pertinho de mim, senta na minha cama então coloca a mão no meu ombro. Ali que ele machucou! Vai machucar mais! Fecho os olhos com força para não sentir doer.

– Ele vai bater agora! Tire o ombro do caminho!! Vai te machucar!

Puxo o ombro com força para não doer e não dói de verdade. Ele não bate. A voz ajuda a não me machucar, às vezes ela é boa.

Teve um acidente aí, princesinha? – Eu choro de medo, mas quietinha. Não quero mais falar com o moço. Ele vai brigar! Ele ri de mim, eu sei que quer rir. Me encolho ainda mais contra a parede com cheiro de mofo.

– Não. Eu quero ficar sozinha, você me machucou. – Não consegui olhar para ele, estou com medo, ele pode pensar que estou sendo má de novo. As lágrimas escorriam e entravam na minha orelha, que ja tem muito barulho.

Desculpe, princesa. Eu sou meio explosivo. Não vou mais te machucar, prometo. – Não gosto de explosivo. Explosivos explodem e machucam. Sarah não quer se machucar, não gosta.

– Ele vai te machucar muito! Vai te prender de novo.

– Você vai me machucar sim. Sai daqui. Sai! – Não empurrei ele. Eu obedeço para não ser punida depois, não quero ficar presa igual eu estou. Tremi ainda mais de medo, de pavor e sentei na cama. Deitada fico mais vulnerável. Vou ficar encolhidinha, sentada, tremendo. – Eu to com medo. Me deixa aqui no meu quarto. Eu não vou te bater mais, eu prometo... Só não me machuca. Não machuca, por favor. Eu fico vermelha...

Ele põe a mão na minha. Deve beliscar! Vai doer e eu vou ficar vermelha! Então ele levanta devagar e leva para a boca. Ele vai morder! Vai me morder. Aperto os olhos para suportar a dor, mas não veio dor. Veio devagar. Foi um beijinho. 

– Eu não vou te machucar. Acredite em mim. – Não está mais bravo? Mas... Papai não gosta! Não gosta que beijem Sarah! Nem mamãe pode beijar a Sarah!! Por que o moço pode? Não!

– Ele não pode! É mentiroso. Limpe. Limpe. Limpe. – A voz manda eu limpar. Ele não pode me beijar! Limpo com pressa na minha roupa para tirar todo o sujo.

– Não mente pra mim. Naquele dia a voz mentiu e não era eu. – A voz nunca tinha mentido, mas fez eu machucar meu irmãozinho. Não queria machucar, não queria ser má.

– Não estou mentindo. Como quer que eu te prove? – Pergunta calmo e eu dou de ombros. Só quero voltar para casa para ficar com minha mamãe, meu papai e meu irmãozinho. Queria fazer um piquenique. Com torradas e suco de laranja! Minha barriga ronca. Acho que foi alto. 

– Estou com muita fome.

Rápido o vi tirar um saco de biscoitinhos do bolso. Era igual o que eu levava de merenda para a escola! 

– Coma. – Ele entrega e eu pego com pressa, com as duas mãos abro o biscoitinho gostoso e coloco logo tudo na boca. Se ele se arrepender de me dar, eu não preciso cuspir.

– Tá gostoso. Obrigada. – Alguns farelinhos sujaram ele e a cama. Mamãe não gosta que eu coma na cama porque sempre faço sujeira.

– Depois nós daremos um jeito no acidente. Ok? – Ele fala do acidente de novo, do meu xixi. Olho para baixo sentindo o molhado entre minhas pernas ficar ainda mais frio.

– N-não precisa. Sarah foi má, tem que ter castigo. – Bater e gritar é errado.

– Você não é má, só está confusa. 

Quando acabei, ele me levantou da cama e foi comigo para um banheiro grande e com cheiro de xixi e cocô, la tinham uns rapazes que ganharam um dinheiro do meu médico. Eu não entendi porque, mas fomos para outro banheiro. Eles ficaram fora do chuveiro de costas. A água estava morninha, me deixaram usar sabonete e shampoo, mas a água fez meus machucados do pulso e do tornozelo arderem. Tentei não molhar por causa da dor, mas o banho foi bom. 

Cheguei de volta no meu quarto e estava limpinho, a cama também estava limpa! Fiquei feliz e fui deitar para esperar os machucados pararem de arder, mas antes parei na frente do moço do nome difícil.

– Você ainda é herói.

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