🌳
Por precaução, o piso dos corredores sombrios do Instituto Robert Ryan tinha que ser áspero. Cada pequeno fragmento do moderno e usual ladrilho branco padrão foi trocado quando uma enfermeira escorregou e perfurou o pescoço com uma seringa de sete centímetros enquanto tentava conter um paciente. Seu sangue manchou o canto direito daquele corredor por anos, até o dia em que o lugar pegou fogo.
Quando escrevera Os Sete Psicopatas, Raymond queria adicionar um toque dramático à reputação do hospital. A história da enfermeira morta, claro, funcionou, mas agora ele se sentia mal. Havia percebido que, quando estivera no Instituto, pisara sobre a mancha de sangue sem perceber.
— Raymond? — chamou Sara, desviando a atenção da estrada por alguns segundos. — Você está bem?
O escritor balançou a cabeça, acordando do transe. Pela janela a estrada das montanhas era escura e cada vez mais fria. Seu corpo estranhava toda aquela locomoção, sentindo falta dos dias em que ficava preso dentro de sua cabana o dia inteiro, apenas tentando escrever. Cansado, o homem murmurou de uma forma triste e sem muito alarde:
— É tudo exatamente igual ao livro.
Sara riu.
— Bem-Vindo ao sonho de adaptação fiel que todo escritor tem! Só que isso não é um filme no qual trocaram a sua protagonista loira por uma morena, essa é a realidade. Então não é bom.
— Eu sei! Mas no livro elas nunca chegaram a escapar. Elas morreram. Por que, aqui, estão vivas? Essas sete psicopatas nunca me deram tanto trabalho — resmungou, escondendo o rosto entre as mãos.
— Ah, sim, verdade — Sara pulou, parecendo lembrar de algo — Eu queria conversar com você sobre o livro. Me diga por qual motivo se chama Os 7 Psicopatas se são todas mulheres?
Raymond não respondeu de imediato, mas ficou pensando. Olhou para Sara com o rosto confuso e deu de ombros.
— Eu não sei, apenas é.
— Raymond, você precisa ser sincero comigo.
— Eu estou sendo! Já existia um livro chamada 7 Psicopatas, então tive que ser criativo. Qual o problema?
Sara apertou as mãos ao redor do volante, estalando a língua de forma impaciente.
— Droga — pestanejou — Eu achei que finalmente tinha encontrado a resposta.
— Resposta? — o escritor repetiu, confuso — Que resposta? Do que você está falando?
— Nada que importe — e o carro parou. Crawford retirou o cinto e abriu a porta — Conversamos lá dentro.
Quando Raymond desceu do veículo, teve que parar e se segurar na porta ainda aberta. Ao olhar para o cenário ao seu redor, quase não acreditou na beleza da paisagem que a casa de vidro no alto da colina proporcionava. Nem mesmo a tempestade iminente ao fundo do quadro atrapalhava, trazendo até mesmo um toque dramático com suas nuvens carregadas e raios nada discretos.
— Sua casa é de vidro? — perguntou o escritor.
Sara concordou com a cabeça.
— Paredes produzem muitas sombras — e com isso Raymond olhou para a casa, tendo a sensação de que, apesar daquilo, ela poderia não ser realmente segura.
O escritor seguiu a mulher até a escada de pedras em meio a um gramado extremamente bem cuidado. A noite já caia por completo àquela hora e, olhando para trás, para o lago Rordeth e o reflexo da lua sobre ele, Raymond pensou ter visto algo se mover entre os lençóis da água calma. Ele só poderia estar muito paranoico.
ESTÁ A LER
7 Psicopatas (COMPLETA ATÉ DIA 25/11)
HorrorRaymond Ernest é um escritor decaído. Depois de criar um thriller que vendeu milhares de cópias pelo mundo, ele se encontra em um profundo bloqueio criativo, não tendo inspiração nenhuma para escrever. Enquanto tenta superar a crise literária...