C A P Í T U L O 42

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          Receosa e hesitante, com a mão fechada, a levei até a dela. Avigayil virou o meu pulso para cima e subiu a manga rendada, deixando minha pele exposta. Então, virou-se para o Anton com o mesmo gesto.

          ― Sua mão esquerda, Anton. ― Em vez de levar a mão até a dela, ele rapidamente subiu a manga do paletó, e abriu o punho da camisa, dobrando-o para cima. Avigayil soltou uma risada, e ainda olhando para ele, continuou: ― Você fará a abertura do contrato com o seu sangue, e você ― voltou-se para mim ―, com a sua luz. Coloque a sua mão sobre ele, e projete a sua energia.

          Eu já havia feito isso, então não foi difícil. Fiz o que me fora pedido, já o Anton, mordeu o pulso e o colocou por cima do Contrato permitindo que algumas gotas de sangue caíssem sobre ele. No mesmo instante, um vento tempestuoso soprou e envolveu nossos corpos, nos tornando o centro de um vórtice enquanto letras negras, sólidas, começaram a se revelar no pergaminho, e acima delas, flutuando no ar, letras douradas passaram a cintilar o igual inscrito.

          ― Virem-se um para o outro, e deem as mãos ― ordenou ela.

          Nos viramos, ele, sério demais, e eu, me condenando por não conseguir abandonar seus olhos álgidos. Anton levantou as duas mãos e eu levei as minhas de encontro as dele. No instante em que nos tocamos, a lua sumiu, e o céu escureceu. O redemoinho à nossa volta se expandiu, e todas as velas foram apagadas antes que ele cessasse.

          O silêncio, o vazio, e a escuridão nos abraçou.

          Por um segundo senti um medo inexplicável de ficar sozinha, medo de que ele soltasse a minha mão. Creio que até cheguei a tremer por isso, mas ao contrário dos meus medos, Anton me segurou mais forte, e à medida que eu o agarrava com a mesma intensidade, pequenos raios surgiam no horizonte, e logo se tornaram tão grandes que passaram a cortar o céu inteiro, de um lado a outro, até que em poucos segundos se concentraram sobre nós.

          O vento voltou ainda mais impetuoso, nos cercou e me empurrou para cima do Anton. Quando a tempestade que vinha do céu, se juntou à terra, fazendo-a tremer, segui o meu instinto e passei o meu braço ao seu redor, e ele não demorou para me abraçar firme contra o seu corpo.

          Os raios nos circundavam entremeio a um redemoinho revolto, em uma dança que trouxera a chuva em sua forma mais violenta. Comecei a sentir algo apertando as minhas pernas por cima do vestido, que logo passou a rastejar pelo meu corpo, subindo e se espalhando aos poucos para os meus quadris, costas e cabeça. Eram tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, que só quando esse algo chegou aos ombros do Anton, que percebi ser ramificações, as quais subiam da terra nos enlaçando e nos unindo.

          Aumentando a pressão dos meus braços à sua volta, fechei os olhos e apoiei minha cabeça em seu peito, enquanto ele encostava a sua na minha, ao passo que sentíamos os ramos nos cobrirem. Apesar de saber que o céu estava desabando e o chão se abrindo, eu nunca me senti tão segura. Afundei o meu nariz nele, inspirando o seu perfume, aproveitando cada contato e cada sensação que ele me provocava.

          Não tinha ideia de quanto tempo permanecemos daquele jeito, mas somente quando senti o aperto de nossos corpos se desfazer, que ousei abrir os olhos e encarar o que restava à nossa volta. Para a minha surpresa, estávamos embalados em uma enorme bolha de luz dourada, que se expandia através do meu corpo.

          Aos poucos a luz foi diminuindo até desaparecer. Não havia mais raios, não havia vento ou chuva. No céu negro a lua reapareceu, e no chão as velas se reacenderam. Não havia nenhum sinal do caos que passara por ali, nem roupas molhadas, nem terra revirada.

Contrato de DestinoWhere stories live. Discover now