Capítulo 15

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Sinto minha pele estremecer quando o corpo másculo se afasta e gemo baixinho uma reclamação ingênua, pela ausência do contato quente que me aquecia. Esta manhã promete uma chuvinha fina a contar pelo tempo fechado, que constato quando abro os olhos com muito custo. O tempo de ver Carl se voltar para me cobrir com o lençol e me beijar na testa.

— Nos veremos mais tarde — ele murmura suave, deslizando seus dedos em meus cabelos para que eu volte a dormir.

Consigo corresponder ao seu leve sorriso e me ajeito para o lado quando ele pisca e sai. Não fosse pelo modo formal de terno e gravata com que está vestido eu até poderia compara-lo a um menino maroto. Ouço seus passos atritarem no piso do meu apartamento e depois o som da porta se fechar, até que tudo fica silencioso. Para minha sorte, meu sono está no auge. Ajeito-me para o lado e suspiro, detectando o quanto sai nostálgico e carregado de emoções. As inéditas que me tomam nos últimos dias.

Vivemos um relacionamento casual, com sexo casual, encontros casuais. Mas é algo bom, de certa forma. Ora ficamos aqui, em minha casa, ora na casa dele. Chega a ser hilário vê-lo carregar uma mala com roupas, cabides de ternos e utensílio pessoais porque iremos dormir em meu apartamento. Ele programa tudo previamente para que nada saia errado, mas se por acaso sair arranja um jeito de dar certo.

Tudo pode estar sendo muito bom. Porque estar apaixonada é algo bom e sublime. Mas em momento algum passou pela minha cabeça encerrar isto um dia. Por algum motivo penso que um dia será importante fazê-lo. Até porque o corte de Carl no restaurante, enquanto eu contava algo sobre minha vida, foi um prova do quanto procura manter distancia entre nós.  Ele é frio e preconceituoso, principalmente com relação às mulheres. Eu sei disto baseado nos dois anos que freqüentei sua casa. E agora que estamos mais próximos, consigo constatar o quanto ele sente aversão a algo relacionado a mulheres, mas isto eu não tenho como descobrir sem que corra o risco de irrita-lo ou magoa-lo. Sempre que penso no assunto me vem a mãe de Carl na mente. Não sei nada sobre ela, e talvez pelo fato de que ele mesmo não a mencione em suas conversas, penso que pode haver algo que o magoou muito no passado, que o deixou tão machista e avesso a sentimentos ou simplesmente, ás mulheres. Mas ele não pode generalizar, isso seria sofrer para o resto da vida.

A verdade é que quando estamos juntos, fazemos amor com paixão. Mas eu sei que o lampejo de luz que toma meu coração, nem se compara com o mínimo foco de luminosidade que irradia de seus olhos escuros. Nem meu coração tão cheio de fogo consegue queimar o de Carl.

O modo frio como me interrompeu, só demonstrou sua relutância em não querer dividir qualquer emoção que chegue próximo de afeto. Não precisa ser inteligente para enxergar isto. Mas sou inteligente para saber como pode ficar minha vida se não pensar em minha própria felicidade. Ollay me ensinou que dignidade é para manter intacta, mas se acontecer de algum estilhaço partir longe, o tempo quem trataria de trazê-lo de volta para seu lugar.

Meu sono foi embora e mais uma vez eu remexo-me sem entusiasmo. É a segunda vez que penso nela desse jeito. Não sou sensitiva, e meu telefone nem tocou. E se ela estivesse precisando de mim?

— Ou eu precisando dela.

Faz tempo que não escrevo para ela. Um dos motivos é seu atual estado de saúde e a grande dificuldade em ler. Além da frustração, eu não quero que ela se incomode em responder escrevendo com sua fragilidade e sei que ela se esforçaria muito para isto. Mas talvez, motivada pelos últimos acontecimentos emocionais que me tomam, eu me ergo num súbito, tomada pela nostalgia, e me pego separando o papel e a caneta.

Começo assim:

"Queria estar com você agora. Porque hoje a saudade bateu mais do que ontem. Mas ontem, ela estava apertando tanto meu peito, que não sucumbi ao desejo de te abraçar nesta carta..."

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