epilogue.

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    SoHyun andava a passos largos desafiando a neve e o vento, a carta precisava ser entregue, era seu último desejo, que ele lesse a carta. Entregou a carta ao porteiro do prédio onde ele morava, pedindo para que não tivesse pressa em entrega-la, não era urgente.
    Voltou para casa e dormiu o que acreditava ser a última noite de sua vida.

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    Hoseok recebeu a carta na mesma noite, graças à gentileza do porteiro que sentiu certa tristeza e angústia no tom de voz daquela jovem ao dizer para ele não ter pressa. Quando viu o nome escrito em caligrafia um tanto desleixada no envelope da carta, seu coração acelerou, como se tivesse acabado de correr uma maratona, e ele sentiu vontade de chorar, como a muito tempo não sentia. Leu a carta palavra por palavra, cada memória doía e ele sentia como se o buraco aberto em seu peito se alargasse a cada palavra, a cada memória relembrada. Quando chegou ao meio já estava chorando, chorando tanto quanto chorou ao escrever uma carta para aquela remetente, uma carta cheia de palavras e sentimentos que acabou se tornando apenas um "acabou" rabiscado às pressas e borrado por uma lágrima solitária que havia caído ali. E ficou em pânico ao ler as últimas palavras contidas na carta, que foi entregue às exatas três horas da madrugada. E agora os primeiros raios solares começavam a iluminar o céu de seul, por detrás das nuvens acinzentadas. Correu, correu como um louco, como nunca tinha corrido antes, como se o universo dependesse daquilo assim que conseguiu controlar as lágrimas e perceber que precisava agir rápido, antes que fosse tarde demais.
    Ele sabia o endereço, sempre se manteve informado mesmo à distância, a mãe de SoHyun sempre teve esperança de que eles um dia voltassem, e fornecia informações sobre a filha de bom grado. Esmurrou a porta até os nós dos dedos sangrarem e gritou até perceber que não adiantaria. Passou a mão nos cabelos, em desespero, pensando que poderia ter chegado tarde demais, quase entrando em pânico novamente. Mas ele não podia, precisava salva-la, se ela morresse, ele morreria, não teria mais motivo algum para continuar com a sua vida vazia se ela não existisse mais, precisava dela, precisava saber que ela existia para conseguir viver. Chutou a maçaneta da porta até ela se quebrar e farelos de madeira voarem por todo lado. Subiu correndo a escada que acreditava dar para o quarto. Abriu a primeira porta que viu, mas era o banheiro. Correu até a segunda porta, e a cena que presenciou pareceu tirar todo o ar de seus pulmões.
    SoHyun estava sentada no chão, inconsciente, um frasco suspeito de remédios jogado perto de seu corpo fraco e frágil.
Ele correu, a tomando nos braços e a abraçando como queria fazer desde que foi obrigado a separar-se dela. As lágrimas caindo em seu rosto pálido, tateou os bolsos do casaco procurando o telefone, as lágrimas atrapalhando sua visão, e discou o número da emergência.
    Depois de um pedido de ajuda desesperado ao telefone, carregou o corpo pequeno e fraco da garota que amava até a sala do pequeno apartamento, percebendo sua respiração enfraquecer a cada segundo. A ambulância chegou, ele quase não deixou os paramédicos colocarem-na na maca, não queria se distanciar nem mais um segundo sequer.

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    SoHyun abriu os olhos lentamente, enxergando o teto branco de seu leito hospitalar, seu primeiro pensamento era de que estava no céu, depois lembrou-se de que suicidas não entram no céu, e que se não estava no inferno, não tinha morrido. Levantou a mão direita percebendo uma pulseira com seu nome, e um tubo transparente ligado à sua veia, olhou ao redor, um quarto de hospital. Alguém a tinha socorrido, mas quem?
    Moveu lentamente a cabeça para o lado e viu quem ela menos esperava ver naquele momento: Jung Hoseok. Ele estava sentado em uma poltrona branca dormindo serenamente, a cabeça tombada para o lado. A primeira coisa que conseguiu pensar foi que ele era lindo, e depois se perguntar o que diabos ele estava fazendo ali. Ela já sabia que não estava morta, então ele a salvou? Ele recebeu a carta na mesma hora e correu para salva-la? Era a única explicação. Então ela pensou na mãe, e que tinha sido egoísta, mas ela não seria capaz de entender, ninguém seria. E ela não conseguia mais viver com aquilo dentro dela, destruindo-a lentamente, ela não suportava mais.

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    Hoseok abriu os olhos depois do cochilo mais longo que tivera desde que conseguira salvar SoHyun, há uma semana. Levou três segundos para assimilar o que estava vendo, SoHyun o encarava com um olhar de pura confusão, vê-la de olhos abertos e olhando pra ele foi a melhor visão de sua vida. Ele correu até ela. Segurando seu rosto entre as mãos, dando-lhe um selinho demorado, e impensado. Ela arregalou os olhos, e ele sorriu. Estava feliz, como não se sentia a muito tempo. Ela estava viva, estava bem, nada mais importava.

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    SoHyun ainda estava em choque depois do beijo, como se o beijo tivesse energizado seu corpo enfraquecido. Ela se sentiu feliz, verdadeiramente feliz. Feliz por estar viva.

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    Hoseok estava ciente de que ia ter problemas quando voltasse das férias que pediu da empresa e que ia ter mais problemas ainda quando revelasse a Deus e ao mundo que estava com SoHyun e que não ia deixa-la, por nada nesse mundo, mas ele estava disposto a correr os riscos e assumir as consequências, dessa vez ele não sairia do lado dela, por nada no universo. Era isso que passava em sua cabeça enquanto ela dormia no sofá, aninhada ao seu corpo. Ele nunca mais queria sair dali, daquele sofá e do lado dela, a mulher que ele amava, que sempre ia amar, e com quem queria passar o resto dos seus dias, enquanto eles estivessem juntos, nada mais importava, ele estaria bem. Não queria mais a vida vazia que levava sem ela, agora ele se sentia completo, de novo, para todo o sempre.

perfect to me;; junghoseokWhere stories live. Discover now