Cuidados.

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Adib Jatene

O desespero de Sarah foi maior do que eu poderia calcular. Gritou, chorou, se feriu ainda mais e acabei por precisar chamar ajuda. Suas unhas agarraram as próprias orelhas puxando com força o suficiente para abrirem feridas. A contenção mecânica é extremamente útil nesses casos e foi a medida tomada. A levamos novamente de volta ao quarto onde dormiu e dessa vez com mais cuidado pelos ferimentos nos pulsos e tornozelos que já estavam começando a cicatrizar. O corte relativamente grande em sua boca ainda sangrava e precisamos segura-la com vigor para que eu pudesse fazer a sutura.

A todo tempo o choro da menina era alto, sofrido e parecia dizer que ouvia a voz do irmão. Fiquei ao seu lado esperando que surtisse algum efeito tranquilizador e realmente surtiu. 

Depois do choque inicial o choro se tornou mais fraco e eu pude ficar ao seu lado. Ela repetia pedidos de desculpas que jamais serão ouvidos. Acredite, mocinha, eu ja tentei. Eu tentei pedir desculpas a minha família. Não funciona e sei que o buraco em seu peito só tende a crescer. Mas para onde fugir? O passado já foi dado, precisamos lutar pelo futuro.

 Sarah, eu preciso te examinar. Posso fazer isso agora? – Ela nega com a cabeça e eu concordo. – Voltarei mais tarde então.

Os olhos arregalados da moça voltam a me fitar. 

 Me solta. Eu não gosto de ficar presa.– Implora com a voz trêmula, chorosa. O tremor em seu corpo ainda estava presente e admito ter ficado inseguro quanto a descontenção. Ela pode se machucar. – Por favor.

Talvez não tenha sido o correto, mas escolhi soltar a Sarah de suas amarras. Ela beijou minha mão em agradecimento e se virou para a parede a fim de tentar dormir. O choro era sofrido e o sangue de suas orelhas ainda a sujava. Não devo tentar limpar isso agora. É uma inquietação minha, não dela.

Me retirei depois de alguns momentos de silêncio e segui até a lista dos psicologos que ficava na chefia. Nesse caso será importante. 

Erick Griffin é um dos profissionais que mais acumula profissões nesse lugar. Tem grande experiência como psiquiatra e agora na area de psicologia seria uma boa ideia para me ajudar com o caso de Sarah. 

Entrei em contato com ele por um dos aparelhos tão modernos de telefone instalados no hospital. De fato não consigo me acostumar com essas novidades, sequer era necessário falar com a telefonista. De qualquer forma, Erick se propôs a visita-la ainda hoje. Sei que fará bem a Sarah.

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