07 - A Nossa Canibal Favorita

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— Não, por favor, Chloe não. Não a minha filha!

Aquele foi o mantra que Raymond repetiu durante todo o trajeto percorrido por entre as estradas das montanhas. Não queria acreditar que algo tinha acontecido a Chloe, mas, no fundo, podia imaginar o cenário catastrófico de dor e desgraça que o aguardava quando chegasse à casa da ex-mulher.

Raymond não tinha a mínima ideia do que fazer, e aquilo era o pior de tudo. Quando entrasse no quarto da filha e visse que Chloe estava mesmo desaparecida, como começaria a procurá-la? Como convenceria Rose, sua ex-mulher, a não chamar a polícia? Como falaria das psicopatas? Como explicaria toda aquela confusão?

Tentou afastar essas preocupações enquanto dirigia, passando a amaldiçoar Sara Crawford e a sua mania de aparecer quando precisava do escritor e desaparecer quando o escritor precisava dela. Ernest não tinha como contatá-la, nunca tivera. Sempre fora a mulher que o procurou, então passou a esperar que alguma coisa a fizesse se materializar no banco de trás do seu carro.

Claro que aquilo não aconteceu.

Ao invés disso, Raymond dirigiu sozinho pela madrugada fria. Brigava com os faróis fracos do carro que havia alugado quando percebeu que não tinha mais Brian para ser seu motorista. Era estranho dirigir, fazer aquelas coisas normais. Havia contratado o agente para não precisar exercer atividades chatas ou até mesmo entrar em contato com outros seres humanos. A ironia era trágica.

Quando estacionou o carro em frente ao conjunto habitacional de paredes brancas e varandas de madeira, Raymond saltou de dentro do veículo com tanta pressa que o motor continuou ligado. A noite ali era bem mais calma e agradável, fazendo-o suar dentro de sua jaqueta. As montanhas haviam ficado para trás, e, com isso, o frio. Havia grilos e estrelas. Uma noite linda como ele nunca veria em Nothern Lake...

Raymond ainda se lembrava do esconderijo embaixo da terra do vaso sobre a janela, à esquerda da porta. Ele cavou até que achasse a chave e entrasse na casa escura para subir as escadas de uma forma tão barulhenta e desesperada que não percebeu quando Rose se aproximou. O homem esbarrou nela, mas nenhum dos dois se machucou ou caiu. Apenas se entreolharam, os dois com os olhos arregalados, até que Raymond segurou a ex-mulher pelos ombros de forma firme ao dizer:

— Eu vim o mais rápido que pude. O que aconteceu?

Ele espirava de forma frenética. Rose não o respondeu de imediato e o escritor a chacoalhou de novo, ansioso.

— O que está fazendo aqui? — parecia assustada. De verdade. — Saia da minha casa!

Ernest estreitou os olhos, confuso. Então os dois começaram a falar ao mesmo tempo. Rose o ameaçava de chamar a polícia, pedia para que saísse, tentava afastá-lo enquanto Raymond queria adentrar o corredor para ver a filha. Ele explicava que aquilo era maior que a droga da ordem de restrição e que ela corria perigo. Nenhum dos dois realmente escutava o outro, e tudo só parou quando a voz fina de Chloe soou pelo corredor:

— Mamãe? O que está acontecendo?

Rose segurava Raymond pela jaqueta. O homem paralisou no momento em que viu a filha em meio à penumbra. Ele se aproximou e ajoelhou à frente da criança. Poderia chorar de alívio naquele momento. Agradeceu em sussurros desconexos pela segurança da filha, e Rose permaneceu em pé, olhando a cena de uma forma assustada. Era claro que achava que Raymond tinha enlouquecido de vez. Ou que estava bêbado. Provavelmente cogitava os dois. Mas o que realmente tornou tudo um caos foi o puxão que fez Ernest se afastar da filha.

O escritor levantou os olhos e, no meio do escuro, viu o rosto de um homem que deveria ter a mesma idade que ele. Então foi jogado contra a grade da escada, só não caindo porque manteve o equilíbrio. Chloe começou a chorar.

7 Psicopatas (COMPLETA ATÉ DIA 25/11)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora