Lily Garden sempre foi uma garota egoísta. Desde pequena, quando estava na escola dormindo em intervalos de três horas e brincando com coleguinhas, nunca dividiu qualquer uma das peças que levava para passar o tempo. Suas bonecas e carrinhos eram suas bonecas e carrinhos, e de mais ninguém. A menina os tinha como peças raras de um museu, colecionado todo e qualquer objeto que recebia. E só ela poderia tocá-los.
Quando cresceu, começou a visar outras coisas. Coisas maiores. Colecionou discos, bonecos, pedras e até mesmo rádios à pilha. Sua casa era como um templo, seu quarto completamente entulhado pelas diversas coleções que ela tinha. A menina era viciada e apaixonada por aquelas coisas de um jeito que nunca se desfazia de nada. E ninguém nunca podia tocar.
Um dia, ela ficou sem ideias. Queria colecionar coisas novas. Então saiu pelo centro da cidade à procura de um adereço para o seu passatempo favorito, e até que encontrou algo legal: corpos. De bichos mortos. Lily quase não acreditava na diversidade de animais que perdiam suas vidas para atropelamentos e envenenamentos diariamente. Ela até mesmo começou a colocar armadilhas para agilizar a coleção.
Mas então eles acabaram.
E ela teve que encontrar algo novo.
Corpos, ela pensou, mas por que só de animais?
E, então, quando voltou a sair para o centro da cidade, encontrou diversos corpos para colecionar. Só que esses estavam vivos. Primeiro, ela pensou em visitar hospitais e dar um jeito, mas não tinha aquela capacidade. Dava muito trabalho. Lily teria que fazer do mesmo jeito que fazia com os animais: arrumar uma solução. E ela arrumou. Sempre arrumava.
Àquela altura, a psicopata já tinha mais de vinte anos e a sua própria casa. Trabalhava em uma clínica de estética do centro e via diariamente diversos tipos de peles, cabelos e pessoas para a sua coleção. Era como um sonho! Lily podia escolher cuidadosamente, afinal tinha seus endereços, telefones e a desculpa perfeita para entrar em contato. Era só dizer que fulano havia ganhado uma sessão de massagem grátis que eles corriam para onde quer que fosse.
E então ela os colecionava. Em seu porão. Imersos em conservantes e perucas para manter a beleza.
Quando foi pega, perto dos trinta e com uma coleção de quarenta corpos, Lily Garden gritou durante todo o percurso até a viatura. Amaldiçoava Thomas White por destruir uma junção de coisas tão belas, implorando para que ninguém tocasse em sua arte. Ela nunca conseguiria refazer aquilo, era épico demais; bonito demais, único demais.
Quando morreu, no Instituto Robert Ryan, a perícia descobriu, por entre os restos e cinzas do quarto onde a menina ficava internada, que ela mantinha velhos hábitos durante a internação.
Embaixo de seu colchão, todas as noites, ela guardava uma mecha de cabelo que havia conseguido coletar durante o dia. Mechas essas que influenciaram e serviram de combustível para o fogo que a queimou viva na noite em que ela e as outras seis colegas morreram.
...
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7 Psicopatas (COMPLETA ATÉ DIA 25/11)
HorrorRaymond Ernest é um escritor decaído. Depois de criar um thriller que vendeu milhares de cópias pelo mundo, ele se encontra em um profundo bloqueio criativo, não tendo inspiração nenhuma para escrever. Enquanto tenta superar a crise literária...