1

12.6K 825 126
                                    

O ardor em meus músculos era bem-vindo enquanto eu girava e cortava pele e músculo.

O talho profundo nas costelas de Colima me fizeram grunhir um sorriso vitorioso.

Ela devolveu meu sorriso girando em seus pés e começando uma sequência rápida de investidas, que eu rebati com certa dificuldade.

Colima era boa. Era a segunda melhor. Eu até podia visualizar a armadura de diamante e a coroa de bronze em seu corpo. Mas ela não poderia ser a rainha.

Ela não era boa mas bastante para ser a melhor. Ela não era boa o bastante para me derrubar.

Como instruído por Kalamhos, qualquer truque, ardil ou ilusão poderia ser usado para vencer. Então após me abaixar de um golpe que deveria ter me decapitado, eu girei em meus calcanhares e dobrei meus joelhos. Enquanto rodava, estiquei minha perna, que encontrou seu lugar atrás dos calcanhares de Colima.

Ela caiu com um baque seco e antes que pudesse levantar, eu apertei a ponta afiada de minha espada de dois gumes em sua garganta, pressionada firmemente contra a jugular.

Aplausos soaram atrás de nós e eu me virei para encarar tanto Kalamhos, nosso instrutor, quanto a rainha Yriana e seu general, Pátacos.

Pátracos aplaudia enquanto eu olhava fixamente para a rainha. Embainhei minha espada num girar de pulso e me levantei, com Colima se juntando a mim.

"Foi uma batalha impressionante, devo dizer. "A voz sinuosa da rainha soou. "Meu amigo Kalamhos me disse que esse grupo era bom, mas não imaginei que era tão bom. "

A rainha sorriu, revelando fileiras de dentes retos e perolados. Seus cabelos brancos como a neve caíam até seu quadril, parando apenas no topo da cabeça para se enroscar na coroa de bronze.

Meus dedos coçaram para segurar o objeto de maior valor público do reino de Vanalius, comparado apenas à armadura de diamante da rainha.

Eu fiz uma reverência para minha rainha, enquanto Colima se ajoelhou.

A rainha fez um estalo com a língua. "Levante-se, jovem, pois as mulheres de Vanalius não se curvam para ninguém." Notei um leve traço de desgosto em seus olhos, mas quando Colima se ergueu, já havia sumido.

"Me diga o nome de vocês. "A rainha disse com um pouco mais de suavidade.

"Anaya Crevelleas, minha senhora. " Eu disse, sem desviar meu meu olhar do dela e sem relaxar a postura.

"Colima Ionescca, Majestade." Colima disse ao meu lado.

Ela se inclinou infimamente em minha direção e eu sabia que ela buscava apoio. Mas com a rainha e o general tão próximos, eu não podia me inclinar de volta.

Naquela competição, a amizade, o amor e sequer a humanidade não vinham em primeiro lugar. Pelos menos não onde as pessoas poderiam ver.

Era uma luta de tigres pelo trono para todos os de fora.

Os três conversaram durante quase meia hora, em voz baixa demais para que nós ouvíssemos. Nem eu nem Colima relaxamos a postura ou conversamos enquanto esperávamos.

A rainha e o general saíram sem se despedir e Kalamhos se virou para nós. "Bom, é a primeira de muitas vezes em que a rainha nos visita em seu treino. Com a escolha e a ascensão tão perto, ela deve começar a observar."

Suas palavras me lembraram de que era dia 18 de junho. A escolha seria no dia 1 de julho, apenas treze dias a partir de hoje.

Um arrepio percorreu minha espinha mas eu não demonstrei nenhuma emoção. Meu rosto era uma máscara fria e controlada, onde as emoções jamais existiam.

Depois de três horas sobre história política e técnicas argumentativas, estávamos finalmente liberadas.

Nós, do quinquagésimo terceiro grupo, dividiamos um quarto imenso na propriedade do castelo.

No quarto em si, tínhamos uma cama para cada. Cada cama tinha dois compartimentos para guardar armas e objetos pessoais.

Nossas roupas estavam no vestiário, em armários largos. Todas as roupas ali eram para treino ou pijama. Não tínhamos lazer e em qualquer evento de gala real, tínhamos vestidos desenhados para aquela noite apenas.

Meu grupo era formado por sete garotas, com idade entre dezoito e vinte e um anos.

Eu tinha dezenove e faria vinte anos em alguns meses, no verão. Colima tinha vinte e um. Antracia tinha vinte, como Nelia. Eribeth tinha dezoito. Deiopeia estava prestes a fazer vinte e dois, enquanto Phiale faria dezenove na véspera da escolha.

Todas nós fomos tiradas de nossas casas e passado por duros testes psicológicos e físicos, com pouca idade. Eu tinha nove quando os batedores chegaram em minha casa.

Me despi no vestiário e entrei rapidamente debaixo do chuveiro morno. Deixei a água lavar a crosta de sangue seco que estava grudada a um corte horizontal em minha coxa, cortesia de Colima .

Lavei meus cabelos suados e me permiti ficar sob a água até que ela esfriasse.

Me enrolei na toalha e tirei do armário meus pijamas. Uma calça justa que ia até o meio da canela e uma blusa de manga curta.

Penteei meus cabelos e os prendi numa trança que descia até minha espinha.

Me olhei no espelho e senti orgulho de mim. Meus cabelos castanhos extremamente escuros iam até o começo da cintura, meus olhos azuis--tão escuros que ficavam pretos quando eu estava com raiva--eram adornados por uma camada de cílios longos e espessos, minha boca carnuda tinha alguns cortes cicatrizando e uma fina cicatriz descia do meu lóbulo ao queixo. Mal podia ser visto quando fora da luz certa.

Eu me parecia um pouco com a minha mãe, embora meus olhos fossem muito mais sérios do que os olhos gentis dela. Eu era muito mais séria, fria e arrogante que minha amável mãe.

Coloquei minhas roupas de treino no saco de roupa suja e andei até minha cama.

Minha espada ainda estava em cima da cama, onde eu a deixara. Era a espada de meu avô, que costumava ser sub-conselheiro de guerra da antiga rainha.

Tirei a lâmina dupla da bainha e vi que ainda tinha sangue na ponta. Peguei um pano e cuidadosamente limpei-a. Peguei também minha pedra e afiei a lâmina até que seu brilho mortal retornasse.

Prendi minha espada na cabeceira da cama, onde eu tinha fácil acesso se precisasse, e devolvi a pedra para minha larga gaveta repleta de armas.

Minhas armas.

Enquanto as outras se revezavam nos chuveiros e se arrumavam para dormir, eu deitei e imaginei como seria quando eu fosse rainha.

Ei gente, nova história, espero que gostem. Vou postar os caps de terça e sexta mas pode ser que poste antes também hahahaha

A Ruína da RainhaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora